Art-rock brasileiro. Talvez essa seja uma possível definição para o Porcas Borboletas. Há 14 anos na estrada, o grupo formado em Uberlândia e radicado em São Paulo lança seu terceiro álbum nesta quarta-feira (26) no Sesc Santana.

“A diversidade dessas classificações sempre nos divertiu muito. Porque ser meio inclassificável é meio ter cara própria, mesmo se parecendo com uma ou outra coisa aqui ou ali. Tem uma definição que é nossa mesmo, e parece resumir bem a história: sem rótulos, mas com logotipo”, afirma Enzo Banzo em entrevista ao Virgula Música.

O novo trabalho do grupo traz doze fai­xas iné­di­tas e auto­rais, além de Only Life, um poema musi­cado de Paulo LeminskiWellington, ver­são rock para uma can­ção da banda de punk-rock uber­lan­dense Dead Smurfs e Aninha, par­ce­ria com o dan­ça­rino Wagner Schwartz.

Helio Flanders, do Vanguart, que assina o texto de divulgação do álbum como “fã confesso”, elogia a capacidade da banda de trafegar entre os climas tristes e felizes. “A grande sacada que faz o Porcas tão ímpar é que quando o clima começa a pesar, musical ou poeticamente, eles vem com algo mais certeiro ainda”, afirma.

Em seguida o músico experimenta sua própria definição do Porcas, como parece inevitável para quem tenta explicá-lo. “A última canção mostra exatamente isso: coloquial e brilhante, Infelizmente, assim como todo o álbum, traz uma eterna confusão de risadas e lágrimas, essa combinação que pode se dizer ser a melhor de toda a vida, essa poética que após esse álbum se torna praticamente um patrimônio dos Porcas Borboletas… riso e choro, sorriso em lágrima, ou em outras palavras, festa-terror”.

Veja o Porcas Borboletas em Nome Próprio, clipe de Murilo Salles, com Leandra Leal

A banda for­mada por Vi (bate­ria), Chelo (baixo), Ricardim (baru­lhos), Moita (gui­tarra e voz), Banzo (voz e vio­lão) e Danislau (voz) é a síntese do que o Jethro Tull cantou em 76 com Too Old To Rock ´n´ Roll, Too Young to Die (velho demais para o rock, novo demais para morrer). No caso do Porcas, no entanto, eles não alcançaram a crise da meia idade, mas o som ficou grande demais para ser tratado como mais uma banda indie em algum lugar entre o rock e a MPB.

Em tempos de música digital, nem sempre é fácil encontrar seu público e se manter-se guiado pela lógica da arte, da liberdade e nada mais. Mas se houve espaço para nomes como Itamar Assumpção, Caetano Veloso, Tom Zé, Arrigo Barnabé, Gilberto Gil, artistas cujos vinis a banda ouvia nos tempos de garagem, porque não haveria para o Porcas? Leia a entrevista a seguir:

Enzo Banzo – O que mudou no som, nas expectativas e nos discos desde que a banda começou há 14 anos?

Mudou praticamente tudo. E praticamente nada. Tudo porque a sonoridade e a visão que cada um tem da banda é totalmente diferente do início. Quando começamos, a gente nem queria ser uma banda. Era uma curtição entre amigos. E hoje ainda é uma curtição entre amigos e nisso não mudou nada. 

Mas o Porcas virou projeto de vida de todo mundo, e já é assim há um bom tempo. Nesse processo todo, o som passou por muitas transformações.

No início não tinha nem baixo e batera. No primeiro disco, já com formação de sexteto, ainda havia muito da nossa proposta estética inicial. O segundo já é pensado todo como sexteto mesmo, é um disco em que dá pra sacar bem a linguagem de cada um dentro do conjunto. 

Esse que lançamos agora, que não por acaso leva somente o nome da banda, é uma espécie de síntese de tudo isso. Um disco que apresenta um amadurecimento musical e uma unidade de visão de mundo: sempre um cara alucinado diante da perplexidade da vida. Como a gente é mesmo.

O som de vocês é difícil de classificar. Qual foi a melhor definição que leu a respeito de si próprios?

A diversidade dessas classificações sempre nos divertiu muito. Porque ser meio inclassificável é meio ter cara própria, mesmo se parecendo com uma ou outra coisa aqui ou ali. Tem uma definição que é nossa mesmo, e parece resumir bem a história: sem rótulos, mas com logotipo.

Que momento considera o ponto alto da banda até aqui? 

Acho que o artista sempre acredita que seu ponto atual é seu ponto mais alto. Pensando no nosso som, pra nós, se há um ponto alto, ele é agora, porque é a soma de tudo que vivemos até aqui. Esse disco que lançamos agora representa isso pra gente. Se não tivermos a mesma sensação com um próximo trabalho, ele não vai ter porque acontecer.

Porcas Borboletas, A Passeio, clipe de Ricardim

De que maneira ter surgido em Uberlândia foi positivo para fazer um som único?

Penso que todo mundo carrega sua história no seu som. Já ouvimos de pessoas que respeitamos muito que o nosso som só é o que é porque não estávamos, por exemplo, em São Paulo. Mas já teve quem dissesse que somos uma banda mineira um tanto quanto paulistana.

É difícil ver essas coisas de dentro, mas o momento em que nos conhecemos em Uberlândia, na universidade, deslumbrados com discos de vinil, com Itamar, Caetano, Tom Zé, Arrigo, Gil, desenvolvendo assim uma visão estética em comum, foi determinante pro que a gente faz. 

Assim como nossa infância no interior de Minas Gerais, vendo Titãs no programa do Chacrinha. Se nossa história fosse outra, o som certamente seria outro também.

O que é mais gratificante no caminho da música?

Tem muita coisa gratificante no caminho da música. Sem demagogia, o público é a maior delas. Há descobertas que as pessoas fazem nas músicas, de coisas que a gente mesmo não sabia que estavam ali. A identificação que alguém tem com essa ou aquela faixa, o impacto que uma música tem na vida dessa pessoa, é algo quase assustador. 

A gente sabe o que uma música faz na vida de uma pessoa, porque passamos por isso com o que a gente ouve. Fazer música e ser isso na vida das pessoas é algo muito louco que podemos chamar, sim, de gratificante.

Serviço

Porcas Borboletas – Lançamento de Porcas Borboletas

Quando: quarta (26/06), às 21h

Sesc Santana, Av. Luiz Dumont Villares, 579 – Jd. São Paulo.

Teatro. Classificação indi­ca­tiva: 12 anos

Ingressos: De R$ 4 a 16.

Telefone para infor­ma­ções: (11) 2971–8700.

Ouça Porcas Borboletas

Site da banda: http://www.porcasborboletas.com.br


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Com poema de Leminski musicado, Porcas Borboletas trilha caminho do art-rock