Cobras venenosas e outras espécies de serpentes convivem normalmente com os habitantes de uma pequena e pobre aldeia do nordeste da Tailândia, na qual os répteis substituíram o cachorro como o principal animal de estimação.
Cravada em uma paragem, onde só se chega cruzando arrozais e caminhos poeirentos, que se transformam em lama na época de chuva, Ban Kok Sanga é conhecida como a “aldeia das cobras”, já que o número de serpentes é maior do que o de famílias.
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“Há mais de 200 serpentes no povoado, a maioria guardadas em jaulas. Quase todas as famílias têm uma”, explica à Agência Efe, Siwichai, um morador local de 64 anos.
A entrada desta aldeia, habitada por pouco mais de 100 famílias, está repleta de jaulas de diversos tamanhos, as quais guardam cobras e também pequenos macacos (lêmures).
“As serpentes já me picaram quatro vezes, mas sempre pude tomar o antídoto a tempo e não senti nenhuma dor”, completa Siwichai, sentado à sombra de uma árvore e junto de uma pequena jaula que mal consegue acomodar a jiboia de estimação do morador.
Os habitantes de Ban Kok Sanga fazem seu próprio antídoto contra o veneno da cobra a partir da cúrcuma (Curcuma zedoaria), uma planta local conhecida como “wan paya gnoo”, cujas propriedades são reconhecidas por organismos internacionais de farmacologia.
Esta poção, misturada com sumo de lima, surte efeito meia hora após a ingestão, inibindo as enzimas tóxicas do veneno da cobra e dos escorpiões, que também são abundantes no meio rural desta região.
Foi a coleta desta planta e de outras destinadas a fabricação de remédios medicinais, principal fonte de renda dos aldeães, que impulsionou um médico local a incluir este povoado no mapa com um espetáculo de serpentes, isso há mais de seis décadas.
As crianças também possuem serpentes e as usam para criar uma espécie de apresentação circense dançando com jiboias sob os ombros. Essa afirmação é exemplificada em um palco, com três meninas de vestidos amarelos, que dançam com suas cobras ao som da música tradicional tailandesa.
“Olhem, as meninas bonitas dançam com serpentes”, diz a apresentadora com uma voz que soa distorcida através dos velhos alto-falantes.
Depois, com um gesto repentino, elas arrancam um grito de espanto dos espectadores ao colocarem a cabeça dos répteis na boca durante alguns segundos, isso sem deixar de movimentar as pernas e os braços ao som de uma melodia tradicional.
O ponto alto da apresentação chega com as brigas entre cobras e adultos ou crianças, que dão pequenos tapas nas serpentes com a aparente intenção de provocá-las.
As crianças de 12 e 15 anos se esquivam com agilidade dos furiosos ataques dos répteis, que por instinto tentam quase sempre de escapar do assédio durante os poucos minutos que dura o combate.
Acabada a apresentação, os espectadores fazem doações e dão gorjetas às crianças que participaram do espetáculo, o que transformou a aldeia em um verdadeiro serpentário, mas não conseguiu tirar seus habitantes da pobreza.
Agora, 60 anos depois do nascimento deste circo, a maioria das famílias continua vivendo dessas pequenas doações e da venda de plantas medicinais.
“Eu fui trabalhar em Hat Yai, no sul, mas tive que voltar devido às inundações e, pouco tempo depois, comecei a trabalhar como apresentadora aqui. Mas, assim que puder, voltarei a Hat Yai“, relata a mulher.