Atitude, palavra desgastada. As palavras quando usadas indiscriminadamente, compulsivamente, impunemente perdem seu sentido, sua força, perdem a atitude.

Engana-se quem pensa que o passo inicial da humanidade, da civilização, foi o fogo, a roda, ou mais adiante a agricultura. Foi a palavra, falada, escrita, enfim…

Rumamos para um mundo cada vez mais escravo da imagem. E a palavra cada vez mais vale menos.

Quem leu 1984 sabe que George Orwell descreveu uma sociedade totalitária regida pelo Grande Irmão cuja característica era o controle do pensamento das pessoas através da manipulação das palavras, da junção das palavras: O DUPLIPENSAR que instituía absurdos como a crimidéia (crime + idéia), o crime de pensamento.

Hoje, através de blogs e comunidades as pessoas constroem a imagem que querem de si, transformando farsa em realidade numa evolução do stalinismo descrito por Orwell que nem em seus pesadelos pôde imaginar o que viria então com a internet.

Eu conheço um cara que traça seu perfil na rede, como um cara sensível, altruísta, culto, humanista, um ursinho de pelúcia em meio à essa selva de feras que é o nosso mundo. Quem o conhece bem de perto sabe como ele realmente é. Quem não o conhece o compra.

Se o bichinho-da-verdade o picasse ele se descreveria assim: “SOU FAKE, INVEJOSO, INFANTIL, DE PERSONALIDADE FRACA E SEXUALIDADE CONFUSA, COM TENDÊNCIAS FASCISTAS FREQUENTO OS SITES DE SUBMISSÃO. ENFIM, SOU UM BOÇAL”.

Todos conhecem pessoas que vivem assim na rede, cercados de puxa-sacos e babadores-de-ovo. O nome disso é solidão. É esse fenômeno humano que transforma, por exemplo, a palavra atitude em slogan de aparelho de barbear. Próprio para caras-de-pau.

No futebol, a palavra atitude virou moda, principalmente após o fracasso da nossa seleção e da sua comissão técnica. A sentença geral foi que faltou atitude aos jogadores e principalmente ao técnico Parreira.

Há técnicos que escrevem livros, dão palestras por cachês altíssimos. Eles usam linguagem coloquial e não parecem ter saco para dar entrevista.

Há técnicos que vestem belos ternos, usam pranchetas e se valem de palavras vagas como: filosofia, planejamento e outras pérolas da auto-ajuda. Já eles usam moletom do clube, e não ligam muito para a própria aparência dentro e fora do campo. Estou falando de Murici Ramalho e Abel Braga, eles não usam black tie, mas são responsáveis por times que vem jogando o fino da bola, dando espetáculo e chegando a decisões sucessivas. Foram jogadores de destaque que marcaram época nos clubes que vestiram a camisa e falam a linguagem do jogador.

Parabéns aos dois por terem sido os maestros da sensacional final da Libertadores, sem desgastarem palavras da moda e sem enganar o torcedor com uma imagem que não corresponde a realidade.


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Coluna do Nasi - Eles não usam Black Tie