Um Brasileiro no dia D. Este é o nome do novo trabalho do baterista dos Paralamas do Sucesso, João Barone. Mas não se trata de um disco solo ou coisa assim. Barone é apaixonado pela história da Segunda Guerra Mundial. Leu muitos livros e viu a maior parte dos filmes e documentários sobre o assunto (hoje é colaborador da revista Grandes Guerras, da editora Abril)

Em junho de 2004, Barone iniciou uma viagem com seu jipe – despachado via aérea – saindo do Rio de Janeiro rumo as praias da Normandia, onde ocorreu o histórico desembarque aliado em 1944, o célebre Dia D que marca o início da Guerra.

Um Brasileiro no Dia D é o nome do documentário produzido por Barone ao longo da viagem, e que chegou às bancas no dia 23 de novembro, lançado pela série de DVDs da revista.

Entre os principais momentos do filme está o encontro com o único brasileiro conhecido que participou do Dia D, o franco-brasileiro Pierre Closterman (1921-2006), considerado o ‘ás’ da aviação francesa durante o conflito.

Barone resume este trabalho como um “road movie histórico”, tentando incluir o Brasil no contexto de um importante episódio da história do mundo. “É preciso lembrar e valorizar tudo que aconteceu naquela época, para que as gerações atuais e futuras não esqueçam jamais”. Em uma rápida entrevista exclusiva ao Virgula, ele falou mais sobre essa viagem à Normandia.

Como é o clima da Normandia, 60 anos depois do fim da 2ª Guerra Mundial? É um país que ainda vive com peso da guerra, da sua história, ou conseguiu ser “um novo país”?
João Barone – A região da Normandia (noroeste da França) é muito bonita, uma mistura de campo e praia. Lá existe um roteiro turístico-histórico voltado para o Dia D, que aconteceu no dia 6 de junho de 1944. Ao longo das praias da região, ainda existem os restos das fortificações (bunkers), muitos deles desenhados pelo próprio Hitler, e que foram construídos durante a ocupação nazista da França, para defender a região. Mas isso não segurou a maior operação militar já realizada na história… . A Europa ainda tem muitas marcas deixadas pelas duas grandes guerras do século passado. Mas agora, com a unificação, existe um clima de boa vontade entre os países nessa grande empreitada.

No documentário você entra num tanque de guerra. Qual a sensação de estar lá dentro? Deu para se imaginar como um soldado em ação?
JB – É, um pouco. Aquelas latas de sardinha eram muito desconfortáveis. Pessoas morriam queimadas ali dentro.

O que despertou seu interesse pela 2ª Guerra Mundial, entre tantas outras guerras que marcaram o mundo?
JB – O fato de ter alterado o mundo de forma definitiva durante e depois do conflito. Além de tudo, meu pai foi à guerra e sempre me interessei pelo lado humano da coisa, do drama de cada um que foi para a guerra sem saber se voltaria vivo.

Você viajou com um roteiro pronto? Quando chegou lá mudou muita coisa?
JB – Havia uma linha de ação, mas o diretor, Victor Lopes, soube aproveitar bem tudo que quase acidentalmente aparecia na nossa frente. Assim, tivemos que dançar conforme a música… Mas tivemos muita sorte e sangue frio, foi tudo culpa de uma equipe guerrilheira ter conseguido imagens e depoimentos tão preciosos.

Foi sua primeira viagem para o país?
JB – Não, já havia ido à França inúmeras vezes para tocar, mas nunca na região da Normandia.

É possível aprender algo com a guerra? Se sim, o que você acha que se aprende?
JB – A guerra acompanha a Humanidade desde os tempos primordiais. Desde as civilizações mais evoluídas até as mais primitivas, tiveram que guerrear em algum momento. A Grécia, Roma, no Oriente, a China Milenar, na Idade Média, as Cruzadas, nos tempos napoleônicos, a guerra pela independência e depois a guerra civil nos Estados Unidos. A guerra do Paraguai… Algumas guerras foram “justas”, nos tempos em que apenas os soldados lutavam em campos longe das cidades. Depois, a guerra passou a espalhar o terror entre as populações inocentes. A lição que fica é: quem já esteve numa guerra, não quer mais saber de voltar, nem quer seu semelhante numa guerra… Mas parece que a Humanidade não quer aprender.

Já tem outro plano envolvendo este tema?
JB – Sim, quero fazer o próximo documentário sobre os brasileiros que lutaram na Itália, na Segunda Guerra, uma bela página da nossa história que não pode ser esquecida. Vai ser parecido com este documentário que acabo de realizar, mostrando a coisa de forma dinâmica e bem retratada, sem “patriotada”, mas valorizando o sacrifício dos brasileiros que tiveram que ir para a guerra, sem escolha.


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João Barone lança documentário no qual o protagonista é a guerra, não a música

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