Paulo Leminski completaria neste sábado (24) 69 anos e suas poesias romperam a barreiras das páginas, e viraram um verdadeiro fenômeno, passando a fazer parte dos muros e dos corpos da cidade. O recente lançamento de Toda Poesia (Companhia das Letras, 2012) , reunião de toda produção poética de Leminski, causou furor na imprensa ao ultrapassar o best-seller “50 tons de cinza” em março deste ano.
Os números recebidos com surpresa revelam o fenômeno que se tornou o poeta nestas últimas décadas, basta ver a quantidade de eventos culturais com seu nome, que batiza um lugar de show em Curitiba, um centro cultural, inúmeras ruas pelo Brasil. Até a virada cultural de São Paulo deste ano contou com um sarau e um show em homenagem ao poeta, com poemas e músicas de sua autoria.
Basta andar pela cidade para ver poemas em seus muros: no famoso encontro das avenidas paulistas e consolação, em um prédio, é possível ler “Haja hoje / para tanto ontem”. Para tentar entender um pouco sobre a “febre” provocada pelo trabalho do autor, o Vírgula Inacreditável entrevistou Fabiano Calixto, poeta e organizador do livro sobre o poeta A linha que nunca termina (Lamparina, 2004), e Sérgio Cohn, organizador da coletânea de poesia brasileira Poesia.br (Azougue Editorial, 2012) e criador da Azougue Editorial.
Sérgio Cohn não vê com tanta surpresa estes números, pois, apesar de impressionantes, revelam uma outra tendência: um ressurgimento da poesia nas livrarias. “Tivemos poetas que conquistaram bastante público nas últimas décadas”, diz o escritor, citando o caso dos livros do Arnaldo Antunes e do Manoel de Barros na década de 90, “não com o mesmo alcance, é claro”.
“Considerado como exemplar da poesia da década de 70, Leminski conseguiu unir, com muito talento e competência, erudição e cultura pop. Isso permitiu o alcance da poesia experimental da segunda metade do século XX para um público muito mais amplo”, explicou Sérgio Cohn.
Fabiano Calixto acrescenta que, “O poeta curitibano foi central para a poesia brasileira contemporânea porque, de muitas maneiras, trouxe a poesia para a rua. Sua poesia tinha marcas fortes, uma dicção muito própria. Deixou para nós, leitores apaixonados por poesia, alguns dos poemas mais incríveis do nosso tempo”, disse. E observa que diversos fatores contribuíram para esse sucesso. “Primeiro que a poesia de Leminski é um acontecimento e desperta imenso interesse. Seus livros estavam fora de catálogo há muito tempo – inclusive chegando a preços obscenos em sebos. Junte-se isso a uma grande campanha promocional de uma grande editora e, ainda, o preço do livro (bem em conta), e pronto: temos um sucesso editorial”, refletiu. “Acho muito bom que a nova geração possa ter contato com a poesia do Leminski”, completou.
Ao serem indagados sobre a ligação do poeta bigodudo com a juventude e o constante aparecimento de grafites e “pichações” com poemas dele, ambos concordam com o impacto de sua poesia. “Basta observar as manifestações de junho: nenhuma música foi entoada como hino (como era nos anos 1960-70), mas, sim, a poesia do Leminski. Acredito que o grande motivo disso é que hoje as pessoas pensam também em atuar nas redes sociais, que são muito mais visuais que sonoras, e o Leminski é perfeito para elas, com versos que servem como perfeitos slogans”, observou Cohn.
“Todo grande autor vai despertar essa vibração positiva de curtir o texto como parte integrante e essencial da vida. Uma universidade desconhecida”, concluiu Fabiano Calixto.
Para ilustrar o fenômeno pop que Leminski se tornou, reunimos uma galeria de fotos que mostram grafites, pichações e outras expressões artísticas em homenagem ao poeta. Clique nas imagens do alto da página e veja.