Marku Ribas
Créditos: Divulgação/Thiago Araújo
Produtor do lendário Afrociberdelia, de Chico Science & Nação Zumbi, fundador do Funk Como Le Gusta e mais recentemente envolvido com seus trabalho solo Bambas & Biritas, Eduardo BiD foi parceiro musical e amigo de um dos maiores músicos e performers já surgidos no Brasil, Marku Ribas, que morreu aos 65 anos no último sábado.
“Ele levou com ele sim esse amargo sabor de não ter sido compreendido pela massa”, conta BiD, que lembra de Marku como um criador incansável. “Seu coração pulsava músicas o tempo todo.”
Leia entrevista exclusiva com o músico e produtor, que aponta discos inesquecíveis do autor de Zamba Ben, de Underground (1972), sampleada por Marcelo D2 em A Maldição do Samba, e outros clássicos.
BiD também recorda de passagens curiosas do mineiro de Pirapora, notável por ser um artista completo, que também atuava, tocava percussão, dançava. Um legítimo performer, espécie em extinção na música não só brasileira, mas mundial.
Você tem coisas inéditas do Marku?
Tenho várias demos dele que nunca foram lançadas, e algumas canções que gravei de voz e violão quando estávamos preparando o show dele no Itaú Cultural que virou um DVD, com direção minha e dele. Tenho muitas imagens dos tempos do Bambas & Biritas vol.1 onde convivemos bastante e fortalecemos a amizade.
Como ele era no estúdio e no cotidiano?
Sempre vibrante, cheio de histórias, sempre com grande sorriso no rosto, postura e muito respeito. No cotidiano também, uma energia positiva, fazia musicas o tempo todo, cantava, batucava. Seu coração pulsava músicas o tempo todo. Era simples, comprimentava todos que via com um sorriso nos lábios. Cavalo das Alegrias, seu disco de 1979, descreve bem este compadre de Pirapora, Minas Gerais.
Lembra de alguma história engraçada dele?
Lembro de várias, mas não me esqueço há dez anos ele hospedado em casa e me ajudando a encher balões e na decoração da festa do meu filho Caio, de 2 anos. Ele e o Carlos Dafé juntos era divertido demais. Dois “tiozinhos” com almas de garoto.
Na sua opinião quais são os pontos altos na discografia dele?
Sem dúvida Underground (1972) virou clássico com as canções Zamba Ben, Orange Lady e Pacutiquibe Iao, com arranjos do mestre Erlon Chaves. Outros grandes discos são Marku (1977), com destaques pra Samba Reguê e Zi Zambi e o belo Cavalo das Alegrias (1979) com destaque pra Berro D’Água, parceria com Erasmo Carlos. Não posso deixar de citar sua participação em Fora do Horário Comercial, nossa parceria com Arnaldo Antunes do Bambas & Biritas Vol.1, que já nasceu clássica.
A carreira do Marku foi meio acidentada e ele não foi devidamente reconhecido. Ele tinha alguma mágoa por não ser famoso e rico?
Marku foi sempre a frente de seu tempo. Foi o primeiro a aparecer com dreadlocks numa capa de disco no Brasil, no álbum Underground. Ele veio junto da grande safra de artistas como Caetano (Veloso), (Gilberto) Gil, (Jorge) Benjor e outros, mas não teve a mesma sorte e a aceitação popular, talvez justamente por sua música ser mais elaborada, mais “underground” e por ser resistente a seus ideais não cedendo jamais aos pedidos e sugestões das gravadoras.
Marku tinha um domínio incrível do seu potente e afinado canto. Ele levou com ele sim esse amargo sabor de não ter sido compreendido pela massa, porém morreu dignamente, sendo considerado pelo meio musical como um gênio e ícone com sua rica e criativa música e seus ritmos do mundo. Não queria ser rico, queria sim era não ter problemas financeiros. Não deixou economias pra família, somente um legado de musicas e filmes exemplares que ficarão pra sempre.
Ouça Fora do Horário Comercial, de BiD, com Marku Ribas
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