A disputa por ingressos para as apresentações da Los Sebosos Postizos, banda em que integrantes do Nação Zumbi fazem versões de Jorge Benjor, e do próprio autor de País Tropical frustrou muita gente que amargou esperas de horas e não conseguiu comprar entradas para as apresentações que se realizam nos dias 23, 24,25 e 26 de janeiro, na Choperia do Sesc Pompeia.
Tal ímpeto evidenciou também que o culto a Jorge Benjor, especialmente por sua fase clássica, nos anos 60 e 70, com alguns lampejos de genialidade nos anos 80, 90 e 2000, continua em trajetória ascendente. Em entrevista ao Virgula Música, o vocalista da Los Sebosos e da Nação, Jorge du Peixe aponta que “ninguém cansa de ouvir” a extensa discografia do seu xará.
O músico que segurou a bronca de ocupar o posto de Chico Science (1966-1997) comentou os aspectos mais revolucionários na obra do ídolo na sua opinião. “As melodias, os discos com arranjos de orquestras do tempo da Phillips, os músicos que ele acabou solicitando, os produtores musicais da época. Toda a obra dele, os discos são diferentes. Tem uma melodia única, o violão tocado de uma maneira única”, afirma du Peixe.
O recifense esclarece também que as duas bandas não irão se apresentar juntas. “Isso tem que ser bem ensaiado, demanda tempo e eu creio que por ser começo de ano ficou meio inviável”, diz. A Los Sebosos Postizos, que abre a noite, reúne o vocalista, Lúcio Maia (guitarras), Dengue (baixo) e Pupillo (bateria e percussão) e Da Lua (percussão), todos integrantes da Nação, com participação de Chiquinho Corazon (teclados), do Mombojó.
Em seguida, para animar ainda mais a festa, é a vez de Benjor chegar com a banda do Zé Pretinho, formada por Dadi Carvalho (baixo), Luquinhas (bateria), Lory (piano), Neném do Cavaco (percussão), Jean Arnout (saxofone) e Marlon (trombone).
Os ingressos para os shows evaporaram. Vocês esperavam algo assim?
Fiquei de cara com isso, foram alguns minutos, não chegou nem a uma hora. A festa vai ser boa.
Teve gente que falou a respeito desse show que era como se fosse uma banda cover dos Beatles que tocaasse com Paul McCartey?
É bem próximo disso, Jorge Ben é um dos músicos que grandíssima importância para a cultura do país. Jorge Ben, da época da bossa nova, fazendo do jeito dele, tem história para contar de sobra.
Junto com a banda do Zé Pretinho, então, com essa discografia bem extensa, que ninguém cansa de ouvir. Para gente está sendo uma honra. Esse projeto tem 15 anos. A gente já lançou também um disco com a autorização dele e em momento nenhum ele travou nada. Acho que o filho dele baixou um arquivo com a gente tocando no Sesc Pompeia, em 2004, se não me engano, e ele já gostou.
É uma coisa bem diferente, as originais são mais solares e a gente faz uma parada mais com a linguagem da gente, até um pouco mais soturno, posso dizer assim. Trazer a obra dele para o meu tom de voz também é outra situação. Então, é uma noite de celebração para a obra de Jorge Ben, pode-se dizer assim. Serão dois momentos distintos, o show dos Los Sebozos abrindo a noite e depois Jorge Ben com a Banda do Zé Pretinho mostrando a obra no formato original, e a gente ali com as versões ali. Vai ser celebração total, sem dúvida.
Vocês vão tocar algumas músicas juntos?
Não. Isso tem que ser bem ensaiado, demanda tempo e eu creio que por ser começo de ano ficou meio inviável. Talvez lá na frente a gente possa fazer algo nesse sentido, mas dessa vez serão dois shows separados. Só o fato de estar tocando ali na mesma noite, pode-se dizer que é quase um show só. Dividir o palco com ele já é grandioso, só festa mesmo.
Hoje em dia existem vários projetos e grupos que tocam obras de grandes nomes da música brasileira, como o Del Rey, também de Recife, que toca a obra de Roberto Carlos. Vocês tiveram influência nesse movimento?
Acho que os Los Sebozos chutou essa bola primeiro, depois veio uma pá de gente, tem o Dizmaia (banda especializado em Tim Maia), o Seu Chico que é de Chico Buarque aqui também de Recife, o Del Rey. É legal também homenagear e celebrar os artistas enquanto eles estão aqui também vivos, o artista pode ver uma geração nova de certa forma fazendo uso e louvando a sua obra, acho bem legal isso.
A Nação Zumbi também tem uma versão clássica de Todos Estão Surdos, de Roberto Carlos, com Chico Science…
Fizemos para aquele disco Rei (Sony), com Chico ainda. E, claro, quem não gosta de Roberto Carlos? Ele tem uma discografia extensa, os discos ali dos anos 60 e 70, muita gente ainda está descobrindo os títulos, nem tudo foi lançado em CD. Vale fazer tudo isso para a a geração nova conhecer a obra de artistas de outra época, com uma intenção sonora diferente, com uma outra visão, outra perspectiva sonora. Alavanca também o artista, traz de volta, atiça a curiosidade da geração nova.
Você acha que o Jorge Ben pela influência dele é hoje mais importante que o Roberto Carlos?
Cara, não dá para colocar numa balança, cada um tem o seu devido valor para época, isso de quem é mais, quem é menos, acho que não compete a minha pessoa. Mas são duas figuras importantíssimas da música do país há quanto tempo e até hoje, quanto tempo de estrada os dois têm.
E são situações distintas, Jorge Ben começou do samba, partiu do samba e Roberto Carlos vem com a jovem guarda. São conteporâneos ali, mas são bem distintos, eu acho. O país faz isso, não é cara? O Brasil faz isso, tem essa diversidade que você em segundos muda o seu gênero musical ali, bota teu ouvido em outro modo em frações de segundos. Tem muita coisa para ouvir. Tanta coisa que muita gente no país não conhece ainda. A real é essa.
Em que aspectos você diria que Jorge Ben é mais revolucionário na música dele?
As melodias, os discos com arranjos de orquestras do tempo da Phillips, os músicos que ele acabou solicitando, os produtores musicais da época. Toda a obra dele, os discos são diferentes. Tem uma melodia única, o violão tocado de uma maneira única. Então, todos esses detalhes acabam fazendo o diferencial de cada artista.
Em relação à Nação, depois de tanto tempo de carreira e sabendo que os números da indústria hoje são outros, o que vocês pretendem alcançar com o novo disco?
Tudo mudou, como é visto o show e como é ouvido o disco, está tudo diferente. Como se pode chegar perto do artista, a relação entre artista e fã. Tudo se alterou. Esse universo digital acabou trazendo uma visão nova para tudo. Você tem que se adequar a esse meio todo. A intenção agora é continuar levando a tua música para o maior número de pessoas possível e o mais longe possível.
Todo artista, a cada lançamento, a cada disco, acho que o desafio é esse. E tem as ferramentas que tornam isso muito mais fácil hoje em dia. A internet possibilita isso, você disponibiliza, você compartilha. Enfim, o desafio maior é esse, levar o teu som o mais longe possível.
E o que para você não mudou, que continua o mesmo?
Cara, tudo muda, nada fica parado, está tudo em constante processo de mudança. Não faria sentido se repetir, então a ideia é trazer, claro, um frescor a cada disco, uma ideia nova.
É difícil falar sobre música. Só se constata essa mudança, essa diferença, ouvindo realmente o disco. É até engraçado quando as pessoas falam, faça um faixa-a-faixa. O máximo que você pode fazer é falar o nome da música e um breve comentário sobre um riff e uma batida. Mas a música é assim, você constata essa mudança realmente ouvindo e deixando soar através do seu esqueleto.
Alguns integrantes do Nação estavam tocando com a Marisa Monte, essa experiência acaba sendo aproveitada pela banda?
Lúcia, Dengue, Pupilo fizeram parte da turnê com ela. É bem legal isso, importante para caramba. É legal o artista se colocar em posições diferentes e tal e você acaba adquirindo coisas novas, tudo isso acaba atrelado à Nação Zumbi. É uma somatória de experiências que a gente vai adquirindo saindo da sua zona de conforto de tocar na tua banda. Participar ou colaborar com outras pessoas é importante para caramba. A gente sempre fez isso, sempre vivemos disso.
Você acha que existe alguém hoje que tenha a relevância que vocês tiveram quando vocês surgiram?
Cara, tem muita gente fazendo música boa no Brasil, muita gente mesmo. Tem uma gurizada, um pessoal novo fazendo um som novo. É difícil, nesse momento eu sempre equeço completamente dos nomes das pessoas. Mas tem muita gente, Lucas Santtana, Mombojó, China, a banda Eddie, Criolo. Tem tanta gente, tanta gente acontecendo Brasil afora. Tem a cena de Belém, importantíssima para o país. E não se restringe ao rock and roll, hip hop ou só alguns gêneros. Existe muita coisa acontecendo no país, pena que não seja noticiado como deveria ser noticiado.
SERVIÇO
Jorge Ben Jor e Los Sebosos Postizos, no Sesc Pompeia
Dias 23, 24,25 e 26 de janeiro, quinta e sexta-feira, às 21h30, sábado e domingo, às 18h30, na Choperia
Classificação indicativa: Não recomendado para menores de 18 anos.
(Crianças e adolescentes com idade inferior deverão estar acompanhadas dos responsáveis legais – pais, guardiões e tutores).
Ingressos: R$ 50 (inteira); R$ 25 (usuário matriculado no SESC e dependentes, +60 anos, estudantes e professores da rede pública de ensino) e R$ 10 (trabalhador no comércio e serviços matriculado no SESC e dependentes).
Duração: 90 minutos
Lotação: 800 pessoas
SESC Pompeia – Rua Clélia, 93
Telefone para informações: (11) 3871-7700
Para informações sobre outras programações, ligue 0800-118220 ou acesse o portal www.sescsp.org.br
Horário de funcionamento da Bilheteria – De terça a sábado das 9 às 21 horas e domingos e feriados das 9 às 19 horas.