Nesta sexta-feira (18), André Mourão lança seu primeiro álbum. “Câmera Analógica” faz um paralelo entre o passado e o futuro automatizado, além de trazer diferentes ritmos para o trabalho do artista.
Cantor, compositor e músico paulistano, André Mourão apresenta um álbum com 11 faixas que variam entre faixas mais introspectivas e outras mais dançantes que nos transportam para um bloco de carnaval em pleno junho. Uma viagem, assim como acontece quando você vê uma foto e se imagina no momento ou lembra algo especial da época.
Entre as participações do álbum estão os vocais da cantora Bárbara Eugênia, teclados de Dustan Gallas e bateria de Bruno Buarque. “Câmera Analógica” conta também com participação de Suzana Salles e Gustavo Galo. A produção é assinada por Felipe Botelho.
André Mourão contou mais detalhes sobre a produção do álbum, referências e sobre as participações do álbum. Confira a entrevista abaixo.
Daniela de Jesus: André, como começou a sua relação com a música e quando as primeiras ideias do “Câmera Analógica” foram surgindo?
A: Comecei na música bem cedo, pois meu pai é músico e também professor de música. Com sete anos de idade já estava participando das apresentações de alunos na escola de música dele, cantando e tocando alguns instrumentos. Depois fiz faculdade e tal, mas já tinha decidido que essa seria minha profissão muito antes. O repertório de “Câmera Analógica” é, na realidade, um apanhado de canções que fiz ao longo de muitos anos. Tem músicas que fiz em 2012 ou 2013! Percebo que o primeiro álbum de muitos artistas é assim, um acúmulo de composições de períodos passados. Outra verdade é que o processo desse disco demorou um bocado (comecei a gravar em 2018), então já tenho novas músicas para um segundo trabalho. E a ideia é que esse próximo não demore tanto!
D: Como aconteceram as parcerias com Suzana Salles e Gustavo Galo?
A: Conheço os dois de longa data e, além de amigos, os admiro muito. A canção em parceria com o Galo surgiu quando morávamos juntos. Lembro bem de uma tarde, começo de verão, em que estávamos tomando cerveja e tocando violão no quintal de casa. Nosso cachorro, o Roque, andava pra lá e pra cá, então comecei a cantar “Eu sou cachorro…” e ele logo emendou outro verso. Fizemos a música assim, num ping-pong de versos e melodias. E a faixa ficou com o nome do cachorro mesmo, “Roque”. Já a Suzana, nunca tínhamos trabalhado nem tocado juntos. Um dia ela foi assistir a um show meu na Casa do Mancha, no qual toquei o repertório do que viria a ser “Câmera Analógica”. Durante a música “Da Nascente à Foz”, a Júlia Rocha, outra grande amiga e artista, fez uma performance à la Yoko Ono, uns sons incidentais com a voz, meio gritados, meio gemidos, coisa e tal. A Ana Paula, minha namorada, achou por um momento que fosse a Suzana e me disse isso após o show, o que me deu a ideia de convidá-la para cantar essa faixa comigo no disco, e ela topou. Além de cantar a voz principal nessa música (na qual a Júlia também gravou os vocais malucos), a Suzana participa também dos coros em “Olho no Olho” e “Macapá”. Sou muito fã, então fiquei contente demais!”
D: A fotografia analógica tem esse poder de eternizar um período. No álbum você fala de questões reflexivas como amadurecimento, política, cultura além de diversas lembranças. O que você quer eternizar com o “Câmera Analógica”?
A: O que se eterniza em um disco são as canções e o que elas dizem. Mas isso nunca é estático, porque não se sabe que interpretações se podem fazer das canções no futuro. E tem também os arranjos musicais, que são eternizados daquele jeito em um disco, mas podem mudar depois. Aliás, me lembrei agora de algo que a Tulipa Ruiz escreveu certa vez em uma rede social. Ela dizia que gravar uma música é como fotografá-la e que, na hora da foto, que é a gravação, a música pode querer usar determinada roupa, com certo corte de cabelo, uma franjinha ou ainda combinar um brinco com um sapato. Mas, depois de gravada, na hora de um show, por exemplo, a música pode estar completamente diferente!
D: O álbum traz um misto de ritmos, desde músicas que lembram o carnaval até músicas mais introspectivas com a guitarra e a percussão mais introspectiva. Quais foram as principais referências para construir essa sonoridade?
A: Difícil dizer quais foram as principais referências, pois, como você disse, tem mesmo uma mistura grande de ritmos e climas no disco. Penso que isso tem a ver com a abrangência de estilos que existem na música popular e pop, no sentido mais amplo do termo, e também com uma herança tropicalista, que nos dá a liberdade de não precisar escolher um estilo só. E, pensando na pergunta anterior, uma canção pode ser gravada com um ritmo específico e, em outro momento, ser rearranjada em outro estilo. Lembro que, no começo da produção de “Câmera Analógica”, eu ficava um pouco preocupado pois achava as músicas muito diferentes umas das outras. Por exemplo, “Olho no Olho”, que é uma marchinha de carnaval, poderia ter sido gravada de um jeito mais “moderninho”, subvertendo o óbvio, e ficaria legal também. Mas depois isso deixou de me preocupar. Primeiro porque gostei de ter essa variedade de estilos: uma marchinha com arranjo mais “clássico”, seguida de um rock meio psicodélico, etc. E tem algumas meio inclassificáveis também. Em segundo lugar, acho que essa variedade não comprometeu em nada a autoria: as canções são minhas e, por isso, tem minha cara, meu jeito. Não procuro controlar quando me vem uma composição, quer dizer, ela vai sair do jeito que for.
D: “Olho no Olho” fala sobre carnaval, que esse ano não aconteceu por conta da pandemia. O que você mais sentiu vontade do carnaval e o que está doido para fazer no próximo quando for seguro?
A: Olha, admito que eu não posso reclamar de não ter tido carnaval em 2021. Claro que não houve carnaval como a gente conhece e com toda a razão. Mas a cidade de São Luiz do Paraitinga realizou o seu tradicional Festival de Marchinhas de forma virtual. Em 2020 eu participei do festival e tive o prazer de ser o vencedor, justamente com a canção “Olho no Olho”. Neste ano, fui classificado para a final novamente e tive que ir até lá gravar a música com a incrível Banda Na Banguela, para que depois tudo fosse veiculado via internet, e a produção do evento seguiu todos os protocolos de segurança sanitária de maneira exemplar. Dessa vez não levei nenhum prêmio, mas pouco importa, porque tive o privilégio de vestir uma fantasia, passar purpurina, jogar confete na câmera e cantar! Mas, ainda assim, quando for a hora de voltar ao carnaval de forma segura, estarei que nem a letra daquela marchinha: “é hoje que eu vou pra farra, ninguém me agarra, eu vou me espalhar!”.