Tatá Aeroplano

Julia Valiengo Tatá Aeroplano

Se tem uma coisa que faz a cabeça de Tatá Aeroplano é a psicodelia. Som derretendo pelas paredes e melodias espaciais é com esse paulistano cinéfilo, boêmio e crescido em Bragança Paulista, lugar que até hoje é seu refúgio da Poluiceia Desvairada.

Compositor inveterado, ele cria músicas como quem bebe água. O resultado é um disco atrás do outro e ele acaba de soltar Step Psicodélico. Apesar do nome e de ter momentos lisérgicos marcantes, o disco passeia também por outras praias, como se cada música fosse diferentes expressões de Tatá, um cara conhecido também por seu lado brincalhão, ele já passou trotes homéricos em seus amigos, e por criar personagens que se assemelham aos heterônimos de Fernando Pessoa.

Fale um pouco sobre as referências de Step Psicodélico e como foi feito o disco?
Tatá Aeroplano –
Foi o terceiro disco gravado no Minduca, produção musical e arranjos coletivos, novamente com Dustan Gallas, Junior Boca e Bruno Buarque. Pra esse álbum eu convidei a Julia Valiengo pra cantar comigo boa parte das canções, nós fizemos algumas apresentações no ano passado e senti que nossas vozes juntas iam cair bem no disco. Tudo foi tão rápido dessa vez que quando terminou, eu fiquei meio triste, porque foi tão bom e tão astral gravar esse álbum, tudo muito espontâneo e rápido, a gente entrou numa sintonia incrível.

Quanto as referências, acho que esse disco, eu ainda estou muio sintonizado aos compositores portugueses que conheci no ano passado, principalmente Fausto e Sergio Godinho, tem um pouco da atmosfera deles em duas canções do disco. Uma das músicas é Todos Os Homens Da Terra, um presente que ganhei do meu amigo Peri Pane, que é um dos compositores e cantores que eu mais admiro e considero uma sorte milenar ser contemporâneo e amigo dele, inclusive ele começa cantando no novo disco! Tem também participação e parceria com Gustavo Galo, tem a Bárbara Eugênia e a Ciça Goes cantando comigo Step Psicodélico, tem uma parceria com o Flávio Lima, “Outono À Toa”, que é uma das canções que eu canto junto com a Julia. As referências foram os amigos e a sonoridade que a gente gosta tanto, anos sessenta, setenta, e desta vez, anos 80 também. Os arranjos de cordas e sintetizadores que o Dustan Gallas fez nesse disco … é de arrepiar.

Que está rolando de mais novo na música brasileira hoje na sua opinião?
Tatá –
A cena transborda maravilhosamente cada vez mais. Esse ano tive a honra de ver ao vivo o Liniker, que é uma coisa de outro mundo, fiquei apaixonado total com a performance e jeito que ele canta. Vi um show das Baianas e as Cozinha Mineira, já era fã do disco, e a apresentação me deixou nas nuvens, é muito amor.

Tô vidrado no álbum da Luiza Lian, que conheci no ano passado através do cumpadi Galo, semana passada pude ver um show dela que me presenteou com seu CD, que desde então está tocando todo dia na sala de casa.

Sábado passado vi o show do Negro Leo com participação da Ava Rocha, e no domingo primeiro vi o show do mestre Otto que teve participação da Julia e quase peguei o Gustavo Galo cantando Torquato num novo lugar da city chamado Gramo.

O que caracteriza essa cena, na sua opinião?
Tatá –
Hoje a música tá em movimento total e incontrolável e eu não paro de escutar coisas… Cícero, Est (que é o projeto da Silvia Tape com o Edgard Scandurra), Zé Pi, Vitrola Sintética, Mercado de Peixe, Tika, Phill Zr, que é um cara de Paraibuna, muito massa que conheci esse ano, adoro o Marcelo Segreto, e atualmente fico honrado de dividir o apartamento com ele, o Felipe Antunes, que é chapa das antigas já e outro amigo da terrinha, Guilherme Calzavara (Druques, Tigre), que está vindo com coisa nova logo mais.

Ah, Nas Estâncias de Dzyan do Juliano Gauche, é um disco que saboreio a cada audição, Canções Velhas do Periman e bandas que tenho curtido muito Luneta Mágica e Vitreaux e caras que são um universo inteiro como Rafael Castro, quem gosta de música… só tem que agradecer.

O modo como cria personagens faz de você alguém que estende a arte para os limites do dia a dia, você chegou ao ponto de transformar sua vida em um “cinema nacional”, pra usar uma expressão que você costuma usar?
Tatá –
Tem uma querida amiga que me chama de Lírico, eu encaro a vida de uma maneira lírica, vivo o sonho acordado e vivo a vida dormindo, ou vice versa. Os personagens ganham vida e me tiram do cotidiano, eu dou corda pra eles, que ganham vida, tanto no dia, quanto na noite. De dia eu ando a mil por hora pela cidade a pé … num ritmo muito acelerado, baixa um personagem que ultrapassa todas as pessoas na calçada, que conhece os tempos dos sinais de trânsito e as vezes parece que flutua, eu chego muito rápido nos lugares e a sensação é incrível e noite chega o Frito Sampler, o Jota Birinight, o Canga Louca, é a hora de transcender a mente.

Ontem mesmo cheguei em casa a noite coloquei um show pra rolar e o Frito baixou, daí tive que ir lá buscá-lo e dançar um disco inteiro na sala. A vida tem sido um cinema nacional underground… tá bom demais.


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'A vida é um cinema nacional underground', diz Tatá Aeroplano, que lança Step Psicodélico