Uma equipe médica francesa realizou um inédito transplante de um coração artificial elaborado a partir de tecidos biológicos, que reduz o risco de rejeição e que funciona de forma autônoma, informou nesta sexta-feira (20) a empresa que concebeu a prótese.
A operação, bem sucedida, ocorreu na quarta-feira no hospital Georges Pompidou, em Paris, como um “teste clínico”, informou a empresa Carmat em comunicado.
O coração implantado, explicou o grupo, gera uma circulação sanguínea de forma autônoma em nível fisiológico.
De acordo com a nota, o paciente já está acordado e em observação, e se comunica com sua família.
O diretor-geral da empresa, Marcello Conviti, pediu prudência em relação aos resultados desse primeiro implante porque “seria precipitado tirar conclusões quando se trata de um único transplante” e porque “o pós-operatório é ainda muito curto”.
Carmat apresentou essa prótese revolucionária há quatro anos como uma solução para “dezenas de milhares” de pacientes com insuficiências cardíacas e que não tinham acesso a um doador natural.
Mas até setembro passado, a empresa não teve a permissão das autoridades de saúde francesas para realizar o primeiro implante em um ser humano.
Carmat acredita que o coração artificial que desenvolveu imite perfeitamente o funcionamento de um órgão natural, adaptando de forma autônoma seu ritmo à atividade do portador sem necessidade de um controle externo.
A prótese é desenvolvida a partir dos componentes, frequentemente de origem animal, das válvulas cardíacas concebidas pelo professor Alain Carpentier, cofundador de Carmat.
Graças a seus tecidos biológicos e a sua concepção autônoma, o coração resolve, de acordo com seus criadores, os principais problemas aos que se enfrentam as próteses cardíacas artificiais.
Ao contato com materiais artificiais, o sangue cria coágulos de sangue que multiplicam os riscos de acidentes cardiovasculares.
“Os materiais biológicos utilizados neste coração são hemocompatíveis, o que limita os riscos de coagulação”, disse Carpentier durante a apresentação da prótese em 2008.
O coração é dotado de sensores eletrônicos e de um complexo sistema electromecânico que detecta a posição em que o paciente está – de pé, sentado ou deitado – além da pressão venosa e arterial ligada a sua atividade, por isso adapta a frequência cardíaca e o fluido às diferentes situações.
A concepção da prótese é fruto do trabalho de uma equipe multidisciplinar na qual, além da experiência médica de Carpentier, participaram engenheiros do consórcio aeronáutico europeu EADS, proprietário do fabricante de aviões Airbus.
Mais de 15 anos de estudo permitiram criar esse coração com o qual seus inventores esperam salvar “dezenas de milhares de pacientes”.