Romy Madley Croft é um enigma. A vocalista e guitarrista da The xx não é celebridade das redes sociais e a única vez que a vida fora dos palcos virou notícia foi no começo deste ano, quando anunciou o noivado com a designer Hannah Marshall.
Ao Virgula Música, que entrevistou o ícone do dream pop em um restaurante de São Paulo, na terça (28), ela contou que a timidez é uma “luta”. Nosso encontro ocorreu três dias depois do grupo ter sido um dos headliners do Lollapalooza e comprovar seu gigantismo. No show, a música atmosférica dos ingleses foi recebida com reverência. Darks para as massas.
O trio maravilha, formado também por Jamie xx e Oliver Sim, lançou I See You, terceiro álbum de estúdio do The xx, em janeiro e surpreendeu a crítica e os fãs pela forma como conseguiram manter as características dos outros dois trabalhos da banda, como os beats hipnóticos, sintetizadores climáticos e dobradinha entre baixo e guitarra que os aproximam do pós-punk, aliados a nova explorações de timbres e melodias. Tudo isso tendo a voz de Oliver e Romy à frente como um yin-yang.
“Eu acho que é algo que eu tenho que fazer. No começo, a gente não fazia música com ambição. A gente nunca sonhou que iria tocar em um palco para tanta gente que ama nossa música. Eu acho que aquela paixão continua lá. Mesmo se ninguém estiver ouvindo, eu vou continuar fazendo música”, afirma Romy sobre o que a motiva a querer fazer uma música nova.
A inglesa comentou sobre como é ser uma popstar tímida: “Tem sido uma batalha. Porque, de uma hora para outra, você sobe ao palco e as pessoas esperam que você faça algo, diga algo. Eu continuo batalhando com isso, algumas vezes. Estar em uma banda me deu um monte de confiança, realmente ajuda na minha vida. Se eu quero dizer algo, ponho na minha cabeça aquilo que eu tenho para dizer”.
Romy contou também como é um dia normal da sua vida em Londres. “Acho que é o oposto de quando eu estou em turnê. Tudo anda tão rápido, você vai de um lugar a outro muito rápido. Quando eu volto, a minha vida segue bem devagar. Vejo amigos, vou a parques, eu sou bem sossegada”, ressaltou.
Sobre onde busca inspiração para compor, ela revela sua fonte nela mesma e nas emoções humanas. “Eu me inspiro em pessoas e meus relacionamento com elas e em minhas emoções. E outras pessoas, outras músicas e outras letras. Eu acho que muitas vezes eu estou ouvindo uma música e e ela está ficando armazenada algum lugar no meu cérebro. Fazer shows, ir a lugares me inspira. Eu fico anotando, escrevendo letras no meu celular”, disse.
Para a popstar, o fim das barreiras musicais é o que está acontecendo de mais novo na música hoje. “Os gêneros musicais estão se misturando e acho isso muito bom. Hoje você tem o Spotify que facilita ir de uma música a outra muito rápido. As pessoas que fazem música também estão ouvindo mais música. Eles fazem uma colagem”, constata.
A cantora e guitarrista também contou durante a conversa sobre quem considera seus heróis musicais e surpreendeu. “Sade é uma grande heroína para mim, sou uma grande fã. Adoro sua voz e como pessoa, ela tem muita privacidade. Continua sendo uma grande artista popular, mas mantém a sua vida pessoal muito privada. Sade é massa. Eu amo Mariah Carey porque acho que ela tem a voz mais incrível, acho as músicas delas incríveis também. Essas são as mulheres do pop. Eu também amo The Cure, Portishead. Eu também gosto de heavy e rock como Queens of The Stone Age, Savages. Eu gosto realmente de muitos tipos de música”, afirmou.
Outro assunto abordado foi o momento da vida em que percebeu que música se tornaria profissão. “Quando eu era criança eu adorava desenhar, era mais ligada no visual que na música. Quando eu tinha tipo 14 anos eu me apaixonei por música, comecei a ir a shows, gostar de bandas. Quando eu tinha 15 eu pensei, por que não? Muita gente canta quando é criança, às vezes em corais, para mim foi uma coisa mais tardia. Eu não sabia que eu me tornaria artista, eu apenas queria fazer música e acabou sendo uma forma de expressar minhas emoções. Foi isso que me colocou dentro da música”, revelou.
Ela apontou ainda que o sucesso não veio de uma hora para outra: “Aconteceu gradualmente. Comecei a tocar aos 16, 17, em Londres. A gente fechou com a The Young Turks, um selo musical e de gerenciamento musical, que nos encomendou um álbum. Foi um sonho, tocar música. Provavelmente aos 18, quando o álbum foi lançado, foi um grande momento”.
Romy foi cirúrgica ao falar sobre o que considera tipicamente inglês na música do The xx. “Acho que existe uma certa qualidade de ser reservado na nossa música. Você não percebe o que é inglês ou não até comparar com outros lugares do mundo. Eu acho que somos bastante contidos e nossa música gosta de deixar espaços e quietude.”
Modelo de sucesso para muitos gays que enfrentam preconceito e a violência, ela ficou chocada ao saber pela reportagem que o Brasil é o país que mais mata gays no mundo quando perguntamos se a sua declaração sobre o casamento era algo mais romântico ou política: “Para mim, definitivamente é uma declaração romântica. Eu não sou uma pessoa enormemente politizada. Mas quando eu acho que as coisas estão erradas, eu falo com certeza. Mas parte muito meu coração saber disso. Mortes de pessoas gays? É isso? Eu acho que em alguns aspectos o mundo está avançando em termos de ser mais aberto em relação aos LGBT ou das pessoas em geral. Ser gay em uma banda me faz mais confortável para falar disso. Talvez porque eu esteja mais velha e confiante. Mas tudo que eu quero dizer para as pessoas é que percebam que isso não é uma grande questão, isso é parte da sua vida, é normal. Quero que as pessoas acreditem que não é errado, é natural, é OK”.
Uma última pergunta tenta decifrar a esfinge: que música composta por ela mais revela sobre seu verdadeiro eu. “Acho que é a música Test Me, do novo álbum. É uma música muito pessoal sobre o último relacionamento do Oliver. É uma música muito honesta e foi algo que fortaleceu a nossa amizade. Fiquei muito feliz quando saiu”, finalizou Romy. O chá dela chega. Me despeço meio sem jeito e saio tentando evitar olhar para trás. Que mulherão!