Em 1975 o movimento punk começava a tomar forma pelas ruas de Londres. Bandas embrionárias como o London SS, The 101ers e The Damned já tinham visibilidade dentro da recém formada cena britânica.

Dos squats, cortiços habitados pelos punks nos estéreis suburbios operários da cidade, começavam a surgir inúmeras bandas que carregavam consigo os ideais revolucionários de uma geração que estava cansada dos hippies e da virtuosidade do acid rock que dominava a época.

É nesse cenário que aparece uma das bandas mais influentes de todos os tempos. O The Clash, liderado pelos vocalistas/guitarristas Joe Strummer e Mick Jones, nasceu no efervescente gueto de Bristol, o reduto de moradia da população jamaicana que trabalhava nas fábricas da periferia de Londres.

O convívio direto com a cultura jamaicana explica as gritantes influências da musica negra no som do Clash, principalmente o reggae, o dub e o ragga.

The Clash em cheque

A qualidade do Clash é mais do que indiscutível. A banda sempre soube dosar muito bem suas influências em seus discos. O conjunto dos álbuns era sempre muito bom e por isso a banda produziu tantos discos clássicos como seu debut The Clash de 77 e o London Calling de 79.

Porém o que aconteceu em 1982, ano do lançamento de Combat Rock não tinha precedentes na história do Clash.

Dois anos antes a banda havia lançado o experimental Sandinista! onde pôde mostrar toda a sua versatilidade e toda sua bagagem músical. Porém como nem tudo são flores no mundo do show business, o álbum vendeu muito menos do que o esperado, principalmente pelo fato do Clash ter deixado de lado a sua face Arena Rock que os levou ao topo.

Por isso o Combat Rock foi concebido em clima de atrito na banda pois Joe Strummer queria continuar mergulhando na música negra enquanto Mick Jones e a gravadora Epic queriam o clash de volta ao rock de arena que herdou de bandas como o Led Zeppelin.

O resultado só poderia ser um: Combat Rock veio ao mundo parecendo não ter nem pé e nem cabeça.

O pior do melhor

Know your rights abre o disco dando sinais de que o Clash estava disposto a um esforço comercial. Apesar disso a faixa torna-se repetitiva e nem seu solo estilo faroeste diminui a má impressão.

A segunda faixa, Car jamming não tem força. Nem mesmo a timbragem pesada dada pelo produtor Glyn Jones (The Beatles, The Who, The Rolling Stones entre outros) salva a faixa.

Os acordes iniciais da terceira faixa, o hino Should i stay or should i go, são conhecidos por 10 entre cada 10 roqueiros de todo o mundo. Música acima de qualquer suspeita.

O carro chefe da escalada do Clash de volta ao topo das paradas é a dançante Rock the casbah que dispertou a fúria de muitos fãs mais tradicionais. O clima de festa new-wave foi considerado inaceitavel para muitos. Mas deixou a gravadora muitíssimo feliz.

A levada dub de Red angel dragnet não consegue se comparar com outras visitas que a banda fez ao estilo como em Guns of brixton. A falta de pegada novamente chama a atenção.

Outro ponto alto do disco é a clássica Straight to hell que tem teclados bem colocados e uma bateria quebrada incrível. Difícil de entender como a musicalidade dessa faixa não contagiou o resto do LP.

Overpowered by funk é mais uma salada new wave. Soa como um embrião de Red Hot Chilli Peppers só que sem a parte divertida.

Aton Tan parece que vai engrenar mas não sai dos dois primeiros acordes. Falta baixo e falta empolgação. Soa como se o Clash estivesse perdendo a força.

A mais grata surpresa fica por conta das influências orientais apresentadas em Sean Flynn. Com uma flauta bem colocada, uma percussão hipnótica e linhas de guitarra imitando cítaras, a faixa ganha em poder e densidade.

Ghetto Defendant também merece uma ressalva. A banda explora suas origens e influências como o poeta do dub Linton Kwesi Jonhson graças ao vocal emprestado por outro poeta: Allen Ginsberg.

Inoculated City é um escorregão para o “iê iê iê” e mostra um Clash manso demais. Sem a rebeldia e agressividade que marcaram a história da banda.

Pra fechar do álbum, Death is a star é uma inexplicável balada em clima de piano-bar com um arranjo pra cordas. Parece ter saído de algum músical da década de 40.

Claro que o Combat Rock não é um disco péssimo. Mas não da pra acreditar que a banda que gravou White Riot apenas 5 anos antes tenha ficado tão fora de foco.

A salada do maior sucesso de vendas do Clash foi o principio do fim da mais importante banda do Punk inglês.

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O Pior do Melhor: The Clash - Combat Rock