Divulgação Valesuchi

Única mulher presente no lineup do Sónar SP, Valesuchi chega no Brasil pela primeira vez em novembro para se apresentar no festival, que rola de 24 a 28 de novembro em São Paulo. Ela traz na bagagem a experiência de ter tocado na edição catalã do Sónar, em Barcelona, além te ter passado recentemente pela Red Bull Music Academy, em Tóquio.

Valesuchi faz um som obscuro, muito dedicado aos sintetizadores – são músicas que flertam com a EBM e com a deephouse detroitiana, que servem tanto para as pistas como para serem ouvidas no íntimo do seu quarto. A coisa é fina mesmo. Sente só:

Diretamente do Chile – e com direito a um terremoto bem no meio da ligação telefônica -, a DJ trocou uma ideia com o Virgula sobre a situação das festas no país, a representatividade das mulheres na música eletrônica e, claro, sobre as expectativas dela em tocar pela primeira vez em terras brasucas. Vem ver:

Nicolás Xavier Acuña Valesuchi

Virgula – Existe uma certa opressão às festas no Chile, com limites de horário e proibição de bebidas alcoólicas nas ruas. Como a cena eletrônica do Chile sobrevive a esse ambiente hostil?

Valesuchi – Eu estive sempre mais ligada a uma cena mais underground, de festas clandestinas ou de alguma forma ilegais. Mas, claro, no Chile só se tem permissão para beber na rua no dia do ano novo e nas Fiestas Patrias [que celebram a independência do Chile], e os clubes fecham lá pelas 5 da manhã. A questão principal é que no Chile não se tem muitos lugares para tocar. Há pouco espaço para festas pequenas de tipos diferentes, em geral as pessoas estão muito mais envolvidas com outro tipo de música e não com a música eletrônica.

Mas como funciona esse esquema das festas ilegais?

Em geral, nas que eu tenho participado, são pessoas que alugam espaços no centro de Santiago que são um restaurante de dia, por exemplo, porque eles já têm permissão para vender bebidas alcoólicas e podem vender também de noite. Tem também as que se fazem em clubes que não têm essa permissão, aí se diz que está acontecendo uma festa privada. Mesmo assim se cobra entrada, se vende bebida, tem muitos DJs e muita gente. Acho que isso sempre existiu de alguma forma no Chile, desde a época da ditadura que tinha os toques de retirada, que proibiam as pessoas de saírem de casa depois da meia-noite até as 7 da manhã. As pessoas passavam muito tempo na clandestinidade fazendo festas. É difícil, mas sempre tem gente resistindo e criando cenas.

Reprodução/Facebook Valesuchi no Sónar em Barcelona

Recentemente você esteve em Tóquio, no Japão, e também no Sónar de Barcelona. A reação do público de lá é diferente da do público chileno?

Na verdade não sei se é tão diferente… O que eu senti foi que nesses lugares tinham coisas novas com que eu podia contribuir. Para os europeus – e olha que eu sou chilena, que acho que é o país menos latino da América Latina – o meu approach era muito, muito latino. A minha forma de misturar, o tipo de coisas que eu gostava de tocar. Mas pra eles não importava onde eu tinha tocado antes, importava escutar o que eu estava tocando. Aqui no Chile o comentário que fazem pra mim quando vou em alguma festa é “uau, Valen, que famosa você está!”, e não “que bom estava o seu set do Sónar, escutei ele na internet.”

Eu queria saber, também, se você acha que é mais difícil para uma mulher seguir a carreira de DJ.

No mundo em geral é difícil para nós mulheres termos uma carreira que não seja alinhada com o nosso gênero no mercado de trabalho, sobretudo na América Latina. Na Europa talvez isso seja melhor discutido, mas pelo menos no Chile as pessoas são muito machistas, muito homofóbicas. É muito violento isso. Na música eletrônica eu não tenho tido muitos problemas, nunca fui discriminada e nem me trataram mal… Mas não posso te dizer nem um sim redondo e nem um não redondo. Acho que trabalhar nessa cena é tão difícil quanto em qualquer outro ambiente de trabalho, porque sempre importa que uma seja mais bonita que a outra, que seja mais peituda que a outra…

Yusaku Aoki Valesuchi

Agora, você tem algum tipo de relação com a cena eletrônica do Brasil? Quer dizer, você conhece algum DJ ou produtor brasileiro?

Sim! Tive a honra de conhecer em Tóquio o Daniel Limaverde, que é do Rio de Janeiro, e o Pedro Zopelar, de São Paulo. Fico muito feliz por poder compartilhar outro cenário com o Pedro agora no Sónar no Brasil. Entendi bastante da estética com a que ele está trabalhando, espero que a gente ainda possa trabalhar juntos um dia.

E como está a sua empolgação para tocar no Brasil?

Estou muito, muito, muito feliz! É a primeira vez que saio de Santiago para tocar em outro país da América Latina. O que acho incrível no Brasil é a relação da música com o corpo, com as festas, me emociona muito a ideia de tocar no Brasil.

SERVIÇO

Valeschi no Sónar SP 2015

Quando: 28 de novembro

Onde: Espaço das Américas, em São Paulo

Ingressos e infos: http://sonarsaopaulo.com.br/pt/2015/

Novidade: a meia-entrada social garante o desconto de 50% no valor do ingresso para todos que doarem um livro em bom estado na porta do evento. O material doado será distribuído a uma instituição beneficente focada em educação e cultura da cidade de São Paulo.

Pra ir aquecendo, vem sentir como foi a edição 2015 do Sónar lá em Barcelona:

Sónar Festival 2015 - Dia 1


Créditos: Reprodução/Facebook

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Conversamos com Valesuchi, a chilena que vai fazer o Sónar SP tremer como um terremoto

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