Acaba de chegar às lojas a aguardada caixa com 21 CDs de Rita Lee – 20 discos originais e mais um só de raridades e faixas obscuras. E já tem gente reclamando: segundo compradores que botaram a boca na internet, o CD 3001 (2001) veio com defeito: em vez da faixa Erva Venenosa, o que se ouve é Por Enquanto, na voz de Cássia Eller!
A gravadora Universal já reconheceu o erro e afirmou que a próxima tiragem virá com o problema resolvido, e que quem comprou o CD com defeito pode trocar.
Além disso, fãs puristas reclamam que o disco Rita Lee Roberto de Carvalho (1982) veio sem a faixa Brasil com S – o motivo deve ser porque a faixa tem participação de João Gilberto, o complicado guru ermitão da Bossa Nova, que pode ter vetado a faixa (ou sua gravadora vetou).
Mas, tirando esses percalços, o fato é que a caixa é um belo presente de Natal. Afinal, quem não gosta de Rita Lee? Prestes a completar 68 anos de vida (no próximo dia 31 de dezembro), a cantora tem 50 anos de carreira e fez história na MPB e no rock nacional, primeiro integrando Os Mutantes, depois fundando o Tutti Frutti, e finalmente na parceria com o marido Roberto de Carvalho.
Conheça disco por disco, daquilo que está saindo na caixa:
Build Up (1970)
Primeiro solo de Rita, que na época ainda integrava o conjunto Os Mutantes. Especialistas consideram o disco quase uma obra dos próprios Mutantes, já que Arnaldo Baptista e Sérgio Dias tocam em todas as faixas, e o álbum foi produzido por Arnaldo e Rogério Duprat – este, velho conhecido dos Mutantes e da Tropicália. O hit do disco foi José, versão de Nara Leão para o original francês de Georges Moustaki.
Hoje é o 1º Dia do Resto de Sua Vida (1972)
Quase uma continuação do disco anterior, também tem ampla participação dos Mutantes, seja no estúdio, seja nas composições. Arnaldo produziu o disco, cujo único “hit”, por assim dizer, foi De Novo Aqui Meu Bom José, tentando reeditar o sucesso de José.
Atrás do Porto Tem uma Cidade (1974)
Primeiro solo “pra valer” de Rita, já que ela tinha saído dos Mutantes e fundara o grupo Tutti Frutti, sua banda de apoio. É um álbum de rock bem cru, e depois foi meio rejeitado por Rita, que não aprovou a produção de Marco Mazzola. Hits: Menino Bonito e Mamãe Natureza. Curiosidade: a faixa De Pés no Chão, em pleno 1974, já defendia as lésbicas! (“porque faço coleção de lacinhos cor de rosa e também de sapatão”; “eu nasci descalça! pra que tanta pergunta?”)
Fruto Proibido (1975)
Considerado o melhor disco de Rita com o Tutti Frutti, tem uma sonoridade de rock sofisticado, com peso, e altamente dançante – a produção era do americano Andy Mills, técnico de som do Alice Cooper. Praticamente todas as 9 faixas viraram sucesso, com destaque para Agora Só Falta Você, Esse Tal de Roque Enrow e Ovelha Negra – esta, o grande hit de Rita na fase rock de raiz.
Entradas e Bandeiras (1976)
O disco era um tanto irregular, mas acabou vendendo muito, catapultado por um fato sensacionalista: a prisão de Rita, em agosto de 1976, por porte de maconha. As melhores músicas do álbum eram a balada Coisas da Vida e Bruxa Amarela, composta por Raul Seixas e Paulo Coelho…
Refestança (1977)
Disco ao vivo que registrou a turnê de mesmo nome, onde Rita e Gilberto Gil se apresentavam com a banda Tutti Frutti, exorcizando as prisões por porte de maconha (Gil também tinha sido preso em 76). Tanto que o show trazia “Rita Gil e Gilberto Lee” cantando É Proibido Fumar, de Roberto e Erasmo Carlos. Destaque: Gil cantando, sozinho, uma lírica versão de Ovelha Negra.
Babilônia (1978)
Último disco de Rita com o Tutti Frutti, e já contando com Roberto de Carvalho – em Refestança, ele já era um dos músicos da turnê. Aqui, Rita começa a galgar os degraus para a fama nacional, cativando a família brasileira com os hits Miss Brasil 2000, Jardins da Babilônia e Agora é Moda – esta, presente na trilha da novela global Dancin’ Days. No auge da febre discotéque, o disco consegue unir rock e disco, num casamento perfeito. Destaque ainda para as obscuras O Futuro me Absolve, Sem Cerimônia e Que Loucura.
Rita Lee (1979)
A consagração de Rita aumentou ainda mais com este disco de perfeição pop. Apenas 8 faixas – absolutamente todas tocaram nas rádios do Brasil em 79, das deliciosamente histéricas Chega Mais e Papai me Empresta o Carro até as lentas Doce Vampiro e Maria Mole. Mas o grande trunfo era a balada Mania de Você, que enfeitiçou o país de ponta a ponta.
Rita Lee (1980)
O toque final para a transformação de Rita na grande dama do pop brasileiro veio com este disco, que abria com o maior hit da cantora até hoje: Lança Perfume. Embora mais romântico do que o anterior, seguia o esquema de 8 faixas (4 de cada lado do disco de vinil, na época). Destaques: a safada Bem me Quer, a tristonha Shangrilá, o rock Orra Meu! e a balada Baila Comigo – que deu origem até a nome de novela da Globo, como aconteceu também com a faixa Chega Mais, do disco de 79.
Saúde (1981)
Mais um petardo com 8 faixas, mas apresentando algumas novidades no som: Rita surgia influenciada pela new wave americana e inglesa, e pelo nascente technopop gringo que dominaria os 80. Por isso algumas faixas são extensas, quase ensaiando um som eletrônico, como Atlântida e Mother Nature (versão de Mamãe Natureza). Destaque para a faixa de abertura, um hino da geração saúde que abriu os anos 80 em alto astral.
Rita Lee Roberto de Carvalho (1982)
Puxado pela faixa Flagra, tema de abertura da novela global Final Feliz, o disco mostrava que a dupla Rita e Roberto começava a se desgastar. Mesmo assim, havia momentos de brilho: Só de Você, Pirata Cigano e Cor de Rosa Choque (tema do programa global TV Mulher, gravada originalmente em 1980).
Bombom (1983)
Gravado e mixado em Los Angeles, foi apontado por Ezequiel Neves como um disco “histérico”, que reproduzia o famoso “rock de arena” de bandas como a americana Toto – integrantes dela, aliás, tocaram nas gravações de Bombom. O hit era On the Rocks, e também tinha a balada Desculpe o Auê e a escatológica Degustação – cuja letra levou o álbum a ser proibido para menores de 18 anos.
Rita & Roberto (1985)
Foi o último de Rita na gravadora Som Livre. Não fez muito sucesso, mas rendeu os hits Vírus do Amor e Yê Yê Yê, além de Vítima (que, 10 anos depois, viraria tema da novela global A Próxima Vítima).
Flerte Fatal (1987)
Rita estreava na gravadora Emi-Odeon, com este disco excelente que mescla pop e rock com brilho. Hits absolutos nas rádios: Pega Rapaz e Bwana. Mas havia muitas coisas boas: Músico Problema, Para com Isso, Picola Marina…
Zona Zen (1988)
Rita perseguia o “astral zen”, como dizia nas entrevistas da época. No Globo de Ouro, na Globo, Rita chegou a cantar a faixa Zona Zen enquanto tocava bateria, fato raro. Hits: Independência e Vida e Livre Outra Vez.
Rita Lee e Roberto de Carvalho (1990)
Último disco na EMI, é o mais fraco daquela safra. Praticamente a única coisa que se salvou foi Perto do Fogo, composta por Rita em parceria com Cazuza, que morrera em julho de 90.
Santa Rita de Sampa (1997)
A caixa da Universal pulou os discos Bossa and Roll (1991), Rita Lee (1993) e A Marca da Zorra (1995) e foi direto para este aqui, um álbum bastante irregular. Os destaques foram para Obrigado Não, faixa que defendia a legalização das drogas e o casamento gay, e Homem Vinho, composta para Caetano Veloso.
Acústico (1998)
Gravado na MTV, na época em que virou moda (e obrigação) os medalhões do rock e da MPB gravarem acústicos na emissora. Rita já tinha sido pioneira, pois gravara Bossa and Roll nesse formato em 1991. Desta vez, vinha cercada por uma orquestra meio careta. Mesmo assim, destaques para Mania de Você, com Milton Nascimento participando, Coisas da Vida e Agora Só Falta Você.
3001 (2001)
Uma volta de Rita às raízes, o disco tinha uma sonoridade roqueira a la Rolling Stones. Destaques: 3001, Você Vem e Erva Venenosa (regravação de um clássico da Jovem Guarda, por sua vez versão de um hit americano, Poison Ivy).
MTV Ao Vivo (2004)
Mais um disco produzido junto à MTV, desta vez sem a linha acústica. O repertório era uma coletânea de várias fases de Rita. Uma curiosidade: Eu Quero Ser Sedado, versão de I Wanna Be Sedated, dos Ramones.
Pérolas (inédito)
Este CD extra traz raridades de Rita e coisas que não saíram nos álbuns oficiais. Sassaricando, tema de abertura da novela global de 1987, está aqui, assim como a emocionante Dias Melhores Virão, tema do filme homônimo de 1990, no qual Rita atua vivendo Mary Shadow, estrela de uma sitcom americana. Ainda: Felicidade, de Lupicínio Rodrigues, que Rita gravou para um comercial de TV da Rider em 1994, e as ótimas Status e Fonte da Juventude, de 1977, que só saíram em compactos na época. E ainda tem os temas de novelas Ambição (novela O Astro, 1978) e Locomotivas (da novela de 1977), entre outros petiscos. São 13 faixas no total.
Depois dessa verdadeira tomografia da caixa de Rita Lee, fica difícil resistir… ou não? Ah sim, depende do preço, é claro! Em média, o box está sendo vendido a salgadinhos R$450…