Comércio popular vende peças inspiradas nas tendências do SPFW
Créditos: gabriel quintão
Se você imagina que aquilo que é apresentado nas passarelas das semanas de moda demora meses para chegar às lojas, está muito enganado. No último dia (2) de desfiles da edição de inverno da SPFW, percorremos o bairro do Bom Retiro, em São Paulo, para ver se as tendências apresentadas já estavam disponíveis no comércio popular. Pode apostar que sim.
“Esse é um período que traz para São Paulo gente de todo o País atrás daquilo que a SPFW indica que será tendência. É nesta semana que os lojistas se preparam para montar o preview de inverno, já com algumas peças que serão vendidas na estação, por isso o movimento é alto”, explica o empresário Fábio Shoel, dono da loja Guelt (Rua Ribeiro de Lima, 732), no Bom Retiro, e de uma confecção que faz roupas tanto para sua marca própria, como para grifes como Daslu e 284.
Passando o olho por algumas vitrines do bairro [no Bom Retiro é preciso separar o joio do trigo na hora de garimpar peças de qualidade], percebe-se rapidamente que assim como nas passarelas da semana de moda, o preto, o couro, o branco e a renda serão as estrelas da estação. “A gente já sabe o que será tendência no Brasil seis meses antes da SPFW, através das semanas de moda da Europa. Os estilistas se inspiram nas grandes grifes do mundo pra criar algo conceitual, e a gente adapta o conceitual pro popular”, conta Fábio.
Peças de alfaiataria, como as apresentadas nas coleções de Alexandre Herchcovitch, o off white de Glória Coelho e o xadrez de Juliana Jabour bebem da mesma fonte que os estilistas das lojas populares, com a diferença de que no lugar de arte e conceito a inspiração deles é traduzida no desejo popular de vestir aquilo que está na moda. “As mulheres que fazem compras no Bom Retiro nessa época de SPFW são mais ligadas em moda, querem levar pra cidade delas a novidade em primeira mão. A grande diferença entre elas e quem acompanha os desfiles é que a minha cliente quer a tendência, mas não abre mão de mostrar o corpo, quer algo que seja usável e não as modelagens de desfile, que normalmente são mais estruturadas e escondem as curvas”, analisa Fábio.
Uma padronagem que apareceu pouco no inverno da SPFW, mas domina as araras do comércio de rua é o xadrez, que veio forte nos desfiles do inverno 2010, mas praticamente sumiu nesta edição. A explicação, segundo o empresário do Bom Retiro, tem muito mais a ver com cultura pop do que informação de moda. “A gente vive hoje no Brasil um forte apelo da cultura country, do sertanejo universitário que toma conta das baladas. Não dá pra ignorar que as meninas querem usar shorts curto com camisa xadrez e bota, mesmo isso não estando em desfile algum”, comenta.
DESCONSTRUIR PARA CONSTRUIR
“Os desfiles mostram o conceito no último grau. Não é preciso segui-los pra vestir o que é tendência. A ideia é pegar uma peça ou outra e desconstruir o que foi apresentado”, comenta a crítica de moda Costanza Pascolato. O que Costanza está dizendo é exatamente o que veremos a partir de hoje (3), primeiro dia pós SPFW: editoriais de moda, revistas de celebridades, blogs e sites especializados, todos ensinando como adaptar os looks das passarelas para a vida real. Para Fábio, é assim que a informação chega rapidamente ao consumidor. “Raramente alguém vem aqui querendo algo que viu na passarela, mas sim algo que a revista X mostrou que estava no desfile e ensinou a adaptar. A informação hoje está em todo lugar e chega muito mais rápido ao público comum. É por isso que eu tenho no estoque 200 coletes de pele, por exemplo. Sei que vai vender pouco, mas tinha na São Paulo Fashion Week, então temos aqui também”.