E acabou! Durante os dois dias (14 e 15) de Lollapalooza Chile, mais de 127 mil pessoas passaram pelo Parque O’Higgins, em Santiago, onde se apresentaram quase 70 artistas. O saldo do festival criado por um dos maiores ícones do rock dos anos 90 (Perry Farrell)? A música eletrônica ganhou de lavada.
Lollapalooza Chile 2015, segundo dia
Não que os show de rock e indie do domingo (15) estivessem caídos, muitos foram fabulosos, como o dos irmãos Kings of Leon, Robert Plant, Kasabian, Interpol, Bastille e, por favor, não vamos esquecer dos mestres do ska The Specials, que arrebentaram no início da tarde.
Vem dar uma bizu como foi o show do Bastille
Mas o que mais chamou a atenção foi a catarse promovida por uma espécie de Beatle encarnado. Nenhuma banda foi capaz de atrair tanta gente e criar tanta histeria como fez este artista que nem de longe transa baixo, guitarra ou bateria. Estamos falando de Calvin Harris.
Sim, o produtor-DJ-gato, que já fez até comercial de cueca, foi o responsável não apenas por arrastar o maior público do festival (os outros palcos, durante seu show, ficaram bem vazios), mas também por causar as mais explícitas cenas de idolatria vistas durante o Lolla Chile 2015. Sim, meninos, havia gente ali passando mal enquanto Calvin Harris tocava suas músicas de melodia sedutora e breaks tão previsíveis quanto infalíveis. Muitas meninas ficaram literalmente des-mai-a-das enquanto o loiro mandava músicas como Blame It On The Night (que tem apenas 100 MILHÕES de views no Youtube) – e todo mundo cantava junto.
Você pode até torcer o nariz pra esta música eletrônica mais comercial, que os americanos chamam de EDM, mas o que se viu aqui no Chile foi uma legião de gente de todas as idades, de bebês de fralda a gente mais madura, pirando muito o cabeção com esse som. A postura nos shows eletrônicos do festival estava muito mais pra punk rock do que pra dancinhas de pista. Dançar aqui se mostrou uma atitude libertadora, sem nenhuma preocupação com os movimentos, o mais importante era se expressar e se divertir.
Voltando ao Calvin Harris, filhos, eles não só toca os hits criados por suas próprias mãos, mas também abusa de sucessos nos quais ele as colocou, como os hits de Icona Pop (I Love It) e Keisza (Hideaway). E o povo, literalmente, chorou.
O que aconteceu ali é difícil de explicar com palavras. Não importava o quão perto do palco as pessoas estavam, a felicidade era a mesma, mãos pra cima, letras na ponta da língua, olhinhos fechados, grupinhos pulando no ritmo do bumbo, gente correndo atrás dos feixes de laser que saíam do palco. Se neste Lolla Chile teve alguém com poderes sobrenaturais para encantar o público pode apostar que foi Calvin Harris. Veja no vídeo abaixo se eu tô exagerando.
BAILÃO DO DIPLO = MAJOR LAZER
Outro momento que confirma o olé que a música eletrônica deu no rock foi o show do Major Lazer, que rolou no palco D-Box VTR, na verdade um ginásio com capacidade para milhares de pessoas, que fica dentro do Parque O’Higgins.
Entrar ali e dar de cara com gente lotando a pista, as arquibancadas, as laterais, todo mundo dançando, fazendo twerk, tirando a camisa e espirrando água uns nos outros. Esta cena não vai sair da minha cabeça jamais. Animação nesse nível numa festa de música eletrônica? Fazia tempo que eu não via.
No palco, o DJ Diplo e os MCs Walshy Fire e Jillionaire, além de três dançarinas absurdas (uma delas um talento local), comandaram o bailão indoor mais bombado do festival. No som, músicas do Major Lazer, mas também alguns remixes acelerados de sons dazantigas, como Bad Boys, do Inner Circle. Sob o comando do DJ e dos MCs, que se revezavam no microfone, a galera fazia qualquer coisa. “Agora todo mundo tira a camisa”, ordenou Diplo pelo microfone. “Agora todo mundo pula e vai de um lado pro lado outro da pista”, disse Walshy Fire, enquanto a galera pirava com Pon de Floor, um dos maiores hits do arsenal do Major.
À certa altura a entrada no ginásio teve que ser bloqueada, porque tinha muita gente ali dentro. Muito educados, os chilenos (e alguns forasteiros, como eu) esperavam na porta pela vez pra entrar, afinal, todo mundo sabia que tinha algo realmente importante acontecendo ali.
A experiência de estar ali no meio é surreal. Mesmo pra alguém com estrada (longa, viu) na música eletrônica, o bagulho é doido demais. Contagia e você, quando se dá conta, tá fazendo tudo o que os MCs mandam – menos tirar a camisa, tsá?
LA BUENA EDUCATION E DIVERSIDADE
Encontrar papel higiênico até o final dos shows do domingo (quem manja de festival sabe do que eu tô falando), não ver uma briga sequer, nada de ficar pisando em montanhas de garrafas plásticas ou latinhas. No Chile Lolla, além de rolar uma campanha de conscientização com o intenção de evitar que se jogue lixo no chão, há uma equipe enorme de voluntários que passam o festival todo coletando dejetos.
Sem venda de bebida alcoólica (o Chile tem uma política de dificultar o seu consumo, proibindo que se beba nas ruas e impondo horário limite para a sua comercialização), o festival fica com clima de matinê, já que a entrada é livre para todas as idades. Outro fator que deixa tudo com um clima de domingo em família são os muitos cachorros que se veem pelo O’Higgins. Um festival limpo, pacífico, com gente que não empurra e nenhuma história de roubo de celular. Invejei.
O público também dá seu show no Lolla. A galera literalmente se monta para circular pelo festival, tem de neohippies a metaleiros, passando por muitas meninas de shortinho e tiara à la Lana Del Rey na cabeça, sem contar o povo com camiseta de banda e do próprio festival. Ah, e também muita, mas muita gente usando uma cabeça de cavalo tipo essa aí debaixo.
PERRY FARRELL & CYPRESS HILL
Essa eu ouvi do colega que transmitia ao vivo tudo o que rolava no Lolla Chile para uma estação de rádio na Argentina, ali da sala de imprensa. “E Perry Farrell está dando uma canja no palco do Cypress Hill, que irado”, disse o radialista Maurício. Não deu pra estar ali, mas soube que o show foi massa.
BEATS DO UNDER
Quem acha que só de EDM e som de rádio viveu a música eletrônica no Lolla Chile 2015 se engana e muito. Ainda que para poucos, pois seu horário encavalava com o de Calvin Harris, o inglês SBTRKT – que infelizmente pra nós cancelou sua apresentação em São Paulo – estreou na América do Sul com um show maravilhoso, intenso e soulful. No domingo (15), santiago também pirou nos sons vindos do under do alemão radicado no Chile Atom TM e com a delicadeza do show de Chet Faker. Foi lindo.
Na galeria ali em cima você vai ver os artistas e as fotos mais loucas do Lolla Chile 2015. E não esquece que a gente tem um compromisso marcado em SP no próximo finde (28 e 29), tá?
SERVIÇO LOLLA BRASIL
28 e 29 de março
Line-up completo:
Sábado: Jack White, Robert Plant, Skrillex, Kasabian, Bastille, Alt-J, Major Lazer, Marina & The Diamonds, Kongos, Fitz & The Tantrums, St. Vincent, Dillon Francis, Kodaline, Banda do Mar, Ritmo Machine, DJ Snake, Boogarins, Bula, Vintage Culture, Baleia, Nem Liminha Ouviu, Anna e E-cologik versus Jakko
Domingo: Pharrell Williams, Calvin Harris, The Smashing Pumpkins, Foster The People, Interpol, Steve Aoki, The Kooks, The Chainsmokers, Rudimental, Three Days Grace, Young The Giant, Pitty, Molotov, Carnage, Childish Gambino, O Terno, Mombojó, Far From Alaska, Victor Ruiz e Any Mello, Big Gigantic, Fatnotronic, Chemical Surf, Scalene
Autódromo de Interlagos, avenida Senador Teotônio Vilela, 261, Interlagos
Preços: R$ 340 (inteira, 1 dia) e R$ 660 (inteira, 2 dias)
Mais informações no site oficial do Lollapalooza Br