A poluição provocada pelos veículos em São Paulo causa 4,6 mil mortes por ano na maior cidade do país, um número três vezes maior que o de mortos em decorrência de acidentes de trânsito, de acordo com relatório divulgado neste domingo (22) em meio à realização do Dia Mundial sem Carro.
Segundo a pesquisa do Instituto Saúde e Sustentabilidade, esse tipo de poluição é responsável pela redução de 1,5 ano de vida da população na região metropolitana de São Paulo, que concentra em seus 38 municípios mais de 20 milhões de pessoas.
O custo para o atendimento de pacientes tratados por doenças causadas pela poluição veicular, de acordo com o estudo, pode chegar a cada ano a R$ 1 bilhão.
A diretora-executiva do instituto, Evangelina Vormittag, afirmou à “Agência Efe” que as medidas adotadas pelo município, como a adesão neste domingo ao Dia Mundial sem Carro e o estudo para implementar a cobrança de pedágios no centro da cidade, são também um assunto de saúde pública.
Na atividade de hoje, que acompanha a Virada Esportiva, uma jornada contínua de 48 horas de atividades esportivas em ruas, estádios, parques e outros espaços da cidade, São Paulo restringiu o trânsito de veículos em 60 ruas e avenidas do centro, para dar espaço a bicicletas, patins e skates.
“Com a restrição do tráfego de veículos e levar as pessoas a usarem um transporte fisicamente mais ativo, como as bicicletas ou o simples fato de caminhar, existe uma redução das taxas de colesterol, e com um maior controle da obesidade haverá menos doenças”, disse Evangelina.
A falta de mobilidade e o alto fluxo veicular têm, segundo a pesquisadora, efeitos nos níveis de estresse e ansiedade das pessoas, que passam a tolerar menos o barulho e o tempo perdido nos engarrafamentos.
“Esse tempo perdido no trânsito poderia ser aproveitado para a recreação, o exercício físico, a convivência familiar ou em mais e melhores horas de sono”, destacou a especialista.
O urbanista e professor da Faculdade de Arquitetura da Universidade de São Paulo (USP), João Sette Whitaker, considerou em entrevista à “Efe” o contexto da cidade é “problemático”.
“O assunto de São Paulo é complicado porque estamos falando de um modelo que foi durante um século permanente e pensado em sua estrutura em função do automóvel”, salientou Whitaker.
Para o professor, “quando isso colapsa e começa a perturbar a classe média, surge então a questão de mobilidade em discussão e se descobre que o modelo de mobilidade estruturado nos carros era insustentável”.
No entanto, Whitaker considera que não é o momento para pensar em uma restrição permanente de veículos no centro da cidade, devido a que uma proposta nesse sentido só funcionaria com o melhoramento do serviço de transporte público.
“Este dia (o Dia Mundial sem Carro) funciona como um sinalizador de que esta perspectiva pode ser pensada para o futuro”, finalizou.