“Não se apavore com uma mulher que goza. Nós é assim mina maravilhosa”, diz a primeira frase de Lambe-Lambe, música de TODXS, novo álbum de Ana Canãs lançado recentemente. Sexo, empoderamento e quebra de tabu são temas que ilustram o quinto trabalho de estúdio da cantora paulistana.
“É um álbum de resistência e empoderamento para que os oprimidos possam lutar pelo seu lugar de fala, igualdade e liberdade. E eu optei pelo viés do sexo”, conta Ana Cañas pelo telefone em entrevista ao Virgula. “Falar sobre o orgasmo feminino, por exemplo, ainda é um tabu na sociedade”, diz ela.
“A gente namora vários caras e nenhum sabe fazer sexo oral. É uma realidade que a maioria das mulheres vivem. Os homens precisam aprender a dar prazer às suas namoradas e se interessar por isso”, fala a cantora. “A música ‘Lambe-Lambe’ é exatamente sobre isso, sobre empoderamento e quebrar esse tabu”, define.
A capa de TODXS também é uma obra de arte; chama a atenção logo de cara e prepara o ouvinte para as músicas sensuais, e sexuais, do álbum. Na imagem, uma cobra pronta para dar o bote é colocada no meio das pernas de uma mulher, como se o animal representasse o órgão sexual feminino.
“A imagem é um afronte à cultura patriarcal, à opressão da mulher na sociedade”, explica Ana. “A voz da mulher sempre foi silenciada e ocultada. A sexualidade também, que foi muito reprimida e estuprada por toda a história da humanidade. A mulher sofre o silenciamento do corpo, da voz e do pensamento feminino. Então, essa capa é um afronte a tudo isso”.
Capa de TODXS
Participações masculinas
Produzido pela cantora ao lado de Thiago Barromeu, e com participações de Arnaldo Antunes, Taciana Barros e Lúcio Maia, o trabalho traz também dois nomes a ser destacados: o rapper Sombra, do SNJ, que insere suas rimas na música Todxs, e o cantor Chico Chico, filho de Cássia Eller, que canta em Tua Boca, regravação de Itamar Assumpção.
“Eu poderia ter convidado uma rapper feminina para participar, mas o Sombra foi muito importante porque ele como homem, ao cantar frases como ‘Quando ela gozou’ e ‘As minas estão sangue nos zóio’, representa uma mudança no pensamento misógino que sempre existiu”, explica a cantora. E exalta: “A participação dele ficou provocativa”.
Já com Chico Chico, a vontade de tê-lo em um registro vem rolando a um tempo e Ana relembra: “Nos conhecemos a um ano e já fizemos sete shows juntos. Não sei o que acontece com a gente, mas temos um entrosamento muito doido de palco. É uma química inexplicável que rolou desde o nosso primeiro dueto quando cantamos Jards Macalé na série ‘Toca no Telhado'”. Ela continua: “Aproveitamos essa sitônia e gravamos juntos em uma salinha no estúdio, ao vivo e no mesmo take”.
Seguindo independente
Ana, que já lançou discos pela Sony Music e Som Livre, se arrisca de forma totalmente independente pela 1ª vez. E está feliz. “Eu sempre tive ótimas relações com as grandes gravadoras, mas julguei que com esse disco, com essas letras e a vontade de falar sobre isso de forma direta e escancarada era melhor não ter um diretor artístico dando opinião. Principalmente, porque os diretores artísticos sempre são homens e nunca mulheres”, diz.
“É um momento de empoderamento e de giro de 360º na minha carreira”, comemora a cantora que também fundou o próprio escritório de venda de shows. “As grandes gravadoras prometem muitas coisas, mas não realizam nem 10%. Então, fazer tudo de forma independente, na guerrilha, com verdade no coração e no discurso, de tijolinho em tijolinho acabamos construindo uma casa sólida”.