Foi depois de presenciar uma mulher em transe, como se tivesse encarnando o demônio e dizendo em diversas línguas que os jovens o seguiam até o inferno através das discotecas, que o padre José Henrique teve a idéia de criar a Cristoteca – balada com tudo o que atrai a moçada, menos as tentações do demo, como drogas, álcool e sexo.

Há cinco anos a festa cristã é a mais bombada do bairro do Brás, região central de São Paulo. Toda sexta-feira uma enorme fila se forma em frente à casa transformada em clube. Na pista, DJs, bandas de rock e grupos de axé (que na Cristoteca são chamados de Louvadeiras) fazem a alegria da galera afim de se divertir com refrigerante e música gospel.

A recepcionista Dayane Cardoso Gomes Scaramussi, 27, freqüentava baladas comuns antes de descobrir a Cristoteca. “Gosto de sair à noite desde os 12 anos. Tinha semana que saia de quinta a domingo”. Casada há um ano meio com o DJ Rodrigo – residente e um dos organizadores da festa – Dayane faz parte do Ministério da Dança, espécie de grupo que anima a noite com coreografias comportadas – sem requebrados. “O Ministério da Dança é uma desculpa de Deus para aproximar os jovens e lhes passar uma boa mensagem”, diz a moça. “O principal diferencial da Cristoteca é que as músicas te passam uma coisa boa. Coisas como créu e cachorra não levam ninguém a lugar a nenhum. Fora que as amizades feitas na nossa festa são muito mais saudáveis também”.

Só no refri

Idealizada pelo grupo cristão Aliança de Misericórdia, a festa semanal rola num ambiente igual a uma danceteria, mas com a presença da palavra de Jesus entre uma batida e outra. Não há bebida alcoólica, drogas lícitas ou ilícitas, nem amassos pelos cantos, uma vez que a igreja levanta a bandeira da virgindade. De acordo com o DJ Rodrigo, o objetivo é atrair o jovem com aquilo que o seduz no mundo – balada, danceteria, vibe, rave – e usar desse meio de entretenimento para levá-lo à religião.

Rodrigo já era DJ antes de tocar na festa. Para ele, a única diferença entre tocar em qualquer outra balada e na Cristoteca é que na festa religiosa o DJ só toca música Gospel. “Tem alguns DJs que produzem música eletrônica gospel. Eles pegam uma base pronta e colocam vinhetas e vocais com mensagens de Deus”, diz o DJ.

De acordo com o DJ, ninguém bebe ou se droga dentro do clube, mas na fila não tem como controlar o uso. “Hoje muita gente que não é da igreja freqüenta nossas festas. Por isso que não conseguimos proibir o que acontece na fila. Mas raramente vemos gente se drogando e quando a gente pega alguém tentamos conversar”, conta.

A festa começa às 22 horas com o Cristolanche, seguido de um aquecimento com músicas pop e rock, sempre com letras de louvor a Deus. Ovacionado pelos presentes, um padre entra às 23 horas para celebrar uma missa. A cerimônia se prolonga por duas horas. O público, de mais de mil pessoas entre 14 e 30 anos, vibra cada vez que o nome de Jesus é pronunciado. ”Que vocês sejam tocados pela alegria do Senhor”, abençoa o padre. Depois da missa é que a festa começa, os DJs de Cristo tocando dance, techno e hip hop. Não precisa nem pagar para ver, basta levar 1 quilo de alimento e aproveitar o momento de louvor.

Assista ao vídeo sobre a Cristoteca


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Cristoteca: Na pista com Jesus

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