SÃO PAULO (Reuters) – O clima antes de começar o show é de um tropicalismo germânico. Pássaros cantam nos alto-falantes, mas o bosque exibido no cenário tem a cara da Europa. Nada mais apropriado para o encontro do baiano Caetano e do descendente de alemães Jorge Mautner.

Caetano Veloso entra sozinho, no estilo banquinho-e-violão, cantando “Feitiço da Vila”, de Noel Rosa. Mautner surge em seguida, e recebe aplausos tão intensos quanto os que saudaram o parceiro. Para o eterno maldito da MPB, o pré-tropicalista que o mercado nunca soube digerir, é uma surpreendente mostra de popularidade. Quem sabe, o reconhecimento definitivo que tanto lhe era devido.

A dupla celebra sua longa amizade no show “Eu Não Peço Desculpa”, sábado e domingo no Via Funchal, em São Paulo, e que será apresentado ainda no Rio de Janeiro, em Belo Horizonte e Porto Alegre. O repertório é basicamente o do disco de mesmo nome, lançado este ano, além de canções emblemáticas de suas carreiras e alguns clássicos do samba.

O fiel escudeiro de Mautner, Nelson Jacobina (violão e guitarra), está lá ao lado de Pedro Sá (guitarra), Pepe Cisneros (teclados), Kassin (baixo), Domenico Lancelotti (bateria) e André Jr. (percussão).

A dinâmica da banda é fundamental para o ritmo do show. Em “Homem-bomba”, por exemplo, apenas Jacobina cuida da harmonia, enquanto os outros cinco músicos passam à percussão, fazendo uma sonora batucada. Em outros momentos, como em “Maysa”, Caetano e Mautner cantam acompanhados apenas do violão de Jacobina.

O tom é de celebração da amizade e do Tropicalismo, não da forma esfuziante que o movimento tinha nos anos 60, mas às vezes até contida. Os protagonistas vestem tons escuros. Mautner parece meio deslocado no início, imóvel nos momentos em que Caetano canta sozinho. Acaba soltando-se durante “Sem Lenço e Sem Documento”, dançando e agitando os braços como um artista de auditório. A partir daí ele samba e arrisca até uma coreografia de hula-hula, às vezes empunhando seu mítico violino.

“London London”, na voz de Mautner, é uma forma de relembrar o início da amizade (“Conheci Jorge em 1973, quando eu estava exilado em Londres”, conta Caetano). O rock “Maysa” é a oportunidade para ele falar do Mautner escritor, já que a letra é sobre a personagem de “Deus da Chuva e da Morte”. E depois de interpretar “Maracatu Atômico”, Caetano não se contém: “É uma das músicas mais bonitas compostas no Brasil.” O parceiro não precisa dizer nada: a alegria está estampada em seu rosto.


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Caetano e Mautner celebram amizade tropicalista em São Paulo

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