40 anos depois e mais um aniversário do Tropicalismo. Muitos de vocês não têm nem a metade desta idade, mas vale a pena saber sobre esse movimento que abalou toda a estrutura musical da época.
Cansados das batidas refinadas dos violões que representavam a Bossa Nova, Caetano Veloso e Gilberto Gil apresentaram, respectivamente, em outubro de 67, no 3º Festival de Música Popular Brasileira, promovido pela TV Record, as músicas Alegria, Alegria e Domingo no Parque. Essas canções fundaram o movimento musical Tropicalista que mexeu com toda cena cultural brasileira da época.
Acompanhando Caetano com os pesados riffs de guitarras elétricas, vieram os argentinos da banda Beat Boyz. Em parceria com Gil, quem tocou foram os Mutantes, não menos famintos por psicodelia e boas guitarras.
E foi por ter introduzido este estilo na cena musical brasileira que a Tropicália sofreu duras críticas dos movimentos estudantis mais nacionalistas, que diziam que o uso das guitarras refletia a invasão cultural norte-americana com seu rock`n roll.
Mas, longe de afirmar esta idéia, o Tropicalismo procurava misturar o que a classe média brasileira regeitava e tinha como brega: a união entre os váriados estilos musicais, como o baião com o clássico, boas pitadas de pop com letras que se utilizavam de discussões estéticas para disseminar um pensamento revolucionário.
Nesta luta, estavam ao lado dos baianos Gil e Caetano seus conterrâneos Gal Costa e Tom Zé, além dos Mutantes (Rita Lee, Arnaldo Baptista e Sérgio Dias), Nara Leão e o maestro Rogério Duprat.
Causando alarde para morrer mais tarde
Inserido no contexto da ditadura Militar, que teve início em 64, a Tropicália enfrentou não somente o endurecimento por parte dos militares, mas também da esquerda estudantil.
Esses militantes acusavam os tropicalistas de não pertecerem à pura música brasileira pelo uso das guitarras que eram o símbolo americano.
Mas o movimento não fracassou no pouco tempo que esteve vivo. Em 5 de fevereiro de 68, ele foi reconhecido através de um artigo chamado ‘A cruzada Tropicalista’ do jornalista e crítico de música Nelson Motta, publicado no jornal Zero Hora.
Caetano também conseguiu contextualizar toda a situação e os contrastes do país na canção Tropicália, assim chamada devido à exposição homônima com autoria do artista plástico Hélio Oiticica, lançada em fevereiro de 67.
Desse modo, o movimento foi caminhando, e o CD Panis Et Circenses, gravado pelo coletivo Gil-Caetano-Gal-e-cia influenciou toda a música posterior e até mesmo o cinema novo de Glauber Rocha.
Mas, mesmo com toda popularidade, a grande ruína do Tropicalismo veio com a imposição do AI-5, Ato Institucional que pulverizou a liberdade de expressão no Brasil e levou presos Caetano e Gil em dezembro do mesmo ano.
Ecos
Fato é que a Tropicália foi fulgaz, durou menos de dois anos. Contudo, foi o tempo sulficiente para deixar suas fortes características nas seguintes gerações.
Os Secos e Molhados, marcado pela forte imagem de Ney Matogrosso, que muitas vezes se vestia de mulher, foi um símbolo na década de 70 de que o movimento que começara em 60 não tinha acabado.
Na mesma linha, misturando o choro, o Afoxé e o rock em suas canções, surgiam Os Novos Baianos.
Não muito distante da nossa época, tivemos o Manguebeat, que na década de 90 surgiu com a figura de Chico Science e a Nação Zumbi.
Além dos brazucas, artistas gringos são bastante influenciados pela onda tropical, como os músicos Beck e Devendra Banhart. Até Kurt Cobain, quando vivo, já havia revelado sua admiração pelo movimento.
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