Falar de Chico César implica mistura de ritmos brasileiros. Mas não é o que encontramos no introspectivo disco De Uns Tempos pra Cá, o sexto da carreira do cantor, gravado em ‘companhia’ do Quinteto da Paraíba.

As canções são mais densas do que o habitual de Chico César e foram feitas em diferentes épocas da vida do cantor. Utopia, por exemplo, é da década de 80, tempo em que ele cursava Jornalismo, ainda na Paraíba. Por Causa de um Ingresso do Festival Matou Roqueira de 15 anos e Pra Cinema também são dos anos 80. 1 valsa para 3 é a música mais nova do disco, em parceria com o violonista Chico Pinheiro.

E por falar em parcerias, Chico apresenta novas versões para Cálice (cuja tensão dos versos é reproduzida pelas cordas ‘fortes’ do Quinteto), de Gilberto Gil e Chico Buarque, A Nível de, de João Bosco e Aldir Blanc e uma releitura de Autumm Leaves ou Outono Aqui, clássico de Johnny Mercer, feita pelo próprio Chico César.

Se o desejo do paraibano era agregar melancolia ao álbum, obteve sucesso. Não apenas por se manter distante do balanço visto em seus trabalhos anteriores, mas por cantar e relembrar acontecimentos de anos atrás.

Ao longo do cd, a introspecção vai se desfazendo, até chegar na última faixa, Orangotanga, que nos remete ao velho Chico, descontraído e brasileiro.

De Uns Tempos pra Cá comemora dez anos de carreira deste paraibano que despontou com a música À Primeira Vista, gravada por Daniela Mercury. Produzido em parceria com o cantor Lenine, a impressão que se tem é de um disco feito de referências (amor, desilusão, política, amadurecimento) e da essência musical de Chico, sem o objetivo de alcançar os primeiros lugares nas rádios. E sim, de abrir caminho para o que está por vir.

Compacto Simples

Chico César define seu compacto simples como “um primo tardio dos compactos dos vinis”. No cd, apenas duas músicas: Odeio Rodeio e Brega.

A primeira é uma crítica debochada, no bom sentido, do cantor ao atual mundo dos rodeios, dos peões modernos, mas tão distantes da cultura popular, do interior do Brasil. A curiosidade é que Chico desabafa – e na música ele diz que tem o direito – numa canção ao estilos das cantadas pelas duplas sertanejas.

Além de satirizar o estilo, Chico alerta para outras questões como os maus tratos aos animais durante os rodeios e a perda da cultura popular, que se transformou numa simples venda de acessórios. Rita Lee, defensora da natureza assumida, acompanha Chico nos backing vocals bradando “odeio!”. Para a reclamação, não haveria parceira melhor.

Já em Brega, Chico homenageia a forma mais antiga de se musicar o amor, e que segundo Chico, vem sendo relegada à qualidade de música de dor-de-cotovelo e empobrecendo o repertório dos artistas realmente criativos.

Se você odeia rodeios e adora brega, não deixe de ouvir.


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Chico César - De Uns Tempos Pra Cá

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