Beyoncé, Alicia Keys e Mary J. Blige não seriam quem são se não inspiradas pela riqueza vocal de Yvette Marie Stevens, a Chaka Khan, um dos maiores ícones norte-americanos do funk e do soul. Após o cancelamento do show que aconteceria no Via Funchal, em São Paulo, em novembro de 2007, ela está na cidade para matar a sede do público paulistano – que havia recebido uma única passagem sua até hoje, há quase 20 anos.

A cantora, que ainda está divulgando o álbum Funk This, publicado em 2007, começou ontem (18) esta jornada brasileira com um show para convidados na Sala São Paulo. Ela se prepara para apresentar ainda um show gratuito no domingo próximo (23), dentro da terceira edição do projeto Telefônica Open Jazz, no Parque da Independência. A iniciativa é a mesma que realizou, em junho de 2008, o encontro até então inédito entre a cantora pop Macy Gray e o papa jazzista Herbie Hancock.

Sede da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, a Sala São Paulo figurou como escolha curiosa para a realização de uma apresentação de Chaka Khan, hoje com 55 anos e celebrando 35 de carreira em turnê mundial. A cantora foi favorecida pela acústica exemplar da Sala, mas recebida com estranhamento pela maior parte do público presente, desavisado da importância de seu legado.

Amparada por uma muleta – Yvette está se recuperando com sucesso de uma cirurgia no joelho -, ela tomou naturalmente para si aquele espaço tantas vezes regido pelo maestro John Neschling, impactando com seu carisma único já na entrada com um de seus maiores sucessos, I Feel For You, de 1984, composta por Prince. A diva entrou no palco ao som da inconfundível introdução “Chaka, chaka, chaka, chaka khan / Chaka khan, chaka khan, chaka khan / Chaka khan, let me rock you”, famoso rap de Grandmaster Melle Mel que abre a música, uma das mais influentes da era do breakdance.

Assista a Chaka Khan em I Feel For You

Potente

Sem receio de provocar de vez descompasso cardíaco nos fãs presentes, Chaka seguiu com Ain’t Nobody, de 1983, hit disco assinado ao lado da banda Rufus, com a qual se apresentou de 1973 até 1983. A positividade do refrão “Ain’t nobody / Loves me better/ Makes me happy / Makes me feel this way” dominou a Sala, ganhando impulso no alcance vocal de Yvette que, apesar de já um tanto debilitada fisicamente, permanece potente (a cantora tem a exata idade de Cyndi Lauper, por exemplo, e um terço da saúde para circular pelo palco). Outro momento que remorou a fase ao lado da Rufus no show foi Tell Me Something Good (1974), de Stevie Wonder, conhecida do público jovem também pela versão da norte-americana Pink.

Sampleada por Kanye West na música Through The Wire, de 2003, Through The Fire, de 1984, também marcou presença, com uma bela participação do guitarrista Tony Maiden, antigo parceiro de Khan. É sabido ainda que integrantes da banda que acompanha a veterana deram uma canja no clube Bleecker St., localizado no bairro de Pinheiros, no início desta semana. Quem contou foi o Rafael Moraes, que esteve também ao show de ontem. E ele não foi o único DJ presente: outros especialistas em toca-discos, como Philip A. (da dupla Killer On The Dancefloor), Leiloca Pantoja, Benjamin Ferreira e Lika Marques, também passaram pelo templo da música clássica paulistana na condição de fãs de Chaka Khan.

Assista a Chaka Khan em Ain’t Nobody

Apoteose

As duas canções mais marcantes do morno disco Funk This integraram o show: Foolish Fool, consagrada em 1969 pela voz de Dee Dee Warwick, e Angel, que foi parar até na lista dos Top 10 da Billboard no ano passado, interpretada pela cantora de maneira a evidenciar a proximidade entre o soul e o gospel. E como não poderia faltar, I’m Every Woman, de 1978, composição da dupla Ashford & Simpson que virou o maior sucesso de Chaka Khan, fechou a apresentação da americana em clima apoteótico. O restinho de público ainda presente foi à frente, ficou de pé e acompanhou o clássico com palmas. “Obrigada por terem se aproximado”, ela sorri e se despede.

Assista a Chaka Khan em I’m Every Woman

A continuação fica para domingo, portanto. Além de se apresentar com sua banda, Chaka Khan subirá ao palco ao lado do saxofonista Branford Marsalis, que está de volta ao Brasil depois de uma aclamada apresentação no Tim Festival de 2004. Marsalis, aliás, abriu para a cantora também no show da Sala São Paulo, acompanhado por seu afinado trio com contra-baixista, pianista e baterista, especialistas em improvisações e solos jazzísticos. Para os paulistanos, apreciar gratuitamente atrações deste porte é mais do que um presente. É um privilégio.

Serviço

Chaka Khan e Brandford Marsalis em São Paulo

Quando: 23/11, às 15h
Onde: Parque da Independência (avenida Nazaré, s/nº, Ipiranga)
Quanto: Gratuito


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Chaka Khan ilumina Sala São Paulo e prepara show gratuito

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