Com novo disco recém lançado pela Natura em parceria com a Joia Moderna, Arthur Nogueira se apresenta nesta quinta (16) no MIS, em São Paulo.
Rei Ninguém, o quarto da carreia do Arthur, traz, de maneira mais aprofundada, a relação dele com a poesia em sua canção. Há novas parcerias com Antonio Cicero – o parceiro mais constante do Arthur, com quem ele já soma seis músicas -, há ainda Eucanaã Ferraz, Rose Aüslander, uma poeta de língua alemã, judia, que nunca foi musicada, e é também pouquíssimo traduzida por aqui, cujo o poema deu origem à canção título do álbum.
Além deles, há Dylan – recente Nobel de literatura -, e ainda uma canção dedicada à Waly Salomão. É o assunto que, de forma mais consistente, direta ou indiretamente, atravessa o disco.
A sonoridade também atua em favor dessa beleza poética. Se nos dois últimos discos – “Sem Medo Nem Esperança” e “Presente” – Arthur apostou em texturas eletrônicas como cama para sua música, nesse ele preservou a origem das composições. O disco é bastante orgânico (há pianos, violoncelo, violões), deixando a canção à frente de tudo.
Arthur também é um nome notável na cena contemporânea. Gravado por Gal Costa e Cida Moreira, e recém cantado por Ana Carolina, foi apontado como um dos nomes centrais na renovação da tradição dos poetas na canção brasileira. Leia nossa conversa com ele:
O que está rolando de mais novo na música brasileira, na sua opinião?
Arthur Nogueira – Antonio Cicero explica que o grande feito das vanguardas foi legar ao artista moderno a consciência de que não há formas, experimentais ou tradicionais, consideradas obrigatórias ou proibidas. Podemos transitar pelos mais diferentes caminhos sem ignorar ou determinar qualquer possibilidade a priori. Penso que toda novidade hoje resulta da consciência dessa máxima liberdade criativa, acima de estratégias de mercado ou opiniões de críticos e nichos musicais, por exemplo. A obra que surge do embate individual e concreto do artista com tudo o que o distingue, que expressa e afirma seus desejos e gostos mais autênticos, é essencialmente nova. É o que, pra mim, há de mais novo.
Quem são seus heróis e heroínas musicais?
Arthur – Por tudo o que disse antes, posso citar agora dois heróis para a minha geração: Itamar Assumpção e Cássia Eller.
Você é apontado como um dos grandes letristas da nova geração, que características considera que uma boa letra deva ter?
Arthur – Para qualquer pessoa que escreve, seja prosa, poesia ou letra de música, é preciso se dedicar, ler bastante, ter boas referências. A gente sabe mesmo o que é um bom texto, um bom poema, uma boa letra quando se depara e se espanta com eles. Por isso, ao invés de tentar explicar teoricamente, prefiro citar artistas que considero ótimos letristas hoje: Lira, Karina Buhr e Letícia Novaes.
Como são seus rituais de composição?
Arthur – Não diria que tenho rituais para compor. Cada canção surge de um jeito para mim. Todas as vezes que planejo compor de determinada maneira, ou não dá certo ou o resultado é radicalmente diferente do projeto inicial. No primeiro momento, as canções acontecem.
O que te leva a fazer uma música nova?
Arthur – Qualquer situação ou sensação, das mais especiais às mais cotidianas, me motivam a compor. A partir desse primeiro impulso, que se conhece como inspiração, vem o que os poetas chamam de transpiração, isto é, o trabalho, a depuração. Para mim, os melhores resultados, dos mais complexos aos mais simples, surgem nessa etapa de convivência com a obra. Eu acredito mais na transpiração que na inspiração.
Por que quis explorar uma sonoridade mais limpa no álbum?
Arthur – Quis explorar essa sonoridade porque vinha de dois discos eletrônicos, gravados em diferentes lugares e ocasiões, ora no estúdio, ora em casa, com músicos diversos e muitos sons programados no computador. Para o disco Rei Ninguém, quis tocar junto com a banda, ouvir cada timbre, cantar junto com eles. A sonoridade mais crua resulta do fato de que quase não há pós-produção: o disco foi gravado ao vivo, a partir da minha parceria e convivência com Allen Alencar (guitarra), Filipe Massumi (violoncelo), João Paulo Deogracias (baixo e sintetizadores), Richard Ribeiro (bateria e percussão) e Zé Manoel (voz, piano e teclado).
Fale um pouco sobre o conceito do disco, como chegou nele e na história dele ser dividido em “capítulos”?
Arthur – Pela primeira vez, fiz um disco totalmente do zero. Não tinha repertório nem planejava concretamente o próximo passo de minha carreira quando fui selecionado pelo Natura Musical. A partir do momento em que recebi a notícia e comecei a pensar as canções, por situações que vivi e todos os aprendizados desde que saí de Belém, em 2012, entendi que este seria um disco introspectivo, afirmando o que sou e as escolhas que fiz até aqui. Quando ouvi as faixas masterizadas, saquei que o repertório mantinha certa unidade conceitual e se organizava como um livro em minha cabeça. É por isso que o encarte é dividido em quatro capítulos. O resumo dessa história é que, por mais que faça referência a situações e sentimentos que passaram ou se acabaram, não se trata de remoer frustrações ou tristezas, mas de exaltar as coisas que se realizam plenamente na hora certa. O disco celebra essa bagagem para vida presente, o aprendizado, as melhores lembranças, o amor “aprisionado em coisas gratas”.
SERVIÇO
ARTHUR NOGUEIRA – REI NINGUÉM
Museu da Imagem e do Som
MIS SP 16 DE NOVEMBRO | 21H Av. Europa, 158 , Jd Europa
Grátis
Inf: (11) 2117-4777