Aerosmith em São Paulo


Créditos: Taiz Dering

Nem mesmo a forte chuva atrapalhou o espetáculo que o Aerosmith promoveu no palco da Arena Anhembi neste domingo, dia 30. Em sua quarta passagem pelo Brasil, a banda americana fez um apanhado geral dos hits da carreira e mostrou que ainda tem muito fôlego para realizar shows memoráveis, espantando a nuvem negra que pairou em cima do grupo nos últimos tempos de brigas internas.

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Às 20h15 ouviu-se a primeira introdução da noite: A Cavalgada das Valquírias, de Richard Wagner. Quando a sinfonia acabou, o pano preto que escondia a movimentação no palco foi ao chão, apenas para dar uma falsa surpresa ao público: a banda ainda não estava em cena. Depois de mais duas introduções (para que tanto suspense?), o grupo iniciou o show debaixo de chuva com três pérolas do início da carreira: Draw The Line, Same Old Song and Dance e Mama Kin.

Steven Tyler, a principal figura da banda, começou a apresentação com uma certa timidez, com a voz um pouco rouca. Mas para quem havia estampado as manchetes dos últimos dias com seu rosto danificado por uma queda no banheiro, estava inteiraço. O vocalista iniciou o show usando óculos escuros, mas durante Mama Kin, Tyler jogou o acessório longe e o tal olho roxo não era tão visível. Se os fãs estavam preocupados com o desempenho do vocalista no palco, essa preocupação logo mostrou-se vã. Mesmo com 63 anos nas costas, Tyler justificou seu lugar entre os maiores frontmen do rock: o cantor continuou com suas danças performáticas sem se importar com o palco molhado pela chuva.

Janie’s Got a Gun introduziu a sequência de músicas que desembocou em um revival do momento-chave do Aerosmith: os anos 90. Mesmo o longo solo de bateria de Joey Kramer – fortemente influenciado pelo estilo de John Bonham (Led Zeppelin) – não esfriou o ritmo do show, que teve seus pontos mais altos durante os solos de guitarra de Joe Perry em Livin’ On The Edge e Amazing.

Depois de What It Takes e Last Child, Tyler saiu de cena para que Perry assumisse os vocais em Combination, apenas para retornar em seguida e desferir a maior ‘covardia melódica’ da noite: o hit meloso I Don’t Want to Miss A Thing. O que se seguiu foi o maior momento em uníssono da platéia, e ao meu redor eu enxergava vários fãs cantando a letra aos prantos e soluçando. Nem mesmo quando Paul McCartney tocou Give Peace A Chance e Hey Jude em sua passagem por São Paulo no ano passado eu vi ocasião tão oportuna para casais e amigos se abraçarem.

Por mais que não tenha me contagiado pela energia piegas do momento, o Aerosmith desferiu em seguida o golpe de misericórdia: Cryin’. A introdução pesada surgiu repentinamente, e logo que os acordes melosos do verso foram dedilhados, era preciso se esforçar para conter a ameaça conhecida como ‘olhos lacrimejantes’.

Depois dessa forte sequência de baladas, veio um solo de baixo de Tom Hamilton. Enquanto o baixista se exibia para mostrar que sabia fazer algo além do básico que exerce nas músicas da banda, Joe Perry mostrou à câmera do telão seu dedo ensangüentado; o guitarrista parece ter se exaltado durante os últimos solos e a unha de seu dedo indicador da mão esquerda levou a pior. Mas isso não o impediu de executar o riff memorável de Sweet Emotion, que foi recebida muito bem pelo público.

BIS

A banda deixou o palco e retornou para o primeiro bis da noite, matando a vontade da plateia que pedia a balada Dream On. Depois de retomar sua veia mais roqueira com os clássicos Love In An Elevator e Walk This Way, o Aerosmith saiu mais uma vez de cena. Mas como o público havia surpreendido Tyler com vários cartazes com os dizeres Angel em certa parte do show, o grupo teve de volver ao palco para saciar novamente o apetite da plateia por baladas. O vocalista fez questão de salientar que a banda não tocava a canção há cerca de cinco anos, mas a tocaram mesmo assim. Para terminar o show em alta rotação, o cantor pediu para a banda emendar Train Kept A-Rollin’.

Incrível como uma banda que iniciou sua carreira na década de 70 continua com energia para fazer um show de dimensões épicas e corresponder às expectativas do público. Steven Tyler e seus comparsas já chegaram ao fundo do poço diversas vezes, mas sempre retornaram com bons discos, tomando de assalto as paradas contemporâneas e justificando sua relevância no palco. O Aerosmith serve de lição viva para Axl Rose e seu atual arremedo de Guns N Roses, que tenta provar (sem sucesso) que ainda pode fazer algo de significativo mais de 15 anos depois de seu auge.

Set list:

01 – Draw the Line
02 – Same Old Song and Dance
03 – Mama Kin
04 – Janie’s Got A Gun
05 – Livin’ on the Edge
(Solo de bateria)
06 – Rag Doll
07 – Amazing
08 – What It Takes
09 – Last Child
10 – Combination
11 – I Don’t Want To Miss a Thing
12 – Cryin’
(Solo de baixo)
13 – Sweet Emotion

1° bis
14 – Dream On
15 – Love in an Elevator
16 – Walk This Way

2° bis
17 – Angel
18 – Train Kept A-Rollin’


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