Transgressão. Esta é a palavra de ordem da SPFWTRANSN42, maior evento de moda do país, que rola até a próxima sexta, 28, no Ibirapuera e em outros pontos importantes de São Paulo. Na segunda-feira, primeiro dia de SPFW, o rapper Emicida revolucionou as passarelas com o desfile de sua marca LAB. No casting, modelos predominantemente negros, plus size e “reais”, algo histórico em um meio repleto de padrões e estereótipos de beleza.

Na quarta-feira, foi a vez do estilista Ronaldo Fraga desfilar sua coleção apenas com modelos transexuais, um manifesto contra a transfobia no Brasil. Por apresentar duas performances tão avessas à conduta padrão da SPFW, esssa edição foi aplaudida de pé. Mas será que a gente se contenta em ver apenas alguns desfiles “exceção” ou queremos uma semana de moda completamente diferente do que tem rolado nos últimos anos?

Fomos conversar com uma galera para entender o que precisa mudar na SPFW para que ela nos represente, de verdade, nas próximas edições. Vem ver!

Acesso e diversidade

“Precisamos de uma moda mais acessível. Além de colocar modelos diferentes na passarela, o público precisa ter mais acesso à moda, ao que produzimos dentro do país e que é mostrado nesse evento. Tem muita gente que gostaria de participar da SPFW, mas não tem acesso ao processo criativo, ao que rola de verdade. O Emicida definitivamente abriu uma porta no desfile de segunda-feira, foi emocionante. A entrada dos modelos plus size arrepiou quem estava assistindo. Acho que as marcas têm muito o que aprender com essa diversidade de corpos, porque nós apenas víamos algo muito distante da nossa realidade. Falta colocar pessoas de verdade ali. A moda tem que ser para todos”.

Marcelly Silveira, designer de moda

Voz própria

“O SPFW é o maior evento de moda do Brasil, e eu não me sinto representado no meio, nem como negro. Acho importante que outras causas ganhem espaço dentro da moda, como a presença de modelos transexuais, também. Mas isso não tem que ser falado só em um dia de desfile, com um grupo seleto. Falta oportunidade para esses grupos que não estão em destaque, que não seguem um padrão. É um evento totalmente restrito, não só para o negro, mas para pessoas não-binárias, também. O caminho, como eu acredito, é uma SPFW que as pessoas possam falar por si próprias, que tenham voz. Embora a gente esteja vivendo um momento conservador na política, acho que a gente tá conquistando um rolê cada vez mais empoderado, e o desfile do Emicida foi prova disso. É um movimento que está chegando à moda aos poucos. Só tende, espero, a melhorar”.

Guilherme Blum, produtor cultural

Mais oportunidades

“Acho que ainda falta colocar pessoas negras para trabalharem na SPFW, mesmo, não só representar ali na passarela. Falta esse envolvimento financeiro, também, mais oportunidades para o povo preto. Ainda é algo muito estético. Se você quer mudança política, você precisa criar ferramentas, ainda que mínimas, para que essas continuem participando da moda no Brasil. Não tem que ser só atração. Achar que tudo vai mudar por causa do desfile do Emicida é otimismo, porque estamos falando de um preconceito que é estrutural, mais profundo. O lance é não deixar que essa porta se feche, mas é um trabalho que tem que vir de todos, inclusive de quem detém os privilégios”.

Apolinário, designer

Vai ter gente gorda, sim!

“Das últimas edições até essa, que teve o desfile do Emicida, percebo que o cenário está caminhando para uma evolução. Não está estagnado, como achávamos. Eu quero que nos próximos SPFW a gente veja mais gente gorda, de verdade, não os ‘cheinhos’ que o povo chama de plus size, sabe? Eu espero que a moda entenda a realidade das pessoas, mesmo. O que Emicida fez foi justamente isso, trazer pessoas reais para a passarela, que têm tudo a ver com a marca”.

Magá Moura, Fashion PR

Uma foto publicada por Glamurama (@glamurama) em

Menos padrões

“Eu acredito que eles precisam quebrar cada vez mais esse padrão de modelos tradicionais que desfilam na SPFW. Sabe essa história de só poder desfilar quem é alto e magro? Isso precisa acabar. Muitas pessoas querem fazer parte e não podem porque não seguem esse padrão absurdo. O legal do desfile do Emicida é que tinha de tudo um pouco, espaço e destaque para todo mundo”.

Wesley Brito, ator

Menos conceito, mais lifestyle

“Acho que falta  um pouquinho mais diversidade e estilo próprio, mesmo. Uma pegada mais de ‘lifestyle’ na SPFW. É um evento extremamente conceitual, que dificilmente você consegue trazer para o seu dia-a-dia. E dá para a gente ficar na moda, mas de um jeito mais casual, né? Acho que é isso que falta, um pouco mais de Brasil e vida real. Espero que o que rolou no desfile do Emicida abra portas para um novo cenário de moda, que faça parte da nossa realidade e com pessoas reais, como a gente”.

Mayara Castilho, blogger


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O SPFW te representa? Visitantes contam o que precisa mudar nas próximas edições