Os capixabas do Dead Fish estão completando 18 anos de estrada com o lançamento de seu sexto álbum de estúdio, Contra Todos, o terceiro por uma grande gravadora e o que marca a saída do baterista Nô.

Com a perda de um dos integrantes originais, o agora quarteto recrutou o baterista Marcão (ex-Ação Direta) para assumir as baquetas no lugar do membro fundador, que optou por seguir um curso diferente do restante da banda.

Nossa equipe foi até o escritório da gravadora Deckdisc em São Paulo para bater um papo com Rodrigo (vocalista e principal letrista) e Philippe (guitarrista) sobre o novo álbum, os planos e as mudanças que o Dead Fish está enfrentando. Leia abaixo a divertida conversa na íntegra.

Virgula – Bom, falando um pouco do Contra Todos, eu gostei bastante do disco. Vocês como quarteto não ficam devendo nada para a sonoridade que conseguiam como quinteto, enquanto ainda tinham o Hóspede na banda.

Philippe – Pô, obrigado!

Virgula – E vocês mostrar que o som de vocês está amadurecendo sem ficar muito diferente nem fazer sempre a mesma coisa, que nem o AC/DC, por exemplo. Qual o segredo de vocês pra fazer isso?

Philippe – Bom, primeiro eu acho que a intenção foi sair fazendo música sabe? Tentamos gravar da maneira mais espontânea, sempre captando tudo. De cara fizemos umas 20 músicas e a partir daí escolhemos quais que iam ser legais de trabalhar e ficamos nelas. Essa escolha já deu o rumo pra gente. Nós queríamos fazer mais simples e com aquela intensidade, pra deixar o mais rápido possível e não ser tão “fácil” de tocar. Todo mundo penou um pouquinho ali porque tinha aquilo do “Ah, não… vamos fazer só um pouquinho mais rápido”, e aí ficava difícil.

Rodrigo – Colocava um pouquinho de carimbó (risos)!

Philippe – É isso mesmo. Rolou uma pimentazinha.

Rodrigo – Mesmo a gente fazendo um ritmo que é mais ortodoxo e conservador, a gente não gosta de se repetir. Apesar das pessoas falarem: “ah, eles se repetem” e isso e aquilo… não! Nós sempre queremos fazer alguma coisa diferente, apesar de estarmos sempre naquele quadradinho do hardcore. Como o Philippe diz, nós temos que dar sempre o nosso melhor em velocidade ou vamos dar o nosso melhor em letras mais diretas… Então eu acho que é por isso.

Philippe – E tem outra coisa, você perguntou qual seria a fórmula. Eu acredito que há algumas fórmulas pra se fazer isso. Tem algumas intenções nossas ali no meio, como o ponto de ter músicas menores, por exemplo. Pensamos em fazer as músicas pequenas porque não precisa repetir. Se a gente repetisse, elas iam ficar quadradas demais. Então ela começa e acaba.

Rodrigo – A ideia era dar uma intenção pro disco. Apesar de não ser um disco conceitual, ele tem coesão. Nós queríamos dar a intenção do que a gente quer fazer neste trampo. E tem aquela coisa. O Um Homem Só foi um CD em que nós experimentamos coisas. Nós testamos várias idéias ali que, na minha opinião já que isso não é um pensamento de toda a banda, não funcionaram tão bem.

Virgula – Outra coisa que dá pra notar é que vocês acreditam no hardcore agressivo. Porque hoje a maioria das bandas do estilo acabam preferindo a técnica e as experimentações à agressividade. Como vocês vêem isso? Vocês acham que a agressividade é o mais importante no hardcore?

Rodrigo – Cara, eu não acredito que agressividade seja uma tônica do hardcore, porque aí a gente vai cair pra um lado que é um som mais “tough”, sabe? (risos) Mais músculos, mais rapidez e mais violência. Acho que apesar de tudo esses conceitos tão sempre ligados ao estilo. O hardcore é por natureza uma música rápida e agressiva, então não dá pra gente querer que esfacele essa idéia sabe? Não queremos que se dilua isso porque nós somos uma banda de hardcore.

Philippe – É, a agressividade tá dentro disso, mas não é ponto principal. A questão não é bater forte ou fazer cara de mal quando tá com a guitarra… (risos)

Rodrigo – O principal é a parada ser rápida e passar alguma coisa. Pelo menos é a nossa proposta de hardcore, já que a música é muito segmentada.

Virgula – Outra coisa da qual gostei bastante foi a arte do encarte. Ficou muito legal a ideia de ser um formato meio jornal. Me lembrou até alguns encartes do Dead Kennedys. Vocês se inspiraram em algum desses encartes pra ter essa idéia?

Rodrigo – Sim, algumas das idéias vieram sim desses Dead Kennedys, apesar de eles usarem mais colagens.

Virgula – E quem fez a arte de vocês?

Rodrigo – Ah! Foi o Flávio Back, do www.antitudo.com.br. É um cara que já é uma referência nossa. Um paulistano que é muito envolvido com o cenário independente e nós sempre admiramos muito o trabalho dele, sendo que ele chegou até a fazer umas camisetas pra gente. Aquela do gatinho lambendo os beiços, que ficou famosinha até, foi ele que desenhou.

Philippe – E foi engraçado também porque como não tinha uma coisa conceitual nas letras, apesar de as melodias e harmonias serem próximas, não tinha uma liga entre as faixas. Isso mostrou alguma dificuldade pra escolhermos o trabalho que ia ser feito no encarte, até que o tema dele bateu na nossa cara.

Rodrigo – Ele trouxe coesão pro trabalho, foi inpressionante mesmo.

Philippe – Nós estávamos em dúvida em relação a qual lado seguir e ele nos deu uma direção.

Rodrigo – Inclusive a ideia que ele deu pro desenho no próprio CD, que tem escrito “todos contra todos todos contra todos todos contra todos”, sem vírgula. É uma serra circular e mostra essa ideia de ser realmente um “todos contra todos”, uma serra que vem moendo tudo que encontra. Ficou muito louco! (risos) Foi tudo ideia dele.

Virgula – E o Marcos? Como foi a entrada dele na banda, principalmente pela substituição do Nô que já estava com vocês desde o começo. Como que rolou essa troca de bateristas?

Rodrigo – Bom, a banda já passou por várias trocas de integrantes no decorrer desses 18 anos. Mas a saída do Nô, sem dúvida, foi a mais difícil. Pra citar o próprio Philippe, foi como perder um parente próximo ou acabar com um casamento que durou muito tempo, entendeu? Fácil não foi! Acredito até que tenha sido a coisa mais difícil que o Dead Fish já fez. A gente, individualmente, preferiu preservar o mínimo de sentimentos bons que existiam mutuamente. Não podia virar uma empresa. Não podia virar algo assim. Apesar de estarmos no mainstream, continuamos sendo uma banda de amigos.

Philippe É bem por aí mesmo!

Rodrigo – E a entrada do Marcão, por ele já ser amigo e conhecido nosso de muito tempo, foi uma coisa que fez a diferença. Porque nós saímos de uma tempestade e não queríamos nos adaptar nem tentar uma coisa nova. Queríamos que isso fosse uma coisa pétria e certa. E o Marcão era o cara ideal pra isso.

Virgula – E pra falar um pouco do Nô, ele organizou uma exposição lá no Hellno, onde foi a pré-produção do Contra Todos, onde ele expôs os trabalhos de vários artistas em pele de baterias que foi muito bem recebida. Queria perguntar se vocês também tem essa ligação que ele tem com as artes, de querer fazer curadoria de exposições, por exemplo…

Rodrigo – Cara, eu não sei bem… Vai lá Philippe, você é produtor, cara (risos).

Philippe – Não sei bem, produção vale também?

Virgula – Também! Artes em geral… Produção também vale.

Rodrigo – Apesar de eu não acreditar na arte, a produção é arte (muitos risos).

Philippe – Acho que todos nós estamos pendurados de alguma maneira nisso.

Rodrigo – Nós resolvemos seguir por um caminho no qual fica impossível não se envolver com outras coisas. O hardcore não é só música, né? Eu tenho um pensamento e uma opinião política que veio em decorrência da música hardcore. Eu moro no centro da cidade e isso mexe com a curiosidade. Logo que eu cheguei, já conheci um bando de malucos, entre pixadores, grafiteiros, maluco, bêbado, poeta… Enfim, você está sempre lidando com outros tipos de pessoas.

Philippe – Nessa parte de arte de rua, acho que São Paulo é o melhor lugar do mundo. Aqui as coisas acontecem mesmo e você pode ver que é um lugar farto pra isso. É possível conhecer muita gente.

Rodrigo – E independente disso, se um dia nós tivermos que parar com a música, eu quero estar envolvido com alguma coisa do gênero. O Philippe vai estar fazendo produção, eu vou estar envolvido em algo relacionado a escrever…

Philippe – A arte sempre vai estar no meio disso, até como inspiração pra gente, né? Em termo de arte, música e produção, elas são seus canais. Servem pra te ajudar a colocar as ideias pra funcionar.

Virgula – Falando em produção, como foi trabalhar novamente com o Rafael Ramos no novo disco?

Philippe – Bom, foram três discos com a Deckdisc. Desde o Zero e Um, ele está junto com a gente fazendo a produção. É muito bom porque o Rafael é um cara que gosta da banda e que está ali pra somar. É um ângulo de fora, né? Uma cabeça de fora pra ver como as coisas estão. É sempre bom fazer um disco com uma estrutura tão boa quanto o estúdio da Deck, lá no Rio. Sempre fomos pra lá fazer, ficamos um tempo gravando e foi bem especial. Ao longo dos cinco anos que nós estamos na gravadora, esse disco foi o mais fácil. Foi muito válido fazer.

Virgula – Ta certo! Para nós fecharmos, já estou sabendo que vocês vão fazer o lançamento do disco no Hangar 110. Quais são os planos de vocês pra turnês em 2009?

Rodrigo – É isso mesmo. Nós vamos fazer o lançamento no Hangar e depois vamos pra uma turnê no nordeste. Não temos muitas datas ainda, mas nós já sabemos pra onde queremos ir em cada período do ano. Inclusive queremos voltar pra Argentina, Chile e Uruguai, depois Europa e outros lugares mais.

Philippe – E tá todo mundo convidado então para o lançamento do Contra Todos nos dias 21 e 22 de março, no Hangar 110. Vai dar pra mostrar bem o disco novo e toda a nossa energia, já que o ano está só começando. Esperamos todos lá.

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Dead Fish fala sobre disco novo, saída do baterista e planos para o futuro