Dá para entender por que Chinese Democracy levou 13 anos, vários milhões de dólares e uma quantidade absurda de músicos, produtores e técnicos para ser finalizado. As 14 faixas do aguardadíssimo disco novo do Guns N’ Roses – ou melhor, o que sobrou dele, encarnado na figura do vocalista Axl Rose – são uma sobreposição impressionante de timbres, efeitos e instrumentos, em um trabalho minucioso de mixagem e edição digital. Os arranjos também são bem intrincados, misturando guitarras pesadas, intervenções eletrônicas e elementos pop, em um resultado distante do que a banda fez no passado. O problema é que tanta informação torna a audição cansativa e, em muitos casos, desvia o foco do que realmente interessa: as músicas.

Apesar dos exageros, Chinese Democracy até tem boas músicas: a pesada faixa-título, Shackler’s Revenge – a mais industrial do disco, lembrando até bandas como White Zombie e Nine Inch Nails – e Better, a única realmente ótima e que já toca faz tempo nas rádios brasileiras. Nessas faixas, as boas melodias criadas por Axl conseguem se sobressair em meio à maçaroca sonora produzido por cinco guitarristas (Robin Finck, Richard Fortus, Paul Tobias, Buckethead e Ron “Bumblefoot” Thal), dois tecladistas (Chris Pitman e Dizzy Reed), dois bateristas (Brian Mantia e Frank Ferrer), além do baixista Tommy Stinson e do próprio Axl, que se aventura pelos teclados, piano e guitarra. E mais batidas e efeitos eletrônicos, samplers, coros, sintetizadores, instrumentos orquestrais…

Não por acaso, Chinese Democracy atinge melhores resultados justamente em músicas pesadonas, em que a barulheira acaba contando a favor. Nas mais pop, como I.R.S, Madagascar e If the World, que conta até com um violão flamenco, o novo Guns N’ Roses é quase um fracasso, ainda que se ouça uma boa levada de piano aqui, um refrão pegajoso acolá. Com a voz esganiçada de Axl Rose, que não economiza nos agudos (será que ele consegue cantar assim ao vivo?) e a massa de guitarras, responsável por executar solos virtuosos e bases com afinações baixas que lembram grupos como Evanescence, a sutileza vai para o espaço e o que era para ser suave fica arrastado e irritante. As exceções a essa regra são as simpáticas Catcher in the Rye e Prostitute.

A grandiloqüência exagerada de Chinese Democracy é, mais do que uma estética artística, o retrato da megalomania de Axl Rose, que brigou com todos os seus ex-companheiros – deu-se, até, ao luxo de dispensar um guitarrista genial como Slash – para mudar a sonoridade do Guns N’ Roses. Com sua nova persona artística, ele derrapou muito mais do que acertou, mas ganha pontos pela coragem de não seguir o caminho fácil de emular a sonoridade da banda antiga para garantir a aprovação dos fãs. No fim das contas, o disco vale menos de 20% do tempo e do dinheiro que custou à gravadora Geffen Records, mas também não merece ser ridicularizado. Ainda mais num mundo em que 50 Cent, NXZero e outros sem-talento fazem um baita sucesso…


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Chinese Democracy, novo do Guns N' Roses: muita informação, pouca música