Black Sabbath no Lollapalooza Chicago


Créditos: Alexandre Lopes

Uma banda considerada “satânica” em seus primórdios servindo de trilha sonora para uma diversão familiar. Parece estranho, certo? Mas foi exatamente isso que o Black Sabbath fez na noite desta sexta-feira (3), ao encerrar o primeiro dia do Festival Lollapalooza em Chicago.


Ozzy Osbourne
(vocais), Tony Iommi (guitarra) e Geezer Butler (baixo) subiram ao palco sua única apresentação na América este ano para entreter uma plateia diversificada: de fãs que os acompanhavam desde o começo da banda, no fim dos anos 60, passando por jovens moderninhos com óculos coloridos e pais com seus filhos menores. E o grupo inglês provou que ainda está à altura de todo esse fascínio que exerce no público desde que começou a tocar notas distorcidas com uma bela dose de temas obscuros.



Não é à toa que a banda iniciou o show com a faixa homônima, “Black Sabbath”. Nem mesmo o resquícios da luz do dia conseguiram atrapalhar o clima sombrio da canção, realçados por uma chama infernal que era transmitida no telão principal do palco. “The Wizard” veio na sequência, com Ozzy arriscando tocar gaita para puxar os riffs de Iommy que mais se aproximam das raízes do blues. “Behind the Wall of Sleep” antecedeu o momento de glória de Geezer Butller, com o seu clássico solo introdutório de “N.I.B”.

Ozzy obviamente já não é mais o mesmo: o vocalista não alcança mais os altos tons de antigamente – ele chegou a desafinar ligeiramente em “Into the Sun” e de maneira absurda em “Snowblind”, além de deixar perceber um vocal pré-gravado para reforçar algumas partes de “War Pigs” -, mas o forte de Osbourne nunca foi a técnica, e sim a empolgação no palco. E essa parte o madman não deixou de corresponder às expectativas dos fãs, que respondiam com a disposição de um exército aos comandos “vamos lá, batam palmas” e “eu não consigo ouvir vocês”.

Por mais que Ozzy ganhe a fama de roqueiro indestrutível por todo o seu histórico com drogas pesadas, Tony Iommi é o membro do Sabbath que traduz fielmente a descrição de “Iron Man”: depois de ter sua carreira como guitarrista ameaçada por um acidente que decepou parte de seus dedos médio e anelar da mão direita, Iommi desenvolveu dedais caseiros com ligas de couro e reaprendeu a tocar o instrumento, tornando-se um dos maiores expoentes da guitarra no mundo do rock pesado. No final do ano passado, mais um empecilho; Iommi foi diagnosticado com linfoma em estágio inicial e os planos para uma turnê mundial da nova reunião da formação clássica da banda foram adiados. Mas no palco, o guitarrista continua afiado e técnico como sempre, esboçando sorrisos tímidos que às vezes até transparecem algum tipo de constrangimento com a devoção dos fãs.

E a parte mais polêmica da recente volta do Sabbath também não fez feio: o baterista contratado Tommy Clufetos obviamente nunca substituirá a importância histórica de Bill Ward nas duas baquetas, mas o rapaz (nascido em 79, mesmo ano em que o grupo gravou o último disco de estúdio com sua formação original) justificou seu posto com um agressivo e impressionante solo de bateria após uma versão instrumental de “Symptom of the Universe”. Mas o público pareceu mais entretido com as bizarras participações de duas senhoras voluntárias do festival, que na metade final do show surgiram no canto esquerdo do palco para mesclar coreografias de air guitar com linguagem de sinais para surdo-mudo.

A banda se despediu do palco com “Children of the Grave”, apenas para retornar em seguida para o bis, com Ozzy atiçando a plateia ao perguntar “vocês querem mais uma?”. O grupo emendou a introdução de “Sabbath Bloody Sabbath” apenas para disfarçar a inevitável saideira, com “Paranoid”.



Setlist:

Black Sabbath
The Wizard
Behind the Wall of Sleep
N.I.B.
Into the Void
Under the Sun
Snowblind
War Pigs
Electric Funeral
Sweet Leaf/ Symptom of the Universe (instrumental)
Solo de bateria
Iron Man
Fairies Wear Boots
Dirty Women
Children of the Grave

Bis
Paranoid


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