Você já imaginou o que é ter seis minutos de entrevista com a rainha do pop Madonna e poder falar de tudo, menos música? Ou pior, ter um encontro marcado com Sting, ainda na época do The Police, conseguir um encontro com ele em uma fazenda em São Paulo e ser obrigado a falar sobre ativismo?

Pois é. O jornalista Zeca Camargo nunca imaginou, mas passou por tudo isso, e agora revela todas as suas experiências musicais, entrevistas e bastidores, no livro De A-Ha a U2 – Os Bastidores das Entrevistas do Mundo da Música (Editora Globo).

O lançamento do livro aconteceu nesta quarta-feira, dentro do projeto Sempre um Papo, no Sesc da Avenida Paulista, com bate-papo e noite de autógrafos.

Durante a conversa, Zeca revelou que tornou-se um apaixonado por música muito tarde e o que primeiro lhe chamou a atenção foi o visual dos artistas nos anos 80, influenciado principalmente pelo new wave. “Tudo mudou quando cheguei numa loja e vi um disco de capa amarela com quatro doidos. Era o B-52’s”, diz ele referindo-se ao disco The B-52’s, lançado em 1979.

O livro traz 53 entrevistas (entre elas Alanis Morissette, artista que ele mais entrevistou) e muitas foram deixadas de fora como as com o guitarrista Santana, o baixista Bryan May do Queen e Jamiroquai. “Quem sabe num segundo volume”, brincou o jornalista. Quanto ao seu talento musical, ele deixa claro que não tem nenhum dom.

Entrevistas marcantes: Radiohead, Cazuza e Renato Russo

Houve um tempo em que o Radiohead era desconhecido e entrevistá-los era fácil. Isso aconteceu na época do lançamento de Pablo’s Honey, em 1993, o primeiro disco da banda. Zeca estava na MTV e conseguiu fácil entrevistar a turma de Thom Yorke. O problema era que não havia perguntas suficientes, naquela época, a não ser a básica “Quem é Pablo”, Zeca conta rindo. Para os mais curiosos, Pablo era apenas um querido amigo.

Cazuza foi sem dúvida uma das grandes entrevistas de Zeca em 89, não só pelo furo de reportagem – involuntário, diga-se de passagem – mas pela figura do cantor. “Imaginava o Cazuza com uma personalidade forte, exigente, rockstar, e foi isso mesmo que eu vi”, relembra ele. Na entrevista, Cazuza revelou pela primeira vez que estava com o vírus HIV e que seus tratamentos no exterior eram tentativas de curar a doença, até então pouco conhecida. “Diz aí que eu estou com a maldita, é como eles chamam a Aids”. Foram essas as palavras do cantor, que deixaram Zeca boquiaberto. “Como continuar a entrevista depois de uma revelação dessas?”. Mas ele continuou, e conseguiu pela primeira vez colocar uma matéria de capa na Folha de S.Paulo.

A entrevista com um ‘sonolento’ Renato Russo para a MTV também entrou para a história. “Chegamos na casa dele e a empregada disse que ele estava dormindo, mas que podíamos subir. Entrei no quarto e ele estava na cama, coberto, com uma voz de sono. Tudo fake, na cara”.

Michael Stipe: tietagem e trabalho não combinam

“Eu estou entrevistando o Michael Stipe. Caramba!”. O pensamento alto de Zeca durante uma entrevista com o líder do R.E.M. nos bastidores do Vídeo Music Awards encerrou a conversa. Stipe percebeu que Zeca não prestava a mínima atenção no que ele falava, afinal, o cantor era um dos ídolos do jornalista que estava ali, cara a cara com ele. A lição foi aprendida: tietagem e trabalho não combinam.


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Zeca Camargo conta suas histórias musicais no livro De A-Ha a U2