Summer Soul Festival


Créditos: gabriel quintão

Altos e baixos. Voz perfeita e erradas de letra. Momentos de empatia com o público e momentos sentados olhando para o vazio. O show de Amy Winehouse em São Paulo neste sábado (15) seguiu esse padrão irregular.

Mas não vale a pena lançar um olhar técnico demais sobre o show de Amy no Summer Soul Festival (melhor deixar isso para a afiadíssima apresentação de Janelle Monáe). 

Amy pertence a outra categoria, a de uma artista cuja existência transcendeu a música. Para boa parte das pessoas presentes, quaisquer erros e limitações não tiveram a menor relevância. O que importou é estar ali, vendo em carne e osso a celebridade de tantas encrencas e/ou a intérprete do popularíssimo álbum Back To Black. Olhando assim, é seguro dizer que o show foi um sucesso e a maioria saiu satisfeita.

A voz estava irretocável! Cristalina, expressiva, potente, trazendo todas as nuances que se ouve em disco. Não se sabe se ela andou abusando das substâncias ilícitas durante sua estada no Brasil, mas se andou sua voz não foi prejudicada em nada (informações de bastidores dão conta de que ela tem estado comportadíssima).

Mesmo assim, Amy parecia ciente dos seus limites. A primeira metade do show foi dominada por músicas lentas e intimistas. Estratégia para não perder o fôlego? Bem possível. O reggae de Just Friends abre o show e logo depois vêm Back To Black e Tears Dry On My Own. Tímida, a cantora não se comunica com o público. Beberica de uma caneca e segue cumprindo sua missão.

Meia hora depois de entrar, foge do palco, deixando o backing vocal Zalon, que ela chama de “my boy” (seu disco solo sairá pelo selo de Amy), cantar duas de suas músicas. O “boy” é bom e ganha o público, inicialmente decepcionado com a saída de Amy. Mas ela precisa de fôlego e nessa troca de vocalistas consegue ganhar uns 10 minutos.

Quando volta, já chega mandando Rehab. Seu maior hit, que tinha tudo para ser um ponto explosivo do show, fica aquém do que poderia causar na plateia. Entra frouxo e se desenrola de modo estranho, com Amy atravessando quase a toda a letra. Não é o suficiente para abalar o ânimo dos fãs, que mais para o fim da música já vibram com mais força.

Apesar do tropeço em Rehab, a cantora parece engatar a segunda marcha para a outra metade da apresentação. Visivelmente mais simpática e sorridente, interage com a plateia e brinca com os músicos. Apresenta empolgada sua banda, ainda que sentada a maior parte do tempo.

É nessa sequência que vem músicas como uma cover de Stagger Lee (hit dos anos 50 de Lloyd Price), You Know I’m No Good e Valerie. Com pouco mais de uma hora, o show termina de modo abrupto. O público ensaia uma indignação, mas calma, tem bis: cantora e banda voltam para tocar Love Is a Losing Game e Me & Mrs. Jones.

Clique nas fotos acima do texto para ver as imagens do Summer Soul Festival

VITÓRIA DE AMY

E assim Amy encerrou sua temporada no país, contrariando a chuva dos comentários mais pessimistas. A cantora completou cinco shows bem-sucedidos no Brasil, apesar dos deslizes e limitações. Para quem estava praticamente sem tocar ao vivo nos últimos dois anos, se arrastando por um pântano de escândalos e drogas, foi uma vitória. 

Quando entrevistamos alguns músicos sobre o que queriam ver na música em 2011, a Sandy se saiu com esta resposta: “Queria ver mais verdade.” Sandy (que deve gostar de Amy, já que até se fantasiou dela em seu clipe) é a antítese comportamental de Amy. Mas Amy traz, como poucos hoje em dia, exatamente o que Sandy pediu: verdade.

Num meio artístico obcecado por controle de imagem, marketing exagerado, correção política e fachada de bom comportamento, devemos aplaudir cada vexame de Amy Winehouse. O pseudo-moralismo virou uma grave doença contemporânea. Gente como Amy Winehouse é o antídoto.

No picadeiro do pop global, essa tranqueira inglesa de voz de ouro faz a diferença. Que os urubus e problemas com drogas passem e ela fique.


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Amy Winehouse faz show de altos e baixos em SP, mas sua voz garante a vitória final

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