De Araraquara, terra de Zé Celso e Liniker, chega mais uma grande aposta nacional artística: o compositor, instrumentista e arranjador Caê Rolfsen, que acaba de lançar o segundo álbum, A Nave de Odé. Bebendo em fontes de Jorge Ben Jor e Gilberto Gil, o músico, que reside na capital paulista, viajou ‘musicalmente’ até a África e Jamaica, e buscou referências religiosas e místicas para compôr o trabalho. Em papo com o Virgula, ele contou como rolou esse processo e também falou um pouco de sua essência.
“Acho que não resta dúvida de que o interior (de São Paulo) sempre produziu grandes músicos: Hermeto nasceu em Lago da Canoa, e João Bosco em Ponte Nova, só para citar alguns”, diz Caê, e relata como tudo começou: “Ainda moleque, eu já frequentava diversas rodas de samba pela cidade, e a convite do meu professor de matemática da escola que um dia me viu tocando Baden Powell no colégio, me convidou para tocar violão nas rodas que ele organizava”.
Após isso veio o contato com a religiosidade, que está bastante presente no álbum: “Na adolescência comecei a me interessar por discos, pesquisando repertórios e jeitos de tocar e cantar e assim acabei chegando no clássico Gente da Antiga, que reunia Clementina de Jesus, João da Baiana e Pixinguinha. Ali eu saquei um tipo de samba que vinha de outro lugar; ligado aos terreiros da Bahia e da região do Rio de Janeiro, que no começo do séc. XX chamavam de Pequena África. Hoje, a religião me conecta com um lugar especial, entre o consciente e o inconsciente. A minha maior manifestação dela é através da música”.
E de onde vem esse conceito de A Nave de Odé? “Essa ideia da nave apareceu nas letras, espontaneamente, representando aquilo que pode ser uma ponte espiritual entre o ser humano e forças místicas da natureza – um vetor entre a terra e o céu e o mistério que há além da nossa vida mundana. Já na parte musical, as canções estão muito ligadas a minha relação com o violão afro-brasileiro de Band Powell e Gilberto Gil. Também aos discos de reggae e de samba que me acompanham desde adolescência e tem muito do pop africano, Pat Thomas, Toni Allen, e coisas que só vim a conhecer recentemente através do Youtube e que não tem a ver com o universo afro-religioso.”, explica.
Também conhecido por ter cantado com Elza Soares e tocado com Paulinho da Viola, Caê aproveita o papo para falar sobre esses momentos incríveis: “Pra mim, cantar em dueto com a Elza e Paulo Moura na Gafieira São Paulo foi surreal. Sou muito fã dela como artista e como pessoa. E, Paulinho da Viola, eu tive a felicidade de o acompanhar como violonista no show Candeia 50 anos“.
E qual outro artista você gostaria de fazer uma parceria? “Com certeza Sun Ra é um cara que gostaria de ter tocado junto pra vivenciar o seu pensamento musical experimental e libertário. Mas na real, acho que a minha grande vontade é de tocar com os músicos que são meus contemporâneos; Sergio Machado, Thiago França, Meno del Picchia e Bruno Prado. Quero tocar com os caras que estão tocando aqui e agora. Meu Tempo é hoje!”
Para quem quiser ver o músico em ação, nesta sexta, 1, rola o show de lançamento do álbum em São Paulo, na Serralheria, às 22h. A apresentação contará com participações de Thiago França, Meno del Picchia e Juçara Marçal. “Vistam aquela bela roupa, aquele belo e confortável sapato pra dançar e tragam capacetes, porque o show tá massa e vai rolar altas pedradas”, convida Caê.
Quem for, verá. O difícil vai ser ficar parado.
Para mais informações, acesse: http://www.cae.art.br/
Serviço:
Caê @ Serralheria | São Paulo
Local: Serralheria
Endereço: Rua Guaicurus, 857
Data: 1º de Julho (sexta-feira)
Horário: abertura da casa às 22h. Show às 23h59
Ingressos: R$20