Existem artistas mais gente fina (e fofos, por que não?) do que Fernanda Takai e John Ulhoa, do Pato Fu? A resposta é não. De BH, cidade onde moram, os dois músicos conversaram com a gente por telefone e falaram sobre o mais recente álbum da banda, o Não Pare Pra Pensar, lançado em 4 de novembro, junto com os clipes Cego Para As Cores e You Have To Outgrow Rock n’Roll.

Muito simpáticos como são (e como bons mineiros), eles não se importaram em estender o bate-papo para outros assuntos, como a carreira solo de Fernanda, o atual momento em que o Pato Fu se encontra no mercado fonográfico, e até disseram que Nina, filhinha do casal, adora dançar ao som do novo disco. É muita doçura! Dê uma olhada em nossa conversa:

Virgula Música: Como vocês descrevem o álbum Não Pare Pra Pensar?

John Uhoa: É um disco com músicas cheias de guitarras, com um lance mais pra fora, mais solar do que o último álbum, Daqui Pro Futuro (2007).

Então seria como um retorno ao Pato Fu antigo? Aquele bem pra cima, com algumas experimentações?

Fernanda Takai: Sim, tem uma cara do Pato Fu de início de carreira, que basicamente tinham músicas compostas pelo John, só que amadurecidas por 22 anos de estrada.

John: Não sei se é um retorno, mas é um clássico ‘patofuniano’ de raiz, com letras temáticas, músicas que eu canto e outras a Fernanda, coisas que são a nossa marca.

E como foi o processo de composição e gravação?

Fernanda: Foi tudo o John e o Ricardo que fizeram. Eu fiquei o primeiro semestre inteiro divulgando e tocando por aí com o meu último disco solo, o Na Medida do Impossível, e os dois ficaram cuidando das músicas novas do Pato Fu. Eu confio bastante no talento deles, então estava bem tranquila. Acabamos gravando durante a Copa do Mundo, pois foi uma época em que não tínhamos shows.

John: Algumas músicas foram feitas há uns dois ou três anos atrás, e nunca registradas, mas a maioria foi criada esse ano, logo que acertamos um prazo para finalizar o trabalho.

Algumas faixas do álbum têm uma pegada dançante. Isso se deve a mudança de baterista, ou foi intencional?

Fernanda: Foi intencional! A gente queria muito ter um disco que contrastasse de corpo inteiro com nosso último álbum. A Nina, a nossa filhinha se diverte muito com o disco, principalmente porque ela gosta de dançar.

John: Se fosse com o Xande (ex-baterista) seria dançante do mesmo jeito. Talvez fosse ficar um pouco diferente, mas a intenção prevaleceria. Em quase todas as músicas eu forçava colocar um beat bem pulsante, com riffs de guitarra meio anos setenta, junto com uns teclados quase disco. Daí essa mistura de triângulo com retângulo deu vida ao Não Pare Pra Pensar.

E o que andaram ouvindo para compor esse disco?

Fernanda: Posso lhe dizer que o segredo do John é que ele estava ouvindo muito Muse. Alguns amigos nossos da Inglaterra sempre falavam que o Pato Fu tinha alguma coisa a ver com o Muse. Daí vimos a transmissão do show deles no Rock in Rio e falamos um pro outro: ‘Nossa! Esse povo é muito bom mesmo! Vamos ouvir mais’, e foi a evolução do Pato Fu. O Muse foi a nossa musa (risos).

Inclusive a música Ninguém Mexe com o Diabo me lembra bastante Muse mesmo

John: Sim! Eu gosto daquela coisa épica deles e também do timbre de guitarra. É uma banda que ouço bastante, mas também me inspirei em Electric Six, além de nossas influências clássicas.

A música You Have To Outgrow Rock n’Roll já nasceu em inglês ou nem tentaram em português?

Fernanda: Ela nasceu em inglês mesmo. A gente não se preocupa se uma composição aparece em outra língua pois nos outros discos do Pato Fu sempre tivemos músicas cantadas em outros idiomas. O clipe dessa música (mais o Cego Para As Cores) dão uma ideia do que esperar do álbum novo.

John: Foi natural! Essa canção é o momento em que eu tento ser o Elvis Costello (risos). A canção é Elvis Costello puro, na composição e na letra! É uma coisa que eu sempre fiz, mas as pessoas nunca sacaram. A música virava em português, a Fernanda cantava, e as pessoas não percebiam de onde vinha a influência (mais risos).

No clipe dela, você aparece andando de skate com outros skatistas ‘das antigas’.  Tem alguma mensagem no vídeo?

John: O tema é sobre esse lance de falarem que você tem que abandonar o rock e se tornar um cara sério com a chegada da idade. O mesmo vale para o esporte. O nome do disco, Não Pare Pra Pensar, traduz bem issopois se parar pra pensar você não vai andar de skate com 50 anos, mas daí não ganha sorriso no rosto, que é o grande barato.

Fernanda, em que posição você se sente mais à vontade: no Pato Fu ou em carreira solo?

Fernanda: Tenho que dosar os dois. Fazer show solo é muito confortável, pois tenho controle de quase tudo. Já no Pato Fu eu divido a responsabilidade com meus amigos. Sabemos a responsa que é, pois a banda tem uma força tocando junto. É uma marca! A nossa carreira solo, tanto a minha quanto a do John e do Ricardo, abriu espaço para o Pato Fu voltar a ser mais roqueiro e mais vigoroso. Nossas viagens solos faz muito bem pra banda.

Como vocês enxergam o Pato Fu hoje? É um momento de reconquistar o espaço no mercado fonográfico?

Fernanda: Somos sobreviventes! Pra nossa sorte temos uma base de fãs muito sólida. E, apesar de aparentemente termos desaparecidos, temos uma agenda de shows cheia. Quem segue a gente nas redes sociais e pelo nosso site sabe que diariamente temos trabalho e novidades. Somos sortudos, porque várias bandas que têm talento não conseguem se equilibrar em certos momentos da carreira, e nós tivemos esse jogo de corpo.

John:  Não somos uma banda de um gênero só. A gente não preenche um segmento com tanta precisão, então é difícil saber onde a gente se encaixa hoje. As pessoas não sabem se somos certinhos ou esquisitos demais, então a longo prazo isso foi bom pra gente, porque algumas ondas passam e continuamos no mesmo lugar. Nossos fãs não estão interessados em ondas do momento, e com isso nos mantemos sempre de pé.


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"As pessoas não sabem se somos certinhos ou esquisitos demais", diz Pato Fu, que lança disco

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