Irmãos de sangue estão soltos no pelotão de frente do Britpop. Não apenas Noel e Liam Gallagher, do Oasis, e Chris e Al Martin (das bandas Coldplay e Milk Teeth, respectivamente) integram tal fraternidade genética. Líder do Radiohead, provável banda de rock mais desejada pelos palcos brasileiros hoje, Thom Yorke também compartilha pai e mãe com Andy, 36 anos, ex-vocalista da banda Unbelievable Truth, que está em turnê promovendo seu primeiro e recém-lançado álbum solo, Simple.

O parentesco não indica grandes afinidades musicais. Thom e seu Radiohead são a principal voz de experimentação, catarses emocionais enfáticas e melancólicas do pop britânico – um pacote traduzido em falsetes de esquentar até sangue de barata e letras geralmente herméticas (como na clássica Fake Plastic Trees: “Ela mora com um homem quebrado / um homem de polistireno rachado que só se desmorona e se queima / Ele costumava fazer cirurgia para garotas nos anos oitenta / mas a gravidade sempre vence”).

Seu irmão caçula e mais bonito, porém, investe em canções de letras fáceis de compreender, inspiradas principalmente pelo folk e que vão direto ao ponto, sem grandes metáforas (como em Simple, “Você sabe que é simples / Eu quero que as coisas me confundam / Mas você sabe que são simples / Você tinha razão”). As semelhanças entre os cantores da família Yorke são sutis, portanto: se resumem à alta sensibilidade, a um romantismo exarcebado e à beleza lírica das letras.

Andy prefere não falar sobre o irmão em entrevistas, mas não fez cerimônia ao revelar ao Virgula Música as razões que o levaram a dar um fim no Unbelievable Truth. “Eu estava muito infeliz naquela época e sentia que estava em um caminho errado”, confessou. “Eu queria usar meu cérebro. Com o tempo, obviamente comecei a compor novamente, mas o importante para mim é que não houvesse pressão. Foi apenas isso que motivou a minha volta à música, desta vez como artista solo”.

Ouça Simple, de Andy Yorke

Paixão russa

Com o Unbelievable Truth, Andy lançou três álbuns, Almost Here (1998), Sorrythankyou (2000) e Misc Music (2001). É trajetória discográfica que pode parecer naturalmente prolífica, mas que foi, na verdade, um tanto atormentada pela outra grande paixão vital do cantor: a Rússia! “Se não fosse pela Rússia, eu provavelmente nunca teria tido determinação para aprender a tocar violão e compor”, diz. Foi também para viver mais intensamente essa inusitada relação de amor pela terra dos czares que o irmão de Thom Yorke interrompeu o Unbelievable Truth, no início desta década.

“Eu visitei a Rússia pela primeira vez em 1987, quando tinha 15 anos, quando ela ainda era a União Soviética. Foi uma viagem do colégio e também visitei a Ucrânia, a Armênia, o Azerbaijão e a Geórgia. Foram dias que tiveram um impacto imenso sobre mim – era tudo tão diferente de tudo que eu já tinha experimentado”, relembra. “Então, em 1990, eu viajei novamente à Europa Oriental e à União Soviética. Vi demonstrações pró-democracia em Praga e Budapeste. Na Lituânia, vi helicópteros de militares soviéticos jogando panfletos sobre a capital Vilnius, pedindo que as pessoas parassem de pedir a independência”.

“Em 1992, fui viver em Moscou para estudar durante um ano – a União Soviética tinha entrado em colapso e estava tudo mudando”. Andy garante que foi o ano mais intenso de sua vida. “Fiz muitas amizades que duram até hoje e vivi muitas aventuras, boas e ruins”. Foi assim que o ex-Unbelievable Truth ficou tão em dúvida sobre se sua praia era estudar política russa ou mergulhar de vez na música. Agora, com Simple, ele parece finalmente ter alcançado um ponto de equilíbrio.

Ouça Found the road, de Andy Yorke

Solo acompanhado

Os shows de Andy são solo em termos, porque o inglês continua ao lado de Nigel Powell e Jason Moulster, seus companheiros da banda Unbelievable Truth, em sua carreira solo. “No fim, minhas apresentações solo são basicamente feitas pelo Unbelievable Truth mais dois, porque incluem o Nigel e o Jason, mas também um novo guitarrista/tecladista e um violoncelista”, conta. Alguma chance do cantor subir aos palcos brasileiros em breve? “Tenho recebido propostas do México, então uma turnê pela América Latina não está fora de cogitação”, diz Andy, que ruma para apresentações no Japão em dezembro. Simple, que está sendo distribuído no Reino Unido pelo selo Cargo, saiu para os nipônicos em 29 de outubro, pelo selo Vinyl Junkie. Os Estados Unidos recebem o disco pelo selo Chocolate Lab, em 18 de novembro.

Quanto ao Brasil, Andy Yorke ainda procura parceiros para comercializar Simple por aqui e está considerando a possibilidade de fazê-lo em plataformas on-line de venda de música. Interessados agendar em apresentações brasileiras do rapaz, bem como em enviar propostas de lançamento do álbum no País, podem mandar um sinal de fumaça por meio do site oficial do cantor.


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Irmão de líder do Radiohead, Andy Yorke comenta volta à música e procura parceiros brasileiros