“Meu namorado é mó otário, ele lava minha calcinha”, Bandida, MC Carol.
Sim, amiga, você pode até já ter desejado ser a autora dessa frase, mas cantá-la no maior grau, com o namorado em carne osso te olhando do palco, isso eu só conheço uma mina capaz de fazer, e ela atende pelo nome de MC Carol Bandida, também conhecida no funk como MC Carol de Niterói.
A partir desta segunda (25), às 22h30, ela estrela junto com outras cinco funkeiras o reality Lucky Ladies, pelo canal Fox. Mas antes mesmo de grudar na TV pra ver os barracos que certamente vão rolar, a gente te adianta uma coisa: a Carol é uma daquelas figuras hipnotizantes, engraçada e divertida, mas ao mesmo tempo marrenta e feminista como poucas artistas deste país.
Aqui na redação do Virgula, a gente já pira há algum tempo com músicas como a já citada da calcinha, cujo clipe você vê aí embaixo. A música já é velhinha, de 2012. Foi um dos primeiros dos vários hits da Carol, que já vive exclusivamente do funk há pelo menos dois anos.
MEU NAMORADO É MAIOR OTÁRIO – MC CAROL BANDIDA
Né… Assim nascia uma celebridade do funk feminista. Mas Carol também sabe ser fofa, do jeito dela. Como no dia em que ela pensou nessa letra aqui, a meiga Fdp, Eu Te Amo. Quem aí nunca se apaixonou pelo/a cara/mina errado/a?
FDP, EU TE AMO – MC CAROL BANDIDA
E aí foi uma questão de tempo pros bacanas acharem a Carol. A gente aqui na redação passou dias ouvindo este mashup que o ubercool Jaloo fez usando como base Oblivion, da Grimes, com Bateu Uma Onda Forte, da Carol. Nascia um clássico, como você pode comprovar ouvindo abaixo.
OBLIVION LOLÓ – JALOO MASHUP
Completamente in love com a funkeira, aproveitei uma ida ao Rio de Janeiro pra marcar uma entrevista tipo de frente com Carol. Ela chegou toda tímida, com o namorado e o então empresário (que já não trabalha mais com ela) a tiracolo e ficamos no topo do hotel Pestana no maior tricô por mais de uma hora.
Daí deu pra sacar de onde vem tanta coragem e segurança, do alto de seus 21 anos bem-vividos na comunidade Preventório, em Niterói (RJ). Ela já começou me dando um tombo. Eu: “Carol, vamos tomar uma drink. Quer uma caipirinha?”. E Carol: “vou tomar um coquetel de frutas sem álcool”. Tá, meu bem?
“Eu não aceito submissão. Dentro da minha casa não tem isso. Meu namorado por exemplo ele é bolado com a música da calcinha. Mas a realidade é essa. Quem manda nessa porra sou eu. O homem tá acostumado com uma mulher que lava, passa, cozinha, tá ali, pra fazer o que ele quer… mas não!”, disse, tomando seu coquetelzinho rosa. Com vocês, MC Carol.
MC CAROL MANDA UM SALVE PRAS MULHERES
MC Carol Bandida deixa o seu recado para o Virgula
Virgula – E aí Carol, da onde veio o bandida do seu nome?
MC Carol – Bandida veio desde criança, porque eu sempre tive um jeito meio masculino e tal. Daí colocaram esse apelido em mim. Bandida (risos). Agora ficou!
Virgula – E o seu som, você chama do quê? É funk o quê?
MC Carol – Então, eu acho que é putaria… Porque não dá pra chamar de proibidão nem ostentação, então é putaria. Mas eu tô jogando ele pro cômico… Fazendo dele uma coisa engraçada, entendeu? Porque eu tenho um público criança também…
Virgula – E quem te apresentou o funk?
MC Carol – Fui criada pelos meus avós, e eles nunca gostaram de funk, eles gostavam de música antiga. Pra eles, funk era música errada, que não prestava. Eu só ouvia uma vez por mês, quando eles iam pegar o pagamento da aposentadoria. Daí eu botava o som no último volume e ficava dançando com as minhas primas. Comecei a curtir mais mesmo depois que eu fui morar sozinha, tinha uns 14 pra 15 anos…
Virgula – Mas como você pagava suas contas?
MC Carol – Eu levava minha prima pra creche e fazia um bico na pizzaria.
Virgula – E o que você ouvia de funk nessa época?
MC Carol – A Tati Quebra-Barraco, de quem eu sou muito fã. O meu jeito de cantar eu acho que lembra o dela, né? Eu sou bem nova, tenho 21. Quando eu comecei a cantar falavam que eu era o clone da Tati. Daí eu comecei a curtir muito, mas antes eu nem sabia quem ela era, porque eu sou bem mais nova. Mas acho que tem muito a ver, a aparência, a agressividade.
Virgula – Como você era na escola?
MC Carol – Eu sempre fui muito estudiosa, mas eu era a líder da sala. Fazia muita bagunça. Mas sempre fazia meu dever, direitinho. Eu sempre debatia com o professor, porque eu não aceitava as coisas quieta. Daí me repetiram de ano uma vez, mesmo eu tirando só 10. Daí eu peguei e saí da escola, me revoltei. Eu saí fora, fiquei com raiva…
Virgula – Você começou a escrever letra e cantar com quantos anos?
MC Carol – Eu gosto muito de desenho, sempre fui muito criativa. Eu fazia desenhos, escrevia umas bobagens, ficava implicando com todo mundo dentro da sala, mas nunca pensei em cantar. Eu fui empurrada pro palco.
Virgula – Por quem?
MC Carol – A primeira vez foi assim. Eu não sou de bebida não. Mas aí teve um amigo meu que pegou e falou: “vamos beber vinho?”. Aí comecei a beber vinho. Fui pra uma festa que tava tendo na minha comunidade, que é Preventório (Niterói), aí eu peguei e subi no palco. Dancei e ganhei na dança lá. E aí curti isso. Tinha um cara que ficava cantando na rua “vou largar de barriga/vou largar de barriga”. Eu fiquei brava com aquilo e resolvi escrever uma resposta pra ele. Daí eu escrevi pra ele: “te meto na 79 (delegacia), eu destruo a tua vida, se me largar de barriga, se me largar de barriga”. Aí todo mundo gostou! Daí eu cheguei em casa e fiz duas páginas de música. Aí um belo dia eu fui no baile, eu tinha uns 16, aí eu tava curtindo e um cara me chamou pra cantar. Eu cantei essa música e todo mundo gostou pra caramba. Em dois meses eu já tava no DVD da Furacão 2000 (equipe de baile gigante no Rio). Dali a pouco eu já tava aparecendo na televisão. Já fui várias vezes no Esquenta, no Caldeirão do Huck, já fui no Balanço Geral…
Durante a coletiva do reality Lucky Ladies, que estreia nesta segunda (25), às 22h30, na Fox, MC Carol mandou uma palhinha de Ne Me Quittes Pas, do belga Jacques Brel, só pro Virgula. Bege? A gente também ficou. Saca só.
MC Carol canta Ne Me Quitte Pas para o Virgula
Virgula – Quantas letras você já fez?
MC Carol – Mais de 30.
Virgula – Sabia que tem uma galera de música eletrônica remixando tuas músicas?
MC Carol – Eu tenho visto várias coisas na internet, tipo, minha música num fundo de rock, de reggae, de heavy metal…
Virgula – Quando você escreve uma letra tipo “meu namorado é mó otário, ele lava minhas calcinhas” isso aí acontece mesmo ou você fala o que a galera quer ouvir?
MC Carol – Acho muito difícil inventar uma coisa que não é real. Eu prefiro fazer uma coisa que eu estou vivendo ou alguma coisa que eu tô vendo alguém viver. Tipo a música “Largar de Barriga”. Nas comunidades a gente vê muita mulher criando filho sozinha, meninas que engravidam e têm que parar de estudar.
Virgula – E isso te traz que sentimento?
MC Carol – Eu fico muito triste. Eu fiz essa música, foi a minha primeira, que é uma resposta. A história da música é que o cara perturba ela pra ficar com ela. A mulher ficou, engravidou, e ele não quis saber. Daí a mulher pega, bota ele na justiça. E ele no final se ferra.
Virgula – Você curte cantar letras feministas, você acha que tem muita injustiça cometida contra a mulher?
MC Carol – Com certeza, né? É o cara que abandona, tem também negócio de agressão. Mas é difícil a gente se meter na vida alheia, né…
Virgula – Você não é nada tímida no palco, você banca a gostosa, a fodona… mas assim pessoalmente você é meio tímida, né?
MC Carol – Com entrevista, uma coisa mais falada, eu tenho vergonha, porque eu não sei muito falar assim. Mas no palco eu fico tão feliz em ver aquelas pessoas que tão ali pra me ver, que não fico com vergonha!
Virgula – Você é superfeminista, né?
MC Carol – Eu sou. Eu não aceito submissão. Dentro da minha casa não tem isso. Meu namorado por exemplo ele é bolado com a música da calcinha. Mas a realidade é essa. Quem manda nessa porra sou eu. O homem tá acostumado com uma mulher que lava, passa, cozinha, tá ali, pra fazer o que ele quer… mas não!
Virgula – E você quer ser um exemplo pras mulheres?
MC Carol – Eu quero. É muito feio a mulher ser submissa ao homem. Aí o homem se aproveita e quer bater na mulher. Eu acho isso ridículo.
Virgula – Conta sobre a sua participação no Lucky Ladies.
MC Carol – A gente gravou em dezembro. Tem seis MCs e na casa tem muito conflito, muita confusão. A gente ficou quase dois meses na casa, morando juntas. Eu fui da ala das barraqueiras, que nem a Tati. Sou muito palhaça, numa boa, mas tem coisas que me irritam demais, cara, tipo pessoas que só se preocupam com o visual, tipo a menina só pensa no cabelo. E tem pessoas que querem ficar duas horas no banheiro, entendeu?
Virgula – E como foi morar com mais cinco mulheres funkeiras?
MC Carol – Umas eu trouxe amizade, tenho contato. Mas outras… só jesus! Não quero ver nem pintadas!
Virgula – E você é vaidosa?
MC Carol – Não sou nada vaidosa. Melhorei bastante nesse lance de me arrumar. Qualquer lugar eu estava indo de Havaianas. Já me perguntaram numa palestra: “como você se sente, sendo negra, gordinha”. Falei, “meu filho, tacou latinha em mim, vai ouvir”. Porque tem isso. Tem gente que sai de casa só pra jogar latinha em você. Eu não tenho dúvida, esculacho a pessoa.
Teve uma que ficou fazendo sinal pra mim durante o show lá em Minas. Daí eu peguei e falei: “Minha filha, você, psiu, você tá pagando pra me ver, querida. Não tá gostando, vai embora”. Ela tacou o tamanco, pegou no segurança que tava em cima do palco, deu uma confusão, o cara jogou ela numa poça, eu pensei, se ela passar por aqui eu taco a mão na cara dela.
Virgula – O que você acha da mulherada do funk que fica se mostrando, se exibindo, faz uso do corpo pra chamar atenção?
MC Carol –Eu não acho legal, não acho bonito, mas cada um faz o que quer. A pessoa não precisa ficar de calcinha no palco pra dar o seu recado, entendeu? Tipo assim, meu empresário e vários homens falavam pra mim, “Carol, bota uma dançarina”. Mas não ia dar certo, entendeu? Aí eu falei, quer saber, vou botar logo uns macacos. Ninguém nunca botou macaco. Vou botar logo uns macacos. E deu certo!
Virgula – Você vive exclusivamente do funk?
MC Carol – Eu vivo disso há muito tempo, há uns quatro anos. Daí eu parei de levar minha prima pra creche e larguei a pizzaria. Nunca tive carteira assinada.
MC Carol