Apesar dos 12 anos desde a morte de Renato Russo, não param de lançar materiais póstumos do cantor. Além dos sete discos e dois DVDs, um outro álbum, O Trovador Solitário, chegou às lojas no último domingo (13) e reúne 11 faixas gravadas ao violão por Russo em 1982.

Entre as músicas estão Faroeste Caboclo, Eu Sei (que se chamava 18 e 21), Eduardo e Mônica e Dado Viciado. O disco saiu pelo selo Discobertas (com distribuição pela Coqueiro Verde Records), do pesquisador musical e idealizador do projeto, Marcelo Fróes, que era amigo de Renato.

“Conheci Renato Russo em 1992 e convivemos profissionalmente entre 1994 e 1996. Mas ele me ligava para bater papo muitas vezes, e cheguei a ser convidado para sua festa de aniversário no último ano de vida”, conta Fróes ao Virgula Música.

“Ainda nos anos 90, fui contratado pela família para fazer todo o levantamento do que Renato deixara, tanto no acervo particular quanto na gravadora. E, depois, acabei produzindo alguns projetos a partir de 2003”, completa.

Aos 22 anos, Russo gravou a fita cassete em sua casa, em Brasília, com um gravador portátil — estava numa fita cassete, com o áudio remasterizado. As gravações inéditas em disco são um registro da fase solo que o cantor e compositor manteve entre o fim do Aborto Elétrico (1979-80) e a criação da Legião Urbana (1983-96).

“Não havia uma busca assídua, apenas sabíamos que existiria a fita original da demo, que ele havia gravado para os amigos em 1982, em algum lugar”, conta Fróes.

De lá para cá, fãs reproduziram a obra e disponibilizaram para download, sob o nome de Rádio Brasília. Eram cópias de cópias de cópias que, no final, não passavam de chiados. A gravação original só foi localizada por Carmem Tereza, irmã do músico, no começo deste ano, dentro da própria casa da família Manfredini.

“O áudio está muito bom, não muito diferente do que obtivemos para algumas faixas incluídas no CD Renato Russo Presente, em 2003″, conta Fróes. O disco ao qual ele se refere trouxe quatro canções inéditas e trechos das últimas entrevistas concedidas por Renato (que morreu em 11 de outubro de 1996, em decorrência de aids).

A versão em CD de Trovador Solitário ganha encarte com fotos da infância, manuscritos e desenhos do músico. O álbum possui nove faixas compostas no começo dos anos 80 — parte do qual seria gravada depois pela Legião, por Barão Vermelho e Capital Inicial — mais duas faixas bônus.

Sobre as faixas, Fróes explica: “As canções mais definitivamente acústicas, como ‘Eduardo e Mônica’ e ‘Faroste Caboclo’, por exemplo, em nada mudaram. Mas, por exemplo, ‘Geração Coca-Cola’ e ‘Que País é Esse’ que, anos depois, virariam rock, na demo, são mais arrastadas. Já ‘Veraneio Vascaína’ e ‘Boomerang Blues’ que, neste trabalho, estão em registros de violão e voz, ganhariam, naturalmente, arranjo de banda ao serem gravadas pelo Capital Inicial e Barão Vermelho.

É interessante notar que “alguns dos clássicos de Renato, que ele gravaria anos depois com a Legião Urbana e faria enorme sucesso de sul a norte do país já estavam prontos, e há bastante tempo”, comenta.

O título Trovador Solitário foi escolhido porque era assim que ele se autodesignava depois de deixar sua primeira banda, o Aborto Elétrico, e foi assim também que a biografia do compositor, lançada em 2003 e escrita pelo jornalista Arthur Dapieve, foi intitulada.

Este CD “é um lançamento para fãs e colecionadores, além de historiadores do rock e da música brasileira em geral, e cada registro traz uma história”, comenta Fróes.

Confira abaixo o faixa-a-faixa de Trovador Solitário

1) Dado Viciado – a música seria lançada em álbum apenas 15 anos depois, no primeiro disco póstumo da Legião Urbana, Uma Outra Estação (1997), ano seguinte à morte de Russo

2) Eduardo e Mônica – A versão da fita lembra muito a do LP Dois (1986) até a hora em que, em vez de construírem uma casa, o casal aluga um apartamento. Há também a inserção de versos mais para o final da música.

Ouça Eduardo e Mônica clicando aqui

3) Eu Sei – A música se chamava, na época, 18 e 21 e entraria no terceiro álbum da banda, Que País É esse (1987).

4) Geração Coca-Cola – Aparece em andamento bem mais lento do que o registrado posteriormente no álbum de estréia do grupo, Legião Urbana (1985)

5) Faroeste Caboclo – É interpretada praticamente da mesma forma como seria gravada anos depois no álbum Que País É esse

6) Boomerang Blues – Foi gravada pelo Barão Vermelho no disco Declare Guerra (1986) e por Zélia Duncan no CD e DVD Sortimento Vivo (2002). A composição de Renato foi finalizada, em 2003, com a participação de integrantes do Blues Etílicos e integra o disco Renato Russo Presente.

7) Anúncios de Refrigerante – É o único registro de Renato Russo para esta música. Ela foi gravada pelo Capital Inicial no tributo MTV Especial: Aborto Elétrico (2005)

8) Marcianos Invadem a Terra – A faixa também entrou apenas no primeiro disco póstumo da Legião, Uma Outra Estação, Dinho Ouro Preto, do Capital Inicial, a gravou em seu disco solo de 1995.

9) Veraneio Vascaína – É a única versão de Russo para está música, um sucesso do Aborto Elético que foi parar em Capital Inicial (1986), disco début da banda.

10) Que País É Este – Faixa bônus, é a versão demo da música–título do terceiro disco da Legião. Ela não estava na fita acústica de Renato, mas é “historicamente compatível” com as gravações de O Trovador Solitário, segundo Fróes.

11) Summertime – Faixa bônus, é a gravação dp clássico do jazz, que também não estava na fita cassete de 1982. É um dueto de Russo com a então musa underground Cida Moreira. Foi gravada feita em Brasília, em 1984.


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Chega às lojas CD com inéditas de Renato Russo. Ouça versão roots de Eduardo e Mônica

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