De BaianaSystem e Thiago França a Elza Soares, a lista de grandes nomes da música brasileira contemporânea que gravaram no Red Bull Studios cresce como fermento. A convite do Mental Abstrato, que encerrou na semana passada os registros do seu segundo álbum, a lendária Claudia, do hit Deixa eu Dizer, deixou sua voz por lá. O trombone mágico de Bocato, músico que tocou com Elis Regina, também foi eternizado.
Com o trio de produtores e músicos na linha de frente, Omig One (programações e percussão), Calmão Tranquis (programações) e Guimas Bass (baixo e bateria), o Mental recebeu ainda Karla da Silva, Sintia Piccin, Bocato, Rodrigo Brandão, Thiago Duar, Marcelo Monteiro, Beto Montag, Richard Firmino, André Juarez, Marcelo Castilha e Gil Duarte. Erica Dee, do Canadá, e Ozzymore, dos Estados Unidos, também participam do disco.
“A gente se conheceu por causa do lance de samplear jazz. Um amigo em comum já conhecia o Omig e ele falou, man, tem um cara que faz rap com jazz que nem você, eu falei beleza, foi só uma questão de tempo e a gente se conheceu. Naquele tempo, na cena do rap alternativo, todo mundo só sampleava jazz, mas não ficava rap jazz, era um rap com sample de jazz. E quando eu conheci o Omig, ele também curtiu os mesmos beats que eu curtia. Rolou uma identificação mútua”, lembra Calmão.
“De La Soul, Buckshot Lefonque, Gang Starr, Digable Planets, Guru Jazzmatazz. Esse são os primórdios das influências. Só que eu particularmante, antes de começar a samplear o jazz. Eu tinha uma coisa de nacionalismo, que cada beat tinha que ter um sample brasileiro. Aí eu tinha uma pesquisa, um vício de bossa nova, rare groves, mas brasuca. Mas aí através de samplear as coisas brasileiras, bossa nova, samba jazz, você começa a ver as parcerias que os caras tinham com os gringos. A bossa nova sempre foi o jazz brasileiro. E a galera que fazia rap jazz na gringa também sampleava muita coisa brasileira. Aí quando me deu o boom ali, 2002, 2004, do rap jazz na gringa, os caras faziam lá as paradas que a gente já fazia aqui. E a gente era meio uns peixes meio sozinhos”, afirma Omig.
Lançado pelos japoneses em 2010, Pure Essence o primeiro álbum dos paulistanos botou o trio no jogo. Na estrada, ganharam entrosamento e se cercaram de músicos cascudos. “Esse disco é outra história, mas não deixa de ser uma continuação, quem ouvir o primeiro disco e esse, por mais que seja um outro momento, ele ainda tem uma essência do primeiro que a gente não deixou se perder. Eu vejo como uma evolução do projeto”, ressalta Omig.
“O lance que vai dar uma diferenciada é que o primeiro disco foi feito no Fruit Loops, a gente não tinha nem MPC na época. Tudo computador e só chamou dois músicos para participar. Esse não já vem em uma outra pegada. Tem músicos que já estão tocando com a gente faz mais de três anos. Já temos outra visão. A gente viu que a junção dos músicos, a música orgânica junto com o programado ficou lindo. Não foi um negócio de vamos fazer assim que vai dar certo”, diz Calmão, tangenciando o ponto em que o improviso do jazz e o drible de Garrincha se encontram.
Na encarte do álbum póstumo Doo-Bop, Miles Davis (1926-1991) ao falar sobre o motivo de querer fazer rap sentenciou. “Eu coloquei a cabeça para fora do meu apartamento e ouvi hip hop.”
O sonho de fazer um jazz que dialogue com o rap une Miles e Calmão, NY e SP. “O lance de Sampa. Eu vou falar por mim, são mais as programações, batidas. E também todos os músicos. Nós temos samba jazz que é muito forte aqui em São Paulo, Bocatão. Na minha visão, o que tem mais de Sampa no nosso som, é esse lance da batida programada, do hip hop ali. Aqui, no Brasil, foi o berço.”