No ritmo, samba-maracatu. No texto, letras pontiagudas. Este era Chico Science, que no dia 2 de fevereiro de 1997, morreu aos 31 anos, depois de bater seu Fiat Uno na divisa de Recife e Olinda, faleceu aos 31 anos.
Felizmente Chico teve tempo de mostrar a que veio na música, junto com sua turma de Recife: Fred 04, Nação Zumbi, Mundo Livre S/A e outros artistas que tentaram – e ainda tentam – fazer da música uma arte criativa, útil, rica em conteúdo e ritmos.
Chico trouxe o maracatu de Recife para o eixo Rio-SP, sendo um dos maiores representantes do Manguebeat, último movimento marcante da música brasileira, com direito até a manifesto, o “Caranguejos com Cérebro”, escrito por Fred 04, e que tem como símbolo uma antena parabólica colocada na lama.
O objetivo da turma manguebeat era um só: como o mangue era o ecossistema biologicamente mais rico do planeta, eles queriam criar uma cena tão diversificada quanto a vida no mangue. E conseguiram, tanto que contaminaram aristas de outras áreas como a literatura e o cinema, e ajudaram a transformar Recife num pólo cultural.
Os discos
O sucesso veio em 1993, quando ele fez uma rápida turnê do disco Da Lama ao Caos por São Paulo e Belo Horizonte. Bastou para que a mídia começasse a prestar atenção naquele rapaz baixinho, sempre usando roupas coloridas, chapéu e óculos, acompanhado da trupe da Nação Zumbi. Produzido por Liminha, o disco projetou a banda no cenário nacional com músicas como A Cidade, A Praieira e Da Lama ao Caos.
Em 1995 eles lançam Aforciberdelia, um dos melhores discos brasileiros de todos os tempos, com a mistura do maracatu com a eletrônica. Além de uma mega turnê nacional, a repercussão do disco foi tanta que pintaram convites para shows no exterior e até David Byrne – fã confesso da música brasileira e salvador da pátria de alguns artistas daqui, vide Tom Zé – manifestou interesse em lançá-los lá fora. Mas, acabou brecado pela gravadora do grupo no Brasil.
Desentendimentos à parte, o disco já vendeu até hoje mais de 190 mil cópias. Além de Chico e Nação, o disco conta com as participações especiais de Gilberto Gil e de Marcelo D2. Um dos melhores momentos é a releitura de Maracatu Atômico, de Jorge Mautner, e as autorais Manguetown, Macô, Criança de Domingo e outras.
Nação Zumbi pós-Chico
Com a morte de Chico, como acontece em todas as bandas que perdem sua principal figura, a Nação Zumbi ficou com um futuro incerto. Poderia tentar seguir o mesmo caminho ou dar um tempo, mudar o rumo. Ficaram com a primeira opção, e com Jorge Du Peixe nos vocais, já lançaram três discos.
Hoje, além dele, a Nação segue com Lúcio Maia, Dengue, Pupillo, Gilmar Bola 8 e Toca Ogan, dando continuidade ao ideal do manguebeat ao lado de artistas como Otto, Mombojó, Mundo Livre S/A, Cordel do Fogo Encantado, Mestre Ambrósio, ao que Chico Science começou. E pode-se dizer que essa turma está indo muito bem.