Em uma noite agitada no Nokia Trends, evento que rolou na primeira semana de dezembro e reuniu o melhor das novas tendências musicais, Hisato foi o primeiro convidado a ferver as ‘pick-ups’ com seu set.
Neste dia, surgiu um encontro casual com este japonês do ABC paulista, que manja muito de música e desfila com seus vinis desde o contemporâneo até o clássico, com muita diversão. Tem de Bauhaus, Queen, Depeche Mode até o frescor do libanês Mika.
Neste clima bem humorado, Hisato cedeu uma entrevista ao Virgula Música.
Com sacadas do tipo: “Só não dá pra ficar trancado no quarto com um violão fedido e já se achar a próxima Lilly Allen!”, ou “Mas tudo na vida é assim, até como trailers de hot dog na esquina, tudo com o mesmo sabor de água chocha”, Hisato falou sobre música, ser DJ, criação, produção, bandas novas e influências.
Confira a matéria na íntegra.
Primeiro, quem é o DJ e produtor Hisato?
Paulistano do ABC e ligado aos setores de moda, eventos e clubes descolados no país. Gosto de alternar entre o underground e os circuitos mais refinados. O tosco e o top são, ambos, a cara do país: o que somos e o que mais gente poderia ser. Procuro ser um DJ elegante, mas sem ser pedante e um DJ divertido e pra lá de eclético, mas com técnica e bom senso.
Desde quando está envolvido com a música?
Profissionalmente, só de uns quatro anos pra cá. Mas a minha mãe outro dia disse que eu gosto de música desde muito pequeno. Gosto de fazer tanta coisa ao mesmo tempo, que nem lembro direito disso. Lembro que estragava umas festinhas tocando músicas esquisitas (risos), do tipo Kraftwerk numa pistinha disco. Mas agora já sei fazer essa bagunça direito.
Além de DJ, tem outro projeto musical?
Mantenho a banda de rock + eletrônica Hello, Kate!!, que é uma das bandas mais descoladas do Myspace lá no exterior. Em 2008, acho que ela promete. Produtores bastante respeitáveis lá fora têm me dado apoio. Um deles, que aqui no Brasil só trabalhou com a Marisa Monte, acabou de fechar uma música pra mim, de graça, a partir do seu estúdio em Nova York.
Já produziu alguma banda?
Ainda não, mas isso deve acontecer. Pras pessoas que acham erroneamente que meu negócio é só rock ou eletrônico, e que não gosto de mpb, é só ouvir as trilhas que eu compus e produzi pra um vôo de balão sobre a cidade de São Paulo. Foi para o Google Maps. A história acabou de ir para o ar, e tenho recebido vários elogios pelo trabalho.
Como produtor, o que acha da cena musical brasileira? Anda faltando criatividade?
Anda faltando é acesso. Existem boas bandas e DJs por aí, mas romper o esquema das gravadoras, grande imprensa e pequenas panelas e pequenos repertórios, isso sim é duro. Veja o caso do Cansei de Ser Sexy e até onde eles já chegaram em termos de prestígio. Mas por aqui ninguém dava bola pra eles. Eu mesmo venho construindo o meu próprio caminho, praticamente sozinho.
Hoje, qualquer pessoa pode ter uma banda, gravar um som e jogar na internet. Você acha que isso contribuiu para que a qualidade do som seja menor e venham surgindo apenas bandas ‘mais do mesmo’?
Ah, sim (risos)! Mas tudo na vida é assim, até como trailers de hot dog na esquina, tudo com o mesmo sabor de água chocha. Por outro lado, e voltando à resposta da pergunta anterior, achar que por isso só há muita coisa ruim é errado. A questão é cada um saber refinar o caldo, mas sem aditivo ou corante, por favor(rs). É claro que isso dá trabalho, muitas vezes até eu perco a paciência.
Você acha que o país perde com as bandas nacionais que fazem mais sucesso lá fora do que aqui, como o CSS, Bonde do Rolê e os novatos do Lucy and The Popsonics?
Não acho que perca, pelo contrário. São exemplos de que a cultura musical globalizou total. Veja isso: já fizeram programa de rádio a respeito da minha banda em Viena e, por aqui, a gente assiste a shows de bandas suecas deliciosas e baratinho, e um booker alemão indicou o meu trabalho pra um selo de Los Angeles. Não há como ficar de fora dessa geografia acelerada, e gostos musicais e relações vão junto. Só não dá pra ficar trancado no quarto com um violão fedido e já se achar a próxima Lilly Allen!
Como surgiu o convite para tocar no Nokia Trends? Qual foi a impressão sobre o evento?
Bem, o evento diminuiu de tamanho, mas foi mais selecionado e o mais lindo e organizado de todos, não? Em termos de produção, nota dez (apesar de que um CDJ meu pifou, na hora do set e tive que improvisar porque carreguei poucos vinis). Tenho bastante prestígio nessa área de eventos, como eu já falei, e as pessoas notam o meu trabalho nessas festas. Detesto esses DJs, digamos, de sonoridade indiferente ou que só tocam os hits que os bons djs criam. Soube que recebi o convite porque, em determinados circuitos, todos sabem que eu não fico nada a dever a nenhum DJ gringo, assim como vários outros DJs brasileiros.
O que anda ouvindo. Além da sua banda, ‘Hello, Kate’, indicaria outra?
Vixi, ando ouvindo boleros (rs) sério! Tem os CDs novos e climáticos do Sigur Ros, o rock divertido do Black Kids e do francês Pravda, as coisas do Ed Banger e da Kitsuné. Aqui do Brasil, o electro do Kronk e os eletrônicos Suntrax e Tin God (este participou até de uma coletânea do New Order, mas quase ninguém sabe).
Para quem quer ser DJ, quais são as dicas? Como começar, os vinis que não podem faltar?
Melhor indicar um livro: Last Night a DJ Saved My Life. Ali tem tudo, e no conteúdo original. De músicas clássicas ao espírito dos clubes, as armadilhas da área e sobre as festas que realmente importam. E ele também ensina a ter respeito pela pista, tem DJ que as vezes se esquece que toca pra gente, pessoas, afe! Mas se for preciso uma dica minha: técnica é importante, mas só repertório consegue transmitir e criar estilo.
Muita gente acha que vida de DJ é puro glamour: tocar na noite, beber de graça e ainda ganhar uma grana. É tudo isso mesmo?
Humm, não reclamo mesmo! (rs). DJs glamurosos (e são poucos) merecem boa bebida. Tem o Edu Corelli, o Johnny + Hertcovich, o Zé Pedro, Morcerf, Bispo, Roque Castro e uns poucos outros. Ser DJ hoje em dia pode ser, na verdade, bem tosco. Porque todo mundo acha que pode ser e que isso será a salvação de sua vida. Mas se o DJ não for bom, o que acontece com qualquer festa? E tem tanta noite caída por ai. Agora um DJ tem mesmo que circular muito pela noite, porque o espírito que comanda a vida noturna é mais volúvel que aquela Bebel da novela. Passam-se umas semanas e pronto, o pessoal já quer ouvir outra coisa!
Existe algum set que em qualquer lugar que seja tocado fará sucesso?
Sim, mas ai o refinamento estético teria que ser exarcebado! E não, porque tem muito xiita musical por ai, os fundamentalistas musicais hiper-chatos e pouco criativos. É difícil. Estou fazendo agora mesmo uma trilha que vai tocar ao mesmo tempo em desfiles no Fashion Rio e em Milão, na capital da moda italiana. E volto correndo pra São Paulo para tocar em festa fechada, no Terraço Itália, de sexagenários aficcionados em bom jazz e música clássica. Ainda estou tentando diferir a enrascada em que eu me meti (rs), mas sempre me dei bem e vai dar tudo certo.
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