Segundo show de Paul McCartney no Morumbi, em São Paulo


Créditos: Marcos Hermes

Ninguém parecia ligar pra chuva que caía até o início da segunda apresentação de Paul McCartney no estádio do Morumbi em São Paulo – show que invadiu a madrugada desta terça-feira, aliás. Lá fora, um mar de cambistas tentava empurrar capuchas por até R$ 10 pra quem amargava na enorme fila pra entrar. Do lado de dentro, apesar do empurra-empurra pra conseguir um lugar ao sol (ou melhor, à chuva) na pista comum, cuja dimensão foi drasticamente reduzida pelo puxadinho vip da Pista Premium, o clima era de total comunhão. Afinal, não é todo dia que se é invadido pelo espírito apaziguador que é estar na presença de um Beatle.

O show começou com Magical Mistery Tour, já deixando a massa em ebulição. A primeira comunicação de sir Paul com o público, um “Tudo bem in the rain?” ao microfone, demonstrou o espírito de um cara que aos 68 anos já conquistou tudo na vida, mas parece longe de ter aquele atitude blasé dos que não mais se emocionam com coisas menores, dos reles mortais – como a chuva que teimava em pulverizar o estádio.

Vips, celebridades, quarentões se abraçando, mães carregando filhos no colo, corinthianos, caravanas da terceira idade, adolescentes coloridos. Fazia tempo que eu não via uma reunião de perfis tão ecléticos num show. O Morumbi ontem era uma festa para os olhos, no palco, na arquiba, na pista e nas cadeiras.

Usando um terno lilás bem justinho, Paul fez aquele show ensaiado que todo mundo esperava, inclusive repetindo as mesmas frases em português que exibiu nos dois shows anteriores (um em São Paulo, outro em Porto Alegre). Mas quem se importa, se aquelas bochechas rosadas e um tanto caídas de lorde inglês passam uma sinceridade de quem está tocando porque ama o que faz e não saberia viver sem aquilo.

Pra mim a terra tremeu quando a banda puxou Band On The Run, uma das músicas mais doidonas do rock pós-Beatles. Na verdade, é de Paul & The Wings, grupo que tinha Linda McCartney na formação, mas eu não estou aqui pra vomitar conhecimentos roqueiros de Wikipedia. 

O show começou atrasado, por volta das dez, e lá pela meia-noite e meia dava pra sentir que ainda vinha muita música pela frente. Já tinha me deleitado com joias dos Beatles, da carreira solo de Paul e, pra mim, àquela altura, era mais importante dar um olé nos meus 64 mil companheiros de show e me enfiar num táxi a caminho de casa antes do cerrar das cortinas.

Já do lado de fora do Morumbi, ouvi Day Tripper, com uma ponta de arrependimento por ter saído. E, com as pernas cansadas depois de quatro horas em pé, pensei que não era à toa que havia ali 64 mil pessoas debaixo de chuva, em plena madrugada de segundona: ver uma espetáculo desses é uma oportunidade que não bate todo dia à sua porta. Só espero que de uma próxima vez ele não demore 20 anos pra voltar. 

SETLIST:

MAGICAL MYSTERY TOUR

JET

ALL MY LOVING

LETTING GO

GO TO GET YOU INTO MY LIFE

HIGHWAY

LET ME ROLL IT

LONG AND WINDING ROAD

1985

LET ME IN

MY LOVE

I’M LOOKING THROUGH YOU

TWO OF US

BLACKBIRD

HERE TODAY

BLUEBIRD

DANCE TONIGHT

MRS VANDERBLIT

ELEANOR RIGBY

SOMETHING

SING THE CHANGES

BAND ON THE RUN

OBLA DI OBLA DA

BACK IN THE USSR

I GOTTA FEELING

PAPERBACK WRITTER

A DAY IN THE LIFE

LET IT BE

LIVE AND LET DIE

HEY JUDE

BIS 1

DAY TRIPPER

LADY MADONNA

GET BACK

BIS 2

YESTERDAY

HELTER SKELTER

SGT. PEPPER


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Com folego de garoto, Paul McCartney encanta Morumbi mais uma vez