Feira Cultural LGBT
Imagine um cara que não manja lhufas de maquiagem e que confundiria lápis de olho com batom. Agora, pense em um cara que ganharia facilmente o prêmio de pior dançarino em uma confraternização de freiras. Esse cara sou eu (parafraseando Roberto). E, mesmo ciente de suas limitações, esse cara topou o desafio virgulístico de se montar como drag queen e dançar na frente de uma multidão no concurso Miss Drag Diversidade, realizado na última quinta-feira (1º), na Feira Cultural LGBT, em São Paulo. Foi uma experiência libertadora.
O evento abriu a programação da Parada do Orgulho Gay, que tomará a Avenida Paulista no domingo (4). Entre as atividades, a simpaticona Dindry Buck realizou uma oficina em que, além de falar sobre o mercado para drag queens, mostrou o passo a passo para uma montação. Eu estava inscrito para o workshop, e quem fizesse a oficina poderia participar do concurso.
Munido apenas de meia-calça e sapatos da minha irmã (ela ainda não sabe que peguei emprestado), fui acudido pela drag Tchaka Rainha, que tinha um estande no local e tirava fotos com visitantes. Contei sobre meu despreparo, e ela gentilmente me cedeu um vestido laranja, uma peruca e um corselette. “Como vou conseguir respirar com essa coisa apertando os pulmões?”, pensei ao apertar o corselette. Isso porque ainda não havia experimentado o salto-alto.
Na oficina, Dindry explicou a amplitude do mercado para drags. Shows, festas de aniversário, casamentos, formaturas… Muita gente quer um colorido extra para seu evento. “As drags surgiram no Brasil, nos anos 80, em boates. Hoje, drag é muito mais do que peruca, roupas chamativas e salto. É uma profissão. Você tem de saber se portar”, discursou.
Sobre as mesas de plástico brancas, eu via pincéis e estojos de maquiagem e bastõezinhos com pontas de algodão. Não sabendo por onde começar, Dindry, Sissi Girl e a Drag Diversidade 2013 Yasmin Carrarroh me ajudaram com a maquiagem. Primeiro, apagar a sobrancelha. Depois, passar base no rosto. Rímel, sombra, blush e batom vêm em seguida.
Quando olhei para o espelho e vi uma menina no lugar do maluco que vejo todos os dias de manhã antes de fazer a barba, bateu um nó na cabeça. Sorri. “Cara, até que você fica melhor de drag”, pensei.
Uma vez maquiado e vestido, a confusão mental aumentou. Certamente, eu não deveria me portar da forma de que eu me porto normalmente. Drags são extravagantes e expansivas e, ao mesmo tempo, superfemininas. É difícil entrar na personagem quando se tem uma formação cultural tão heteronormativa quanto a que a maioria de nós tivemos. No entanto, eu estava na chuva, e era para me molhar. Dindry e Sissi me batizaram de “Felícia Drag”.
“Cinco minutos para subir ao palco”, anunciou Sissi. Saímos da tenda da oficina e andamos até o local da apresentação. Eram uns bons 500 metros de caminhada, e uma porrada de gente tirava fotos do grupo de drags. “Ei, querida, uma dica: Não mexa tanto os braços e tente manter a coluna ereta. Você tem de ter uma postura feminina”, me aconselhou um rapaz, durante o percurso. Ele estava certo. Eu andava como o Shrek.
Atrás do palco, Ju Tozzi, companheira de desventuras, editora do Virgula Lifestyle e ex-Miss Guarapari no Espírito Santo, dava dicas para a minha apresentação: “Você sabe o que vai fazer? Tenta uns movimentos com os braços. O importante é alongar os movimentos com os braços”. Eu estava infinitos níveis abaixo dessa preocupação. Eu ensaiava andar de salto e sorrir ao mesmo tempo, sem tropeçar e cair de boca no chão (tarefa difícil).
Na hora de subir no palco, puxei conversa com uma das candidatas. “Você já participou desse concurso?”. “Não. É a primeira vez. Eu só me montava em casa, por diversão, mas é a primeira vez que eu me apresento em público. Estou supernervosa. Você está nervosa?”. Pensei por uns segundos. “Honestamente, não sei se estou nervosa. Acho que estou com medo de cair do salto e perder os dentes”, respondi. Subi ao tablado.
A apresentação, no entanto, foi tranquila e eu não perdi dente algum. Dançamos (eu fingi que dancei) Um Beijo pras Travesti, da MC Xuxú. No fim, peguei o terceiro lugar, minha melhor colocação em concursos desde que ganhei o título de pior dançarino em uma aposta no colegial.
“O que é ser uma drag para você?”, perguntei a Dindry depois da oficina. “Para ser drag, não importa sua orientação sexual, não importa se você é homem ou mulher. Ser drag é ter a missão de levar alegria aonde quer que você vá. É respeitar a diversidade”, disse.
É bem isso. Eu recomendaria a qualquer pessoa, homem ou mulher, hétero ou gay, corintiano ou flamenguista, experimentar ser drag por um dia. Você pode até achar que não tem vocação para a coisa, mas descobrirá um universo divertido e transgressor no caminho.
Repórter do Virgula se monta e participa de concurso de drag queen