Intimamente ligada a sua imensa obra, Buenos Aires festeja a partir desta quarta-feira Vinícius de Moraes (1913-1980) no centenário de seu nascimento, com uma exposição multimídia que recupera a alma e a sensibilidade do genial artista.

O espírito do poeta, dramaturgo, roteirista, crítico, diplomata e jornalista revive nas paredes da sala Cronopios do Centro Cultural Recoleta, na capital argentina, em uma seleção de fotografias e textos do autor da célebre Garota de Ipanema.

Parte das 90 imagens que fazem parte da exposição foram doados por uma de suas viúvas, a argentina Marta Rodríguez Santamaría, que idealizou o projeto, que nasceu como uma “ideia singela” e acabou crescendo e se convertendo em “uma espécie de tratamento, um processo espiritual” para ela.

“Eu era muito jovem quando conheci Vinícius, tinha 22 anos, e conhecê-lo foi muito forte, produziu um impacto muito grande, mudou o enfoque da minha vida. Talvez tenham ficado muitas coisas não terminadas que agora tive a oportunidade de retomar”, explicou Marta a Agência Efe.

Durante mais de dois anos, a viúva do compositor brasileiro trabalhou ao lado da artista plástica Renata Schussheim, grande amiga do autor, para transmitir na mostra “Vinícius… Saravá! A vida, amigo, é a arte do encontro” um legado que consideram “necessário para as pessoas”.

“O legado que está aí e é se deve saber tomá-lo. A exposição é como retomar Vinícius de uma forma espiritual, porque ele não está presente fisicamente, mas seu espírito está dando voltas por aqui”, afirmou Marta.

A presença do compositor brasileiro é sentida através das imagens, algumas em branco e preto, outras coloridas, pequenas, médias e grandes, parte de uma coleção pessoal, e tiradas durante diversas viagens e turnês, em situações familiares e com amigos.

Outra seção tem como autor o fotógrafo Gianni Mestichelli, que o retratou durante suas estadias em Buenos Aires, na lendária gravação do disco “Em La Fusa” junto com Toquinho e Maria Creuza, em apresentações junto de Dorival Caymmi, Baden Powell e Quarteto em Cy e em reuniões com Astor Piazzolla.

“Ele (Vinícius) rompeu a barreira entre o popular e o erudito. Podia ser amigo de qualquer pessoa do povo e ao mesmo tempo de Orson Welles. Nunca o perdoaram ter deixado a poesia elitista para fazer canções, e isso também foi revolucionário”, explica sua viúva.

Sobre uma parede da sala, uma projeção de uma praia vazia e o som do mar refletem “essa sensação de bem-estar tão necessária em um momento no qual todo o mundo está violento”, ressaltou Renata, para quem a exposição representa “uma viagem pela cabeça e pela sensibilidade de Vinícius”.

“Não quisemos fazer uma homenagem, mas um festejo, algo descontraído, carinhoso, com o espírito que ele teve na Argentina, com seus amigos”, disse a artista plástica, que reconhece que, de maneira inconsciente, a mostra, que estará aberta ao público durante três semanas, é também em “uma espécie de homenagem ao amor” que houve entre Vinícius e Marta.

A música do compositor brasileiro, autor de mais de 400 canções, também presente na exposição, “envolvendo com sua magia os que vierem vê-la durante todo o percurso”, se emociona Marta, junto com livros e cartas do poeta.

“Depois do Brasil, esta é seguramente a maior homenagem que Vinicius está recebendo, em duração e conteúdo”, concluiu.


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Buenos Aires festeja Vinicius de Moraes no centenário de seu nascimento

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