Em 1958, quase nada era como é hoje no país. O Brasil só tinha vencido uma Copa do Mundo, e a televisão ainda era uma novidade. Não existia biquini, nem computador. Nem CD ou DJ.

Não existia até que o ainda garoto Oswaldo Pereira, trabalhador honesto de uma loja de discos e aparelhos de som de alta fidelidade localizada no coração da capital paulista, discotecou em sua primeira domingueira no tradicional edifício Martinelli.

Até então, os bailes da cidade eram animados pelas várias orquestras e Big Bands que tratavam de colocar todo mundo para dançar. “Depois das domingueiras, o pessoal começou a me convidar pra fazer bailes que iam das dez às quatro da manhã, na Avenida Rio Branco”, relembra seu Oswaldo. “Comecei
a fazer casamentos, aniversários e piqueniques, o que o pessoal chama de rave
agora.”

Surgia então a Orquestra Invisível. Sob a batuta do comandante Oswaldo Pereira e seu equipamento de “música mecânica”.

“O pessoal começou a ver que dava pra montar um grupo de 4 ou 5 pessoas para fazer uma festa. Você só precisava de um nome, de um salão e soltar as circulares. Ai a festa já estava montada”. Só um momento Seu Oswaldo. Circulares? “Era como nós chamavamos os flyers. Eram as nossas propagandas.”

As Pick-Ups

E aí Seu Oswaldo? E o equipamento da Orquestra Invisível?

“É, fui eu mesmo quem montei. O salão da domingueira eram duas salas do Martinelli, então não era difícil de fazer o som ambiente”, conta o DJ.
“Com o tempo eu consegui montar um equipamento que era compatível com qualquer salão”, explica o veterano.

“Era uma vitrola só mesmo”, contina seu Oswaldo. “Esses dias mesmo eu conversei com o Patife, e ele contou que também começou com uma vitrola só. Naquele tempo ter duas era muito caro. É só uma questão de prática”, diz.

Ontem e Hoje

No meio do(tirar) olho do furacão do novo milênio, com internet, Ipod e fone de ouvido, a relação das pessoas com a música mudou. Antes a música estava nos
bailes. Agora ela também está no bolso.

Seu Oswaldo vê como natural essa mudança: “Na verdade a evolução vêm com essas coisas inevitáveis. Acho que agora tem muitas coisas novas para serem apreciadas. Mas a coletiviade que nós tinhamos nos anos 60 e 70 ainda continua. Mas a música já atinge um universo muito maior do que antigamente”, acredita.

Os discos também eram complicados de achar nas terras tupiniquins. Mas seu Oswaldo arrumou uma solução. “Eu tive a felicidade de trabalhar em uma loja que montava rádios e vendia discos”, ele conta. “Eu podia selecionar os que eu queria e comprava a preço de custo”, completa.

O Coração do DJ bate junto com a música

O DJ Oswaldo agitou muitos bailes pela cidade nesses 50 anos. Tocou no 325, do Bom Retiro, no Salão dos Armênos, na Av. Tiradentes, no Aleto, da avenida Paulista, no Maison Suisse, da Caio Prado, e até no Centro dos Metalúrgicos, na rua do Carmo.

Ele acredita que para ser um bom DJ você precisa saber o que as pessoas querem dançar. Mas e em casa? O que é que o maestro da Orquestra Invisível escuta no conforto do lar?

“Em casa eu escuto uma variação maior de música. Gosto muito de música clássica. Acho muito bonito”, diz. Compositor favorito? “Mozart e Beethoven”, dispara seu Osvaldo.

A paixão pela música erudita veio ainda dos tempos da loja de som. “A clientela da loja era formada por um pessoal dos Jardins. Eles traziam muitos discos de música clássica pra cá”, lembra.

Os Favoritos

“Em 62, eu já tocava até bolero”, ri. “Tocava muito samba, samba-canção, bolero, cha-cha-chá, rumba e suíngue, que hoje é chamado de rock”, lista.

Futuro

Seu Oswaldo tem planos de voltar a discotecar. “Nada semanal. A idéia é organizar umas três festas por ano. Assim temos tempo de nos organizarmos e fazer um grande baile”, adianta.

Agora ele tem a companhia dos dois filhos. O primogênito Tadeu e o caçula Dinho herdaram do pai o amor pela música e pela discotecagem.

Cinquenta anos depois de ter começado, seus LPs já deram muitas e muitas voltas, assim como as platéias que tiveram a sorte de ver essa grande figura comandando as pick-ups.

Pra fechar, uma frase que resume todo o sentimento por trás do homem que deu o pontapé inicial na discotecagem no Brasil. “A música é uma arte. Ela nos eleva.
Não importa se é nacional ou internacional, a música bonita não tem pátria”, ensina o sábio DJ.

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Confira o disco clássico da semana.


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