Se escolher uma profissão já é um desafio para muitos, imagine depois de anos exercendo alguma e com um emprego fixo, mudar completamente de área, arriscando-se em uma nova profissão ou em um negócio próprio?

É o caso da cake designer, Carla Ikeda, 33, que era sócia fundadora de uma produtora de eventos. “Eu sempre amei cozinhar, mas nunca levei isso a sério. Tudo mudou quando eu fiz 30 anos. Apesar de gostar de meu trabalho anterior, a vontade de seguir minha paixão foi aumentando e senti que se eu deixasse o tempo passar muito mais, eu acabaria perdendo o ‘timing’ para mudar radicalmente de profissão e ficaria frustrada por nunca ter tentado.”

Porém, Carla afirma que fez tudo no tempo certo: “Me liguei que me divertia muito mais na cozinha do que nos shows que produzia. Eu não queria largar minhas ex-sócias na mão, então continuei trabalhando lá por mais dois anos. O dia da minha saída foi um dos mais felizes da minha vida. Lembro-me de voltar para casa me sentindo super leve e feliz. A partir daí nunca mais olhei para trás e nem voltei a trabalhar como produtora”.

A diretora de arte, Sachimi Garcia dos Santos, 39, teve diversos empregos ao longo de sua vida. “Comecei como arte-finalista numa agência de publicidade em Bruxelas. Depois virei diretora de arte e designer gráfica e agora trabalho como pesquisadora em uma fundação de arte contemporânea africana chamada Fundação Sindika Dokolo. Também trabalhei como garçonete quando era estudante”, conta.

Para Sachi, houve uma época em que ela sentiu que tinha que mudar de vida, principalmente quando trabalhava como diretora de arte na área de moda. “O conteúdo do trabalho estava ficando muito cíclico e não evoluía, até por causa dos ciclos repetitivos das estações. Então comecei a estudar gastronomia, mas não cheguei a exercer a profissão de chef. Quando planejava abrir um negócio na área, meu amigo Fernando Alvim me convidou para trabalhar com arte contemporânea africana, na fundação da qual é vice-presidente. Ele me convidou para viajar até Luanda, Angola, para conhecer o trabalho da fundação. Aceitei e o projeto de gastronomia ficou guardadinho na gaveta.”

Mas ela não abandonou as outras profissões: “Não abandonei os trabalhos de direção de arte e design. Fotógrafa profissional e cozinheira eu nunca fui, mas continuo fazendo as duas coisas. Gosto de pesquisar culturas gastronômicas, ingredientes, produtos e receitas. É muito difícil responder qual dessas áreas eu gosto mais. Eu amo fotografar, é uma expressão que me dá possibilidade de falar o que não posso falar em palavras. E isso está ligado com o trabalho de arte, na Fundação. A cozinha é puro prazer mesmo, mas também disciplina. Gosto de tudo que faço!”

Ambas disseram que nunca se arrependeram das mudanças. “Ainda não ganho o tanto quanto ganhava como produtora, mas estou chegando lá. Sinto-me extremamente realizada. A melhor coisa é acordar feliz por ter que ir trabalhar. Hoje estou me especializando em bolos decorados com pasta de açúcar, muffins e cupcakes. Por enquanto trabalho sozinha, mas sinto que em breve terei que contratar assistentes”, diz Carla.

Ela ainda relembra quando começou sua paixão em cozinhar. “Fiz meu primeiro bolo quando tinha nove anos de idade e eu tinha que subir em uma cadeira para conseguir misturar a massa no balcão. Costumava passar madrugadas cozinhando e quando meus pais acordavam eu havia feito tortas, bolos, cookies, pães, etc.”

Indagada se recomendaria as pessoas a explorarem novas oportunidades, Sachi diz que “a profissão de cada um é um assunto muito individual. Dificilmente eu recomendaria algo assim para alguém. A mudança tem que ocorrer de dentro, como uma necessidade, eu acho. Se uma pessoa é, por exemplo, um pianista nato genial, para que mudar de ramo? Só se ela estiver infeliz com o que faz”, conclui.


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Virando a mesa: mudar de profissão pode ser uma boa

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