A guitarra barulhenta e os ecos no fundo indicam: não espere ouvir algo que lembre o manguebeat. Os garotos são de Recife, mas gostam mesmo é de rock, sem desmerecer, é claro, a importância do movimento para a cena musical local.

“O River Raid nasceu no momento em que o mangue estava explodindo e enquanto todo mundo tinha uma banda com uma alfaia, a gente fazia rock com três guitarras. Admiramos o movimento mangue-beat, a banda é fã assumida da Nação, a gente só escolheu outro caminho”, diz um dos três guitarristas do The River Raid, Toni Ferreira.

A banda pernambucana está começando a ganhar espaço lá fora. Mas, seu som não lembra nada bandas brazucas como Cansei de Ser Sexy, Bonde do Rolê, entre outras, que ganharam as pistas e palcos dos EUA e Europa.

Além de shows marcados nos EUA e Canadá nos meses de maio e junho e na expectativa de conseguir assistir a um show do Radiohead, a banda deve passar o mês de abril de dedos cruzados. Acabaram de levar o prêmio Internacional Songwriting Competition, que entre os juízes de 2007 teve na bancada figuras como Julian Casablancas (The Strokes), Robert Smith (The Cure), Macy Gray, Jerry Lee Lewis e Frank Black (Pixies), e disputam o New Music Vídeo Awards – We Are Listening, com o vídeo da música Time Up.

Pra quem curtir o que ouvir ou o que ler abaixo, a banda deve passar por São Paulo nos próximos meses, entre a turnê internacional. As datas ainda não foram confirmadas.

Como tudo começou

“A gente se conheceu no colégio. Eu e Toni estudávamos na mesma sala e o Gilberto (guitarra) e o Léo (baterista) na sala ao lado, ate que o Léo foi expulso da sala dele e despejado na nossa”, conta o baixista Eduardo. Quanto ao quinto elemento, o guitarrista Ricardo, esse veio de outra banda antiga de Edu e Toni. A primeira apresentação rolou no próprio colégio, num festival aonde só alunos do colégio podiam se inscrever.

E se você tem mais de 25 anos, com certeza imaginou que o nome da banda venha do famoso jogo de videogame do Atari.

Na contramão do manguebeat

Riffs pesados, distorção, letras em inglês já mostravam que o caminho do River Raid não teria nada a ver com o manguebeat, apesar da banda não negar a influência da cena. “Podemos dizer que fizemos parte do movimento, não necessariamente fazendo o mesmo tipo de som. O movimento é maior do que a música”, diz Dudu.

As influências da banda também entregam: Os Mutantes, Pixies, Television, Beatles, Neil Young, Roberto Carlos (ele mesmo, o rei), Supersoniques, Velvet Underground, Radiohead, Nirvana, Ramones, Butthole Surfers, The Clash, Cream e The Doors.

Dez anos depois, bolachinha na mão

Com dez anos de estrada, o River Raid demorou pra gravar seu primeiro CD, homônimo, mas a demora não deixou ninguém preocupado com o futuro da banda. “Como toda banda brasileira de rock do circuito independente, nossa vida durante esse tempo não foi fácil”.

Duda conta que todos passaram todo esse tempo se preparando profissionalmente e tocando outras coisas, desde projetos paralelos a faculdade. Já Toni, revela: “Era pra gente ter gravado antes. O baterista é que precisou desse tempo pra decorar as musicas”.

Cedo ou tarde, CD saiu caprichado. Gravado em Recife, foi mixado e masterizado nos EUA, no renomado estúdio Sterling Sound, em Nova York. Como as portas se abriram? Eduardo conta. “Fui fazer um curso os EUA, onde conheci o produtor Felipe Tichauer (ganhador do Grammy com Christina Aguilera) que resolveu produzir o disco. Quando eu o conheci, só tínhamos oito músicas em português e ele sugeriu que fizéssemos mais quatro em inglês pra tentar a carreira internacional. Daí, tudo começou a acontecer”.

Depois, outro produtor Filipi Gomes, de Recife, inscreveu a banda no Atlantis Music Conferenc, onde tocaram em setembro do ano passado. A banda já saiu em compilações na Austrália, EUA e Canadá. Agora, segundo Toni, emplacar no mercado internacional é um dos principais focos.

Se a dica do produtor, de cantar em inglês, deu mais certo ou errado? Bom, para Eduardo, já passou o tempo em que bandas brasileiras que cantavam em inglês eram criticadas. “A recepção do público tem sido bem legal, mesmo com as letras em português. O rock e’ uma linguagem universal”.

Concursos no exterior

Quanto ao ISC, a banda conta que a inscrição rolou meio que sem querer. O prêmio era bom. Saber que Julian Casablanca ouviu a música do River é pra eles “um orgulho”. O resultado foi divulgado nesta quinta-feira, dia 10 de abril, e pegou a banda de surpresa: primeiro lugar na categoria rock e 15° na classificação geral.

No New Vídeo Music Awards a expectativa é das grandes, pois a banda está em primeiro lugar, o que pode mudar de um dia para o outro, mas estar entre os favoritos já é um bom sinal.

Resumo da ópera: o River Raid faz “um som regional sem tambores e acreditando que não existe maior expoente da word music que o Rock´n Roll”. Quem for adepto da mesma filosofia, pode ouvir o som dos caras no My Space, ou comprar o disco, que já está nas lojas.


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Raio-X: The River Raid, riffs na contramão do manguebeat