(Foto: divulgação) Afro-X

“O momento em que vivemos não é propício falarmos de certos temas e ter certas posturas”, diz o rapper Afro-X em exclusiva ao Virgula. “O rap amadureceu e hoje apresenta mais responsabilidade no conteúdo. Por exemplo, não dá para agirmos como na época do gangsta rap (estilo musical famoso nas décadas de 90 e 2000 que falava abertamente sobre assassinato, tráfico, vandalismo e machismo). Não dá mais para tocarmos em certos assuntos“.

Afro-X, conhecido por ter criado o grupo 509-E ao lado de Dexter, acaba de lançar o álbum Um Brinde a Vida em versão vinil. O trabalho, que chegou no finalzinho de 2017, oito anos após seu último disco solo, apresenta uma nova fase musical do artista, mais suave e diversificada. “O momento é mais comercial e até mais romântico. O rap está mais profissional. Estrategicamente está acontecendo uma remodelagem para que o movimento continue crescendo. Está funcionando bem e temos que nos adequar”, diz ele.

Em Um Brinde a Vida, as rimas de Afro-X passeiam pelo trap, samba, funk e até pelo rock, sem perder a identidade. “Nesse tempo de ostracismo na música eu me dediquei à atividades sociais e culturais, mas ao mesmo tempo fui me preparando para esse novo projeto. As letras evoluíram e eu acabei conhecendo um outro público que está consumindo o hip hop. Então, tentei fazer algo diferente, ampliar o horizonte do rap, pois a música não tem mais limite”, diz sobre o disco que tem Negro Branco, do Exaltasamba, Badauí, do CPM 22, Felp, do Cacife Clandestino, MC Sapão, Chrigor, Ri$hin e Marihanna como convidados especiais. A produção é de Jonas Lemes.

Do tempo que esteve no Carandiru, em São Paulo, o rapper de 44 anos de idade conta que saiu do presídio com a lição primordial de que o crime não compensa. “O crime é glamouroso, mas é como uma rosa que esconde seus espinhos. Sempre digo isso. Existem fatores que incentivam o crime: a desigualdade social, falta de educação, desestrutura familiar, drogas e o sonho de consumo. Com isso a pessoa acaba sendo envolvida em algum deles e acaba tomando atitudes não justificáveis que lá na frente vai se arrepender”, diz.

Também conhecido por seu ex-relacionamento com a cantora Simony (que atualmente voltou com o Balão Mágico), Afro-X analisa a relação que durou 6 anos: “Foi importante para mostrar para a sociedade que o rapper também tem sentimentos e pode ter família. O rapper não é só aquele cara estereotipado que faz panca de mau, a figura de marginal e de bandido, ainda mais se tratando do 509-E, que veio de dentro da penitenciária. Na realidade nós somos seres humanos iguais a todos”. 

Ainda sobre o relacionamento, ele ressalta: “Também teve a questão do preconceito na época; do negro com branco, do pobre com rico, do preso com o livre. Essa nossa relação marcou muito dentro de uma sociedade conservadora e muitas vezes racista. Foi super válido. Pela discussão que criou e pelo crescimento que tivemos. Afinal, tenho dois filhos com ela que me dão muito orgulho”.

(Foto: divulgação)

 

 


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Afro-X deixa estilo gangsta de lado em novo álbum: 'O rap amadureceu'