Caetano e sua vitalidade invejável. Em turnê desde março, quando fez a estreia do show Abraçaço, no Rio, o músico de 70 anos está na estrada, com a energia de garoto, há cinco meses sem demosntrar sinais de cansaço. Foi com essa vontade de continuar a fazer música que Caetano fez mais um excelente show, na noite deste sábado (24), no Espaço das Américas, em São Paulo.
Com a casa cheia, poucas eram as mesas vazias, e a presença de famosos como Gal Costa, Emicida e Tom Zé, o músico baiano – que poderia muito bem estar desfrutando de sua fama e do reconhecimento de sua obra em uma ilha paradisíaca oceano índico – abriu o show com a excelente A Bossa Nova É Foda. Com um perceptível bom humor, que não mudou nem com o problema no som que se arrastou pelas três primeiras músicas, ele era apenas sorrisos e corridas pelos palco com o violão em mãos.
Acompanhado pela banda Cê, formada por Pedro Sá (guitarra), Ricardo Dias Gomes (baixo) e Marcelo Callado (bateria) – todos com menos da metade da idade de Caetano – o cantor foi classificado como ‘moderninho’ pela mídia especializada ao laçar o primeiro álbum da trilogia – formada por Cê (2006), Zii e Zie (2009), e Abraçaço (2013), com uma banda de rock. Sete anos se passaram e a certeza de que a junção de Caetano aos ‘jovens’ músicos não foi uma tentativa desesperada de rejuvenescer sua obra, mas uma acertada parceria que resultou em um relevante material.
A performance ao vivo comprava que o filho de Dona Canô ainda tem muita lenha para queimar. A confessional e clássico instantâneo Estou Triste vale o ingresso. Mas, felizmente, ainda há muito pela frente. Em Homem, canção em que descreve a inveja pelo múltiplos orgasmos femininos, Caetano corre pelo palco, faz gestos obscenos com as mãos e termina a encenação exuasto, deitado no chão e coberto pelos aplausos do público.
Das 11 faixas de Abraçaço, dez estão no repertório do show. Trabalho difícil até mesmo para alguém como o experiente músico, mas, ao contrário do que pode-se pensar, as canções estavam todas na ponta da língua do público. Em Um Comunista, são claros os gritos de ‘Marighella vive!’, vindos da plateia. Já em O Império da Lei, as conhecidas palmas descompassadas ‘marcam’ o ritmo, enquanto o refrão é reproduzido na íntegra pelos atentos fãs.
Mas não só de novidades é feito o show. Clássicos como Triste Bahia, Eclipse Oculto e Reconvexo – com destaque para a competente banca Cê acelera e desacelera o compasso sempre de forma coesa – também estão no set-list. O deferencial desta apresentação ficou por conta do problema na luz – ou não – assim que Caetano terminou de desabotoar sua camisa. Enquanto cantava De Noite Na Cama, ele foi abrindo os botões lentamente e quando finalmente ia tirar a camisa, o holofote que o iluminava misteriosamente se apagou.
Assim que a canção terminou, e Caetano ainda estava literalmente no escuro, o músico falou pela primeira – e única – vez com o público: “mas que censura é essa?”, questionou. “Gabriel, meu filho, o que aconteceu?”, perguntou ao encarregado pela luz. A iluminação só foi reestabelecida na metade de Você Não Entende Nada, a última antes do bis.
As escolhidas para fechar a apresentação foram Um Índio, Tieta e Outro. Caetano despediu-se de São Paulo, sem muitas palavras, mas com apertos de mãos calorosos que deu aos fãs que burlaram a segurança e estavam em frente ao palco. Caetano Veloso dançou, cantou, tocou violão, vibrou e contagiou. É fato, que a banda, o cantor, e o público deixaram o show todos sentindo-se abraçados.