Bastidores de um desfile de moda são frenéticos por natureza. Geralmente o espaço é dividido em três salas onde cabeleireiros e maquiadores correm contra o tempo. Stylists gritam tentando não atrasar demais a apresentação. Modelos se revezam entre sentar no chão e esperar, fotografar ou trocar de roupa ali mesmo na frente de várias pessoas. Estilistas estão sempre nervosos. Jornalistas entram e saem o tempo todo com câmeras ligadas e mil entrevistas. Apesar de estressante, é divertido!
Mas, nesta segunda-feira (25), segundo dia de SPFW, tinha um grupo um tanto tímido no meio desta “confusão”. Eram seis refugiados que aguardavam em silêncio a chance de pisarem pela primeira vez em uma passarela.
Na pequena sala de espera, a turma se espremia entre modelos profissionais e assessores e parecia perdida já que só um deles entendia a gritaria em português.
Vindos da Síria, Senegal, Angola e Palestina, eles foram convidados pelo estilista Ronaldo Fraga para fazerem parte da apresentação da sua – linda! – coleção de verão 2017. A linha tem como tema a resistência destas pessoas que são obrigadas a abandonarem suas casas em busca de uma vida melhor longe dali.
De pé em um dos cantos da sala, estava Alassane Diaw. O senegalês fala apenas francês e se revezava entre esperar a hora do desfile dentro e fora do backstage. Perguntado sobre o que estava achando daquilo tudo, disse ao Virgula: “não entendo direito, mas estou feliz”. Ele está há um ano no Brasil e trabalha como vendedor de roupas.
Feliz da vida mesmo estava o sírio Nour Qoeder, único a falar português no grupo. O motivo da alegria? Ele se formou em moda na Síria e, para um estilista, nada melhor do que estar no meio da adrenalina de uma sala de desfiles.
Fugindo da guerra, Nour chegou no País há dois anos. Ele já tem família por aqui, então arrumar casa e trabalho foi um pouco menos complicado. “Trabalho com meu tio fazendo vestidos de noiva no Brás”, contou.
Além da diversidade de nacionalidades e raças, o estilista levantou ainda outra diferença. Na passarela, estava a modelo transexual Camila Ribeiro. Ronaldo encerrou o segundo dia de SPFW com um espetáculo incrível de moda e, principalmente, uma mensagem muito importante nos dias de hoje!
O desfile
Nos últimos anos, a Europa já recebeu milhões de refugiados e o mundo assiste uma de suas piores crises migratórias diante dos horrores de guerras civis, étnicas e religiosas. Neste cenário, o Brasil também entrou na rota de quem procura um novo lar.
E foi observando a tristeza e dificuldades dos caminhos que percorrem os refugiados que o estilista se inspirou para uma coleção colorida, intensa e cheia de formas ousadas. “Mas o que a moda tem a ver com isso? Ali (para os refugiados) a roupa é casa, é abrigo, é memória. É a única herança de sua terra e elemento da identidade. Roupa também é uma arma de ‘re-existência'”, escreveu Ronaldo Fraga sobre o desfile.