Especial Mês do Rock: A nova cara do rock nacional
Créditos: divulgacao
A discografia do grupo paulistano Garotas Suecas está disponível, gratuitamente, no site oficial da banda. Em questão de minutos, em uma busca rápida via internet, é possível conhecer o grupo, um dos destaques da cena musical recente. Mas não é jogada de marketing ou ideia miraculosa para salvar a indústria; no caso do quinteto, a opção pelo download autorizado foi completamente natural.
Na quarta e penúltima parte da série A Nova Cara do Rock Nacional, o Virgula Música conversou com o guitarrista Tomaz Paoliello sobre a realidade da nova geração musical, composta por autores e admiradores viciados na internet.
Adeptos de uma sonoridade imediatamente distante do rock, mas influenciado pelos grandes nomes do estilo, o Garotas Suecas não tem vergonha de tentar soar moderno, e muito menos antiquado.
Com referências explícitas à música brasileira de todas as épocas, a banda passeia pelo rock nacional com uma desenvoltura legitimamente brasileira – não é à toa que convidaram o dançarino Jacaré, ex-É o Tchan, para protagonizar o clipe da faixa Banho de Bucha.
Para Tomaz, dependente assumido dos downloads durante toda a juventude, o rock nacional tem todos os ingredientes para voltar a brilhar como em outras épocas. É necessário apenas um pouco de calma. “Aos poucos as pontes vão se formando”, avalia. “Uma hora estaremos em um momento legal”.
Virgula Música – Há alguns anos não se vê novas bandas de rock “estouradas”, com amplo sucesso comercial. O rock nacional ainda existe, ainda continua forte?
Tomaz Paoliello – Ah, existe, totalmente. Acho que, pelo menos pra gente, isso é muito claro. O rock brasileiro tem uma marca, uma personalidade, o jeito com que as coisas são feitas. Inclusive, no nosso som, acho que tem uma manifestação dessa “cara” do rock nacional. Acho que tem muitas outras bandas que ainda transpiram isso.
VM – Em algum momento vocês estabeleceram o sucesso comercial no mainstream como objetivo de carreira?
TP – Bom, se eu pudesse responder para você com uma pergunta, seria “o que é o mainstream?”, porque hoje ele é um meio, não é um fim. O nosso objetivo é que mais gente conheça nossa banda, mas sem abrir mão da nossa autonomia criativa. Mas se [ser mainstream] é tocar no [Altas Horas], programa do Serginho Groisman, como a gente já foi. Para a gente é algo acessível, não é tão distante. A gente se vale de todos esses meios.
VM – Quando o Napster surgiu, no fim da década de 90, ele deu início a um grande debate sobre pirataria na indústria fonográfica, e a maioria dos artistas era contra o donwload ilegal. Hoje, boa parte das novas bandas disponibilizam os discos gratuitamente – inclusive o Garotas Suecas. Você acha que esse é o caminho natural para as novas bandas?
TP – Eu acho que sim. Não podemos ser hipócritas. Em 2001, quando a gente era moleque, todo mundo baixou todos os discos (risos). Muito mais difícil, né? Naquela internet discada, era uma batalha de uma tarde inteira para pegar um [arquivo] mp3. Mas o nosso crescimento de pesquisa, de conhecer coisas novas, foi por esse meio. Então seria hipocrisia vir agora e ser contra isso. Se você pegar os computadores de todo mundo da banda, de todo mundo da nossa geração, eles são lotados de gigas e gigas de mp3 (risos). A gente reproduz a música da mesma forma que a recebemos.
VM – O rock no Brasil sempre teve um sotaque diferente, mesmo influenciado pelo rock inglês, pelo rock americano. No Garotas Suecas, isso fica ainda mais evidente. Você acha que a nova cara do rock no Brasil é acentuar essa mistura com outros estilos?
TP – Pois é, eu não sei se essa é a cara do novo, porque a cara do que sempre foi, como você mesmo disse. Você ouve Os Mutantes, Tim Maia, Paralamas do Sucesso, Titãs, Skank, e sempre tem esse sotaque brasileiro, no mínimo latino-americano, e a gente é completamente criado nisso. Então é a cara do novo rock sim, porque é a cara do rock brasileiro como ele sempre foi. É uma forma muito inteligente de fazer música, é a criação e a recriação das coisas. Você não começa a fazer música do zero, começa depois de gerações e gerações, e isso não pode ser perdido.
VM – O que você acha que falta para o rock nacional para ele voltar às graças do grande público, voltar a tocar nas rádios, e atingir esse mercado que hoje está mais voltado para o sertanejo?
TP – Talvez falte um momento. O rock tem uma qualidade incrível, e existe o público interessado. Muita gente que falta vontade de fazer sucesso nas novas bandas, e eu acho que nenhum dos meus companheiros de geração tem dessa história, todos querem ser conhecidos por uma quantidade maior de pessoas. Por outro lado, tem sim um público interessado. Sinceramente, também, acho que já rola muita coisa boa. A gente abriu pros Titãs, recentemente, na Virada Cultural [em São Paulo], para 50 mil pessoas. Ou seja: 50 mil pessoas lá, vendo o Garotas Suecas… Tem público. Eles estavam lá, foram falar com a gente, e foi genial.
VM – O Wannabe Jalva citou uma experiência parecida, de ter sido bem recebido pelo público do Pearl Jam, em Porto Alegre. Você acha que falta apenas um meio de fazer essas bandas novas chegarem ao público?
TP – Acho que sim. E tem a internet, tem tudo isso. Só que eu acho que pra muita gente isso ainda não é acessível, ou não tem essa facilidade para chegar às bandas novas. Também estamos mais frequentemente em destaque para o público jovem, e tem um público de rock formado nos anos 80. Nesse show com os Titãs, por exemplo, veio um casal mais velho, com dois filhos, falar para a gente que já tinham visto o Titãs, e que queriam ver a gente. Então, aos poucos também estamos chegando aos fãs de rock dos anos 80, daquele momento mágico que rolou lá. Aos poucos as pontes vão se formando e uma hora estaremos em um momento legal.