Para não dizerem, que estou embarcando em alguma de caças as bruxas, para mostrar que o fiasco brasileiro já estava sendo diagnosticado há um bom tempo por mim e por muitas pessoas, vou transcrever na integra, a entrevista que dei ao Casagrande em sua coluna no Diário de São Paulo, no dia 03/06:

Casagrande – Oi Nasi, vamos falar hoje…

Nasi – Vamos direto ao ponto, Casão. No final, tiveram de engolir dois do São Paulo na seleção: Mineiro e Rogério Ceni, Deus apontou para eles e decretou: estão dentro.

Casagrande – Você bateu bumbo para arrumar vaga para o Mineiro?

Nasi – Confesso que bati bumbo, sim. O Mineiro é um jogador excepcional. Ele joga por três, mas é quieto, não é afeito a entrevistas bombásticas, nem se destaca por provocar adversários. Só faz o trabalho dele e volta pra casa. Não tem marketing nenhum. O que você acha dele, Casão?

Casagrande – Para mim, o Mineiro já deveria ter sido convocado entre os 23 da lista inicial. Em vez de levar Cris, que não inspira confiança, o Parreira poderia ter chamado o Edmílson como zagueiro. Aí sobraria uma vaga.

Nasi – Pois é, Casão, mas o Parreira é muito ortodoxo, careta. Outra dia, numa conversa com o Hugo Georgetti (cineasta) e o Tom Zé (compositor), concordamos que não dá para comprar a paixão pela seleção com a que sentimos pelo clube. Não só por causa dos pontos de referência, das memórias afetivas, das situações familiares proporcionadas pelo clube, mas também porque seleção envolve tanta politicagem… E depende muito do técnico: a gente tem de gostar dele para curtir o time.

Casagrande – Pois eu gosto do Parreira, Nasi. A minha única critica é por ele ser conservador e previsível. Mas também tem méritos: ele deixa o ambiente tranqüilo, sem brigas.

Nasi – Eu concordo Casa.É até difícil criticar o Parreira por ser um sujeito correto. Mas sinto que lhe falta aquela coisa intuitiva, uma visão mais aguda. O Felipão, por exemplo, teve a sacada de adotar o esquema 3-5-2, sempre polêmico para o futebol brasileiro, com o que resolveu a seleção na Copa de 2002.

Casagrande – Mas havia alternância, pois muitas vezes o Edmílson saía da posição se zagueiro e se tornava mais um volante.

Nasi – Agora, por exemplo, muitas vezes a gente vê o Ronaldinho Gaúcho jogando de forma burocrática na seleção.

Casagrande – Mas será que não é o próprio cara que se prense um pouco quando põe a camisa da seleção, Nasi? O Parreira não é mentiroso, e ele sempre diz que dá liberdade para o Ronaldinho.

Nasi – É, pode ser, Casão. Agora vou levantar uma polêmica: esses testes de seleção na Europa são brincadeira. Não dá para ter uma noção real ao enfrentar um time juvenil (a equipe dos sub-20 do Fluminense) e um combinado de Lucerna, com jogadores da Segunda Divisão da Suíça. São adversários para jogar o Rockgol (programa da MTV).
Gostaria que fizéssemos como a Alemanha que pegou o Japão em um jogo duro, com empate em 2 a 2.

Casagrande – Até tem esse lado, mas eu discordo um pouco de você. Um teste legal é a Nova Zelândia (amanhã), por ser concorrente tradicional da Austrália, que enfrentaremos na Copa. É preciso tomar um certo cuidado com os amistosos. Imagina se o Brasil perde da China, por exemplo. Cai o mundo…

Nasi – Eu acho, Casão, que o time tem de saber reagir e superar as adversidades.

Casagrande – E a pressão da imprensa?

Nasi – São jogadores experientes, e isso faz parte do jogo.

Casagrande – Se você recebe uma critica negativa, após um ensaio do Ira!, isso não te deixa inseguro para a estréia do show?

Nasi – Quando eu era juvenil, sim (risos…). Mas agora isso só me estimula a fazer um show ainda melhor. Eu concordo com o um comentário que ouvi do Tostão: estão faltando problemas para o time do Brasil. Isso tira um pouco o foco das dificuldades que virão.

Casagrande – Isso é verdade, até a crise que surgiu agora é ridícula: a ida de alguns jogadores a uma boate no dia de folga.

Nasi – Qual o problema nisso?

Casagrande – Claro que nenhum, Nasi. Só
deu polêmica porque tentaram esconder o fato. Na Copa de 86, no México, eu fui fotografado sem camisa com uma latinha de cerveja na mão em um show do Alceu Valença, no Circo Voador. No dia seguinte, o Tim (Gilberto Tim, preparador físico) jogou todos os jornais em cima da mesa e olhou pra mim. Mas eu não havia chegado atrasado, nem alcoolizado. Não devia nada a ninguém, e o próprioNabi (abi Chedid, então presidente da CBF) disse que estava tudo bem.

Nasi – Sabe o que me preocupa mesmo, Casão? É o Dida.

Casagrande – Vai bater bumbo de novo?

Nasi – Eu bati pelo Mineiro, mas ainda falta ele virar titular no lugar do Emerson. Quanto ao Rogério Ceni, talvez nem preciso do bumbo. O cara tem estrela, e tá na cara que vai acontecer algo para ele jogar a Copa. Ah! Outra coisa: não gosto de dois centroavantes, e o Robinho precisa entrar no time… O Ronaldo não tem jogado com o nome, Casa?

Casagrande – Ah! Chega de me entrevistar, Nasi. E de fazer revolução…

Nasi – Tá certo, Casão… (risos).

E ele ainda comentou: Gostei principalmente das marolas levantadas pelo Nasi. Numa época em que quase não se ouvem vozes dissonantes, ele botou o dedo nas feridas. Na saída do restaurante ainda teve tempo para contestar Roberto Carlos: “Ele não está jogando nada, botaram o cara lá só pra bater faltas?”, disse.

Por que damos tanta importância ao futebol? Por que perdemos tempo discutindo posturas de celebridades, que deviam ser antes de tudo, atletas, mas não passam de garotos propaganda? Porque o fiasco do Brasil na Copa reflete os fiascos do Brasil no dia a dia. Exemplo: o problema da nossa reforma agrária é o mesmo dos latifundiários que temos nas laterais, a crise de segurança publica, é a mesma de falta de comando do incompetente Parreira, e nossos problemas econômicos, são como o péssimo gerenciamento e corrupção que envolve há anos a CBF.
Não tenho muita esperança que por hora esse ou aquele treinador vá resolver essa falta de comprometimento, concentração esportiva e planejamento de nossas futuras seleções, pois mudam-se as moscas, mas o cocô é o mesmo. Assim como Brasil, que pode mudar de governo nas eleições, mas sempre vai tropeçar em um ESTADO BUROCRÁTICO, CORRUPTO E OBSOLETO. AH! SE OS BRASILEIROS SE INDIGNASSEM COM O PAÍS COMO SE REVOLTA COM A SELEÇÃO.


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Coluna do Nasi - Entrevista cedida ao Casagrande sobre a Copa

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